O detetive e uma situação muito estranha.

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DAN SMITH - JULHO DE 2002.

Depois que nos beijamos no balanço aquela tarde eu nunca mais a vi. Fazem cinco meses agora, e ontem foi o meu aniversário.

Algumas coisas mudaram desde então, o ensino médio chegou, e apesar de eu achar que iria ser um pesadelo acabou que ficou tudo bem. Ao contrário do ensino fundamental eu não era mais o saco de pancadas da escola, acho que foi porque Woody era amigo dos garotos mais velhos, ele era "descolado", e como eu andava com ele ninguém mexia comigo.

E agora também estávamos formando uma banda, minha mãe não gostou nada da ideia, mas o meu pai aprovou e até cedeu uma parte da garagem para a gente ensaiar.

Eu vou tocar teclado, Woody bateria e o amigo dele Will do terceiro ano vai tocar guitarra. Por enquanto Kate vai ficar nos vocais, finalmente ela voltou para minha escola, depois de ter passado o ensino fundamental inteiro em outra porque nossos pais achavam que andávamos juntos demais e isso nos impedia de fazer novos amigos.

Sophie havia começado a ir para escola e agora tinha que usar óculos com lentes grossas.

- Alguém esteve aqui atrás de você ontem. - Dicky diz pra mim enquanto penduro meu casaco na porta dos fundos.

- Quem? - digo sem muito interesse.

- Aquela garota, a do casaco vermelho. Eu disse à ela que era seu aniversário e por isso não viria, então ela disse que voltava hoje. Ela estava estranha.

- Ela É ESTRANHA. - Eu digo com um pouco de raiva.

Não vou negar que fiquei com raiva dela, e talvez ainda possa estar. Afinal que tipo de doida era ela, entrou na minha vida de uma hora pra outra, me fez gostar dela e depois sumiu, e nem se quer o nome me disse.

Mas ela ia ver só, se acha que eu ia ficar todo normal como se nada tivesse acontecido ela errou feio.

Fiquei contando os minutos como se fossem horas, eu queria jogar umas poucas e boas na cara dela, foi então que uma figura conhecida entrou. Mas ela estava diferente, não de uma maneira boa, só estranha como Dicky disse.

Os cabelos estavam realmente maiores e ela bem mais alta, as bochechas levemente mais largas e coradas e os olhos fundos. Eu me assustei.

Ela disse um oi quase sussurrando e retribui com desdém.

- Precisa de algo?

- Eu queria falar com você.

- Já está falando - Eu disse contornando o balcão com uma pilha de vinis indo em direção as prateleiras.

Dicky tossiu forçadamente e eu o ignorei também. Ela estava tendo o que merecia.

- Eu pensei que pudéssemos sair um pouco - Ela olhou sem jeito, dando um leve sorriso - Ontem foi o seu aniversário certo?

- É, foi - Eu digo arrumando os discos na prateleira - Desculpe não posso sair agora, tenho que trabalhar.

Ela ficou me observando por alguns minutos e depois disse.

- Tudo bem, tchau.

Virou as costas e foi embora. Eu não queria realmente brigar com ela, mas acho que aquilo foi o suficiente para fazê-la entender o quanto tinha me magoado.

Mesmo assim fiquei me perguntando se ela voltaria, e para minha surpresa quando saí ela estava lá fora sentada em um banco de cimento com os braços ao redor dos joelhos e a cabeça enfiada entre as pernas.

- Ei, não é uma boa ideia dormir aí sabia?

Ela levantou a cabeça devagar e sorriu torto.

- Eu estava esperando você sair, podemos conversar agora?

Eu já não estava com tanta raiva assim, e confesso que fiquei com certo medo de ela não aparecer mais, então não custava nada.

- Tudo bem. - Eu disse tentando não mostrar tanto interesse.

- Podemos ir ao parque?

- Ok.

A caminhada foi silenciosa, na verdade não houve conversa alguma, quando chegamos ao parque ela apenas deitou na grama, e eu deitei ao lado dela em silêncio.

Depois de longos minutos sem nenhum dizer qualquer coisa ela segurou minha mão e depois começou a soluçar. Olhei para ela e as lágrimas escorriam livremente pelo rosto.

- Desculpe. Foi tudo o que eu ouvi antes de vê-la se levantar e sair correndo dali.

Eram quase onze horas da noite, eu olhei ao redor na rua e não consegui encontrar qualquer vestígio dela. Mas o que me deixou mais aflito foi vê-la chorar daquela maneira, e principalmente pensar que foi minha culpa.

Então eu caminhei para o ponto de ônibus. Minha mãe já devia ter chamado à polícia há essa hora.

DAN SMITH - ATUALMENTE

A fachada verde limão com um letreiro bem chamativo escrito "Detetive particular Edward Collins" me faz duvidar seriamente da competência desse cara, me sinto num filme de Sherlock Holmes, só que com uma história boba e um detetive de araque. Achei esse cara na Internet no meio de tantos outros, ele tinha uma boa avaliação por tanto não custava nada tentar.

Agora de perto parece uma ideia idiota, maldito Dicky. Começo a ver que não tenho exatamente nada de relevante pra dizer para o cara, não tenho nenhuma dica e não acho que seja tão fácil achar alguém pela descrição de "Garota loira, bonita e sempre usando um casaco vermelho" mas eu já estou aqui e não posso voltar atrás.

A Garota Do Casaco VermelhoOnde histórias criam vida. Descubra agora