Uma Estranha Conhecida e o Sumiço Repentino

42 4 2
                                    

DAN SMITH – DEZEMBRO DE 2001.

O corredor se enche de crianças, elas jogam papéis e falam auto sobre os planos para o feriado. Tento atravessa-lo o mais rápido possível.

Como sempre vamos ter duas semanas de folga para o feriado de natal e ano novo, algumas pessoas viajam, outras ficam em casa e morrem de tédio (meu caso) e tem os garotos populares que bebem nos porões da casa de um cara do ensino médio (esse é o caso do Woody, meu melhor e único amigo).

Finalmente chego à saída sem grandes danos, eu vou pra casa a pé (porque não é longe e estou velho demais para ônibus) então eu a vejo. A garota de ontem à noite, ela está caminhando pela calçada, parece esperar alguém. Uma enxurrada de adolescentes me atinge antes que eu possa correr em direção a ela, sinto uma tapa na nuca e um garoto alto, ele olha pra mim e diz ''Bom feriado Baleia Smith'' e dá um tchauzinho. ''Baleia Smith'' é o meu apelido oficial, olho na direção da calçada procurando aquela figura mas ela sumiu, alguém deve ter a buscado de carro.

O feriado passou e a garota não apareceu mais na loja, eu realmente estava curioso sobre ela, até porque eu não era muito atraente naquela época, então encontrar uma garota que aceitasse tomar um chocolate quente comigo era algo que merecia atenção.

DAN SMITH – ATUALMENTE.

''Baleia Smith'', por mais incrível que pareça a menção a esse apelido me faz rir. Eu nunca realmente me senti ofendido, afinal eu era uma bola rosa e nerd e não tinha o menor problema com isso, aliás, ainda não tenho. O ensino médio e os seus 20 cm me ajudaram com o peso, e também talvez meus pais tiverem voltado a ser marido e mulher e também ela, é claro.

A história por trás do ''Baleia Smith'' é que quando eu tinha 10 anos meus pais se divorciaram, ele foi viver com uma mulher mais jovem e mais bonita que a minha mãe e isso não me causou depressão ou ansiedade, ela era uma pessoa muito legal e também linda, foi o que veio depois. Após eles irem morar juntos ela engravidou e morreu nove meses depois no parto de uma linda menininha chamada Sophie, ele ficou arrasado (eu no lugar dele também ficaria), com um bebe pequeno e ''viúvo'' ele ficou totalmente louco e minha mãe com pena resolveu ajudar, ele veio morar conosco com um bebê que era a cara da causa do divorcio deles e uma depressão profunda, eles lidaram bem com isso, eu não.

Então eu me transformei em um garoto fechado que passava a maior parte do tempo assistindo seriados e comendo besteira e é claro que isso resultou no ''Baleia Smith''.

Meus pais tentaram me levar em um psicólogo e coisas do gênero, não conseguiram. A única pessoa com quem eu conseguir falar sobre isso foi ela, ela esse tipo de pessoa, para quem você pode contar de tudo e de quem não se sabe absolutamente nada. Uma verdadeira estranha e ao mesmo tempo tão intima.

Naquela época eu não imaginava mais sumiços repentinos como o daquele natal se tornariam normais, até que o último deles duraria mais de 10 anos. Eu me pergunto se com todo o sucesso da banda ela não tenha querido me procurar, saber de mim, me pergunto se ela pensou que talvez eu achasse que ela estava sendo interesseira. Não, eu nunca pensaria nela dessa forma, afinal ela foi garota que gostou de mim quando eu era um gordo estranho, que me fez apaixonar por literatura, que ouviu a minha primeira música, a música dela, a música que eu fiz de presente de aniversário para ela.

A Garota Do Casaco VermelhoOnde histórias criam vida. Descubra agora