A carona, o Chocolate Quente e Monsieur LeBlanc.

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DAN SMITH – DEZEMBRO DE 2001.

Duas horas se passaram e a chuva prosseguia forte, a garota continuava lá, agora estava sentada num banquinho giratório parecendo muito entediada.

- Você quer uma carona? - Disse a ela mostrando o guarda chuva.
- Pode ser. Você vai para que lado? - Ela disse rapidamente tirando o capuz que havia mantido desde que entrou na loja. Então pude ver seu rosto, meu Deus ela é linda! Os cabelos parecem neve de tão brancos e o rosto pálido e magro me faz lembrar aquelas ninfas de contos de magia.
- Posso te deixar onde você quiser - disse olhando para o chão. Jesus eu não poderia encara-la!

Caminhamos por um tempo embaixo da chuva, ela não disse uma palavra.

- Então, você é nova aqui não é?
- Leeds, nós viemos de Leeds. E você?
- Sou daqui mesmo, desde sempre a propósito, sou Daniel. - Estendi a mão pra ela nervosamente, dá pra entender porque não tenho muitos amigos.
- LeBlanc, monsieur LeBlanc. Prazer.
- É Smith na verdade, então você fala francês? - Minha mãe é professora. - Então, qual é mesmo o seu nome? - Marie-Laure LeBlanc. - Ela disse em um sotaque francês perfeito. - Você mente muito mal, e quem são os LeBlanc? - Uma família francesa da segunda guerra mundial. - Uh... Legal. Quer tomar um chocolate quente? - Perguntei quando percebi que estávamos passando em frente ao Monet's, um café de faixada cor de rosa bastante frequentado pelo pessoal da escola.

Era estranha a maneira como eu me sentia confortável com ela, e tão rápido. Ela mal tomou no chocolate quente, mas contou histórias maravilhosas sobre o tal dos LeBlanc's, eu posso jurar que ela havia inventado tudo na hora. E então levantou e com um leve aceno sussurrou tchau e foi embora. Nada de nome, telefone.

DAM SMITH - ATUALMENTE.

O Monet's continuava lá, a mesma fachada rosa desbotada, encosto o rosto na janela e observo dentro, os banquinhos do balcão mudaram de cor, mas as mesas e sofás continuam os mesmo, talvez o tecido tenha mudado, mas as cores são as mesmas. Um marrom amarelado muito estranho.

Entro e escolho a mesma mesa que sentei com ela naquele dia, o lugar está meio vazio, não deve fazer mais tanto sucesso quanto antes. Os adolescentes perderam a capacidade de se divertir sem um celular aparentemente.

Uma garota se aproxima e vira para mim entediada enquanto ergue o bloquinho de pedidos.

- Então o que vai querer? - Ela me diz me fazendo olhá-la.

- Um chocolate quente, por favor. - Eu te conheço! - Ela diz surpresa - Você é o Dan Smith! Meu Deus tira uma foto comigo, por favor.

Ela me olhava com uma expressão engraçada. Isso acontecia vinha acontecendo com frequência, depois que o Bastille estourou.

Bastille era a minha banda, era formada por mim, Kyle (meu melhor amigo) Woody, meu louco favorito e Will o maior namorador que eu conheci na vida. Basicamente eu comecei a tocar sozinho, mas então eu achei que era chato demais e convidei o Woody, e depois Kyle e Will e então do nada nossas músicas começaram a tocar e a pereceram shows e mais shows, agora nós viajávamos pelo mundo e bebíamos mais de 50 tipos de cerveja diferentes.

- Sim, claro. - Digo divertido.

E então ela se vai toda feliz encarado o telefone saltitando.

Volto a encarar o sofá vazio a minha frente, lembro-me da figura sentada a minha frente há 14 anos. O casaco encharcado sobre a mesa, as mãos pálidas com pequenos pontos vermelhos do frio nos dedos. A pele pálida e as bochechas rosadas esqueléticas, quanto será que ela pesava? Engraçado me perguntar isso agora, pois na época eu não conseguia notar nada disso.

- Aqui está mais alguma coisa? - A garota vira pra mim agora sorridente. - Não obrigado.

Encaro o copo a minha frente, a fragrância adocicada que sai daquela mistura marrom preenche minhas narinas, ela mal tocou no chocolate quente dela naquele dia.

Monsieur LeBlanc, monsieur LeBlanc, monsieur LeBlanc. A expressão martela na minha cabeça pesadamente, ela me chamou assim o tempo todo. Os lábios rosados e trémulos do frio pronunciavam:

"E então monsieur LeBlanc, qual o seu livro favorito? Porque estava naquela loja em vez de beber até cair como o resto dos garotos da sua idade?"

Coloco o dinheiro sobre a mesa, tomo o copo de papel quente com a mão e saiu, não posso ficar mais ali. Aquela lembrança me destroça.

Caminho rua a fora tentado desviar dos pensamentos, uma rajada de vento bate congelado os meus lábios. Tomo um gole da bebida quente, o sabor doce e o calor me deixam relaxado.

E então os pensamentos voltam, ela deu uns cinco pequenos goles naquela bebida, os dedos eram magros e ela parecia tão frágil fisicamente, agora percebo que psicologicamente também.

Meu Deus! Que diabos havia de errado com aquela garota? Porque não pude encontra-la? O que houve com ela? Porque eu continuo me lembrando dela depois de tantos anos?!

A Garota Do Casaco VermelhoOnde histórias criam vida. Descubra agora