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  Antes de sairmos da sala, me lembrei da blusa e pude ver o rei todo estraçalhado no chão. Coloquei-a e fomos direto a cozinha, aquele garoto de olhos achocolatados havia me falado que ficou com fome, afinal, qual era o seu nome.
-Qual seu nome? Falei já sentada enquanto ele pegava algo na geladeira.
-Daniel. Ele se vira para mim com uma garrafa de vinho na mão, e fecha a porta da geladeira com o pé esquerdo.
-E o seu, qual é? Ele pergunta vindo em direção a mesa.
-Gabryelly, mas prefiro que me chamem de Gabby. Falei e ele pegava um copo.
-Pensei que toda Gabby, fosse morena. Ele fica com um sorriso fofo e malicioso, enquanto senta em uma cadeira e enche o copo.
-Pensei que todo Daniel fosse loiro de olhos azuis. Falei meia irritada.
-Mas eu não sou loiro de olhos azuis, sou moreno de olhos marrons...
-Achocolatados, corrigindo. O entenrrompi corrigindo a cor dos seus olhos.
-Vamos mudar de assunto?Falei me levantando.
-Vamos. Ele se levanta.
-Vamos sair desse lugar? Ele fala não muito querendo ser contrariado.
-Vamos então. Falei meia que já saindo dali.
-Espera. Ele meio que gritou. Me virei para trás, ele estava colocando o copo que antes estava cheio, na pia e depois vindo em minha direção.
.....
-Vai demorar mais? Falei já cansada de tanto andar, aliás, o sol estava para nascer, aquelas manchas de laranja invadindo bem devagar o céu preto.
-Não, estamos quase lá. Ele fala meio que correndo por uma espécie de trilha. Ele foi tão rápido que meio me perdi dele. (Para falar a verdade, eu fiquei olhando para o céu que, no momento estava mais que deslumbrante, estava tão lindo.).
-MEU DEUS, NÃO ACREDITO NISSO. Ouvi ele gritar à poucos metros dali, sai disparada, não conseguia segurar minha respiração mais que ofegante, meu coração estava prestes a sair pela boca. Esses metros pareciam nunca acabar, até vi Daniel se abraçando com umas meninas em uma... vila?
  Fiquei mais que surpresa por ver uma vila no meio da floresta, que por incrível que pareça, era organizada. As casas eram simples, algumas de palha, outras de madeira, algumas continham canteiros de flor na frente, atrás e dos lados da casa, essa eram as de madeira. As de palha não continham plantas em volta da casa, mas tinham nas janelas, ou nos telhados. A rua era de pedra que, poderia sair descalça, e não pareciam machucar, pude perceber que elas estavam polidas, brilhando e com suas pontas curvadas. Aquela vila era demais, queria poder morar numa vila daquela, pude sentir muita paz e amor rondando no ar. Fui desperta daquela magnífica sensação que estava sentindo de que já havia ido ali, por um garoto nada legal, mas fofo, chamado Daniel.
  Fingi não ligar e continue vendo aquela maravilhosa vila, não adiantou muito, Daniel continuou me chamando, agora também chamando a atenção de todos a volta. Desisto de ficar fingindo e vou até ele, o mesmo, estava com uma cara nada legal.
-Vamos descansar um pouco. Ele fala um pouco bravo, me assusto com tal fala e sem querer contrária-lo, logo balancei a cabeça assentando, ele caminhou bravo para frente.
  Passamos por várias casas, todas haviam pessoas nos encarando, talvez pelo fato que eu estava descabelada, minha roupa rasgada na parte da barriga que, por mim, não estava nada legal. Ou então, pelo fato da cara de Daniel, aliás, queria muito ver sua cara, como ele estava se expressando, queria ver se seus olhos achocolatados estavam vermelhos agora ou se havia plantado algum tipo de orelha na sua cabeça, logo me lembrei da minha família e a saudade que eu estava dela, algumas lágrimas insistiam em sair, mas, eu segurei bem fundo. Acho que estava tão distraída que nem vi o Daniel parar e eu acabar por esbarrar nas suas costas, que por sinal, estava fervendo.
-Vamos ficar aqui, ok? Ele fala e vira ainda meio que bravo, assenti com a cabeça baixa quase que chorando. Ele ergue a minha cabeça com o polegar e o dedo indicador.
-Você está chorando? Ele fala mais calmo, logo me afastei, virei e enxuguei as lágrimas que quase foram desperdiçadas por algo profundo. Respiro bem fundo e me viro novamente com um sorriso falso no rosto.
-Não precisa se preocupar comigo. Falei completando aquela frase em pensamento "Afinal, ninguém se preocupa mesmo, e se preocupar, acaba igual minha família, sequestrada".
-Tabom, finjo que acredito. Ele se vira, abre uma porta de madeira, de uma casa de madeira. Ele faz um sinal para eu entrar. Logo entro e agradeço. Ele apresenta seu pai que estava sentado na mesa, fumando um charuto, me senti meia desconfortável assim que olhei para ele, o famoso pai do Daniel. Comentei com Daniel que estava cansada, que logo me compreendeu e me mostrou um quarto, me explica que contém roupas femininas naquele guarda-roupa e que eu poderia ficar ali. Agradeço novamente me sentando na cama que, apesar de ser de madeira, parecia ser bem macia, ele sai deixando a porta aberta, como se confiasse em mim para ouvir sua conversa com seu pai na entrada. Berros, apenas se ouvi isso, da voz dele e do seu pai. Eu, literalmente cansada, resolvo tomar um banho, então vou até o guarda-roupa que era de madeira e pego um macacão preto de moletom e uma blusa branca por baixo. Entro no banheiro que, não continha porta, tiro a roupa e abro o chuveiro, coisas dos últimos segundos atrás, vieram em minha cabeça como num passe de mágica, não precisei de nenhuma decepção para me lembrar também da minha família. Saudades do meu irmão, do meu pai e da minha  mãe, me sentei no box, abracei minhas pernas e comecei a chorar, me lembrando dessas coisas. Minutos para mim, pareciam horas, lágrimas não pararam de sair daquelas janelas escuras, decepção e culpa não paravam de me rodear, estava entrando numa escuridão que não acabava mais.
  Vontade de me matar, cortar meus pulsos e decepções de amor vieram daquela escuridão, como se matar e cortar fosse minha única saída, como se aquilo fosse meu único desejo. Um peso caiu sobre mim, levantei minha cabeça que antes, estava deitada no joelho, e me levantei, fechei a torneira do chuveiro, me enxuguei e coloquei a roupa que havia escolhido. Me olhei num espelho pequeno que estava pendurado na parede do banheiro e não me vi como sou, e sim, um monstro com garras e presas, orelhas e magia correndo em minhas veias, aquela que apartir de agora, vai me guiar pelo caminho que ela escolher para mim, eu vi uma menina fria e séria e que, não vai querer ser mandada, ela é que vai mandar. Eu vi.... A VERDADEIRA GABRYELLY SALONS. 

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