Chorando e desesperada, acabei me esbarrando em Tita que, ao perceber o meu estado, me perguntou preocupada:
-O que está acontecendo aqui? Clara, por que você está chorando?
Não respondi e continuei fugindo daquele pesadelo. Corria sem rumo quando senti uma mão agarrando meu braço e me puxando, me fazendo virar.
-Não é o que você está pensando, me deixa explicar. - disse Ayla ofegante.
-Eu vi, Ayla! Eu não sou idiota e muito menos cega! - respondi. As lágrimas escorriam pelo meu rosto cada vez mais.
-Mas você entendeu tudo errado! - disse, enquanto segurava com as duas mãos o meu rosto. -Me ouve! Eu não fiz nada! Dormi no sofá... - interrompi, tirando à força suas mãos de meu rosto.
-Ela estava com a sua blusa! No seu quarto!
-Vamos sair daqui e conversar. - disse Ayla, me puxando para dentro do carro.
-Não tem o que conversar! - respondi, batendo com toda a força a porta do carro.
-Mas eu tenho algo sim pra te falar e você vai ter que me ouvir. - disse Ayla, enquanto ligava o carro, sem me dizer aonde iríamos.
Ao chegarmos no local, fiquei mais irritada ainda.
-Por que paramos em frente ao shopping?
-Espera aqui. -ordenou Ayla.
Não deu tempo de argumentar nada. Ela simplesmente foi saindo do carro. Enquanto eu esperava, fui planejando meu discurso e preparando o meu coração para a verdade. Eu sabia que tinha acontecido algo. Eu iria perdê-la. Não era possível. Estávamos tão bem. Tão íntimas. Isso não poderia estar acontecendo. Estava distraída e com a cara mais emburrada do mundo quando vi Ayla retornando.
-O que você foi fazer? Eu poderia ter quebrado a janela do carro, fugido e ainda gritado pela polícia! -disse, enquanto Ayla ria.
-Por que você está rindo? Pára de rir de mim!
-Você não é louca, Clara. Embora esteja parecendo agora.
Revirei os olhos e fiquei olhando pela janela. Ela tentou me convencer de que a quenga estava bêbada e que ninguém estava ajudando-a. Por isso a levou para o apartamento. Olhei para ela com cara feia e perguntei:
-Por que ela estava com a sua roupa e na sua cama?
-Ela foi pro banho de roupa e tudo. Eu que tirei antes que encharcasse e ela não teria como ir embora mais tarde.
A fitei com os olhos incrédulos e flamejantes de raiva.
-COMO É? Que ótimo, você a viu pelada! - gritei. Ayla riu.
-Clara, não tem nada entre eu e ela. E mesmo se ela desse mole, nem notaria. - me explicou. Virei o rosto.
-Fiz uma coisa pra você. -disse ela, mas eu me negava à olhar para a cara dela. -Olha pra mim, Clara!
Olhei assustada para ela. Nunca tinha presenciado ela gritar com alguém. Principalmente comigo.
-Eu disse que não estava satisfeita fazendo você ir na minha casa, dormirmos juntas e te deixar tarde, ou até mesmo no outro dia, em sua casa. Seus pais devem querer me matar!
Eu estava com a boca aberta, e sem saber o que dizer. Ela estava arrependida em ter me conhecido? Será que ela desistiria de mim? Se ela disser que será pro meu próprio bem... eu dou um soco no rosto dela. Juro.
-Olha para o banco de trás! -ordenou ela.
Quando olhei, nem acreditei. Havia uma rosa e uma caixinha. Eu não sabia o que fazer. Não sabia se gritava, se batia nela, se chorava. Minha cabeça girava. Meu coração batia tão forte que parecia querer sair. Ela então fez o tão esperado pedido:
-Quer namorar comigo?
A olhei, sorrindo e com os olhos cheios d'água. Minha voz não saía. Balancei a cabeça, tentando voltar ao normal.
-Sim!
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789,86 km de distância
RomansaMinas. Bahia. Dois estados distintos. Um amor em comum.