DAN SMITH - OS ÚLTIMOS MESES DO ANO DE 2002.
Depois que ela "voltou" nós começamos a se falar de novo normalmente, ela aparecia de vez enquanto na loja e nos encontrávamos no parque as vezes. As lágrimas e sumiço longo foram esquecidos em um passe de mágica. Não estávamos namorando "oficialmente", apenas alguns beijos aqui e ali, eu não sabia como fazer um pedido de namoro então deixei tudo rolar normalmente.
Era incrível estar com ela, eu me sentia vivo, uma nostalgia que não dava para descrever. Muitos anos depois eu só voltaria a me sentir assim quando estava no palco.
- Você poderia ser uma escritora - eu digo enquanto sou arrastado por ela entre as barracas desse sebo de livros estranho que ela me fez vir - poderia inventar universos só seus é compartilhar com o resto do mundo.
Nós nunca tínhamos conversas sobre o futuro, as vezes eu achava que ela ficava tempo demais perdida no seu próprio mundo e que quando tivesse que voltar a realidade poderia se machucar muito.
- Que tal esse? Ela ergueu um livro grande de capa vermelha escrito "Cem anos de solidão" ignorando o que eu havia dito.
- Poderia ir para Leeds comigo. - Eu insisto, o primeiro ano do ensino médio já estava chegando ao fim e eu já havia começado a pensar sobre a faculdade.
- Você não se irrita com essa coisa de ser obrigado a entrar num potinho e passar o resto da sua vida preso nele?
Eu sabia que ela odiava essas conversas, quando algo a chateava ela começava a falar em "códigos" algo que as vezes nem eu entendia, tipo essa última frase, por isso evitava esse tipo de assunto.
- Todo mundo tem um propósito na vida, não se pode viver atoa e bem se você gosta qual é o problema de fazer isso para sempre?
Ela me ignorou totalmente e parou de falar como sempre fazia quando não queria explicar algo.
- Eu sinto muito - Eu digo baixinho enquanto tomamos sorvete em baixo dessa árvore no parque - não queria te chatear com a conversa da faculdade.
Ela me olha daquele jeito estranho como se estivesse viajando em um outro mundo e me beija devagar deixando o sorvete cair de lado, nos rimos e eu seguro o seu rosto entre as minhas mãos, os lábios vermelhos e os fios de cabelos quase brancos caídos pelo rosto a fazem parecer um anjo, então eu digo sem pensar:
- Você quer namorar comigo?
- Sim? Ela diz ainda parecendo distante.
Então nós nos beijamos de novo e de novo até os lábios ficarem dormentes e o mundo ficar desfocado. Eu sentia vontade de dançar, embora não soubesse fazê-lo, eu queria gritar para todo mundo que eu tinha uma namorada e ela era a garota mais incrível de todas.DAN SMITH - ATUALMENTE
Durante toda a minha vida eu só tive "oficialmente" duas namoradas, uma que sumiu do nada e a outra que terminou comigo após ver Kate sentada no meu colo em uma festa na faculdade, por coincidência ela também se chamava Katherine.
A Katherine namorada era meio maluquinha, ela gostava de festas e de me exibir pela faculdade, coisas de garotas. Eu nunca entendi como começamos a namorar, mas o fim foi bem desastroso, numa festa na frente de todos os meus amigos com gritos e lágrimas.
Ela estava completamente bêbada e enlouqueceu quando viu Kate sentada no meu colo e num segundo as duas estavam no chão com a Katherine por cima de Kate tentando esbofetea-la. Quando finalmente nós conseguimos separá-las ela gritou pedindo pra eu escolher entre elas, eu olhei para minha amiga sendo segurada por Ralph e não pensei duas vezes. Depois disso eu vi a Katherine poucas vezes, e ela sempre me evitava.
Sempre achei que isso havia acontecido por carma, eu nunca havia terminado com "Molly"e aquilo tudo havia sido um castigo por ter arranjado outra, desde então nunca mais namorei ninguém. Nem quero, pelo menos até tirar essa história a limpo.
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A Garota Do Casaco Vermelho
AcakEu ainda posso vê-la mexer nos discos rapidamente enquanto cantarolava uma música baixinho. Era ela uma pessoa muito frágil eu acho. Eu nunca realmente soube quem era ela. Ou talvez eu a conhecesse melhor do que todos, mas não o suficiente pra fazê...