Capítulo 6.

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- Presta atenção nisso. – a intenção era me sentar na cadeira do refeitório, mas praticamente me joguei nela. – “O tema da peça desse ano será um romance entre dois inimigos, que se apaixonam com o tempo em um acampamento”. – fiz uma careta.

- E o seu parceiro é o Harry. – Louis só faltou gritar.

- Pois é. – virei os olhos.

Louis sentia falta de Harry, dava pra ver no rosto dele sempre que eu mencionava aquele nome. A única coisa que eu sabia é que eles já foram muito amigos, desses bem próximos mesmo e não consigo acreditar que perderam todo o contato só por causa de uma garota que os dois eram afim e Harry acabou ficando. Ele não me contaria sobre isso tão cedo, e eu também não perguntaria logo de cara, mas queria mesmo saber o que de fato aconteceu.

- Vocês vão fazer o teste pra serem tipo o casal principal?

- Nem pensar. – aquilo era um fato.

Gostava de ser a personagem principal nas peças de teatro da outra escola, mas isso não era algo que eu gostaria agora. Nós podíamos ser, sei lá, as árvores. Ser uma árvore na peça da escola era uma grande responsabilidade e um jeito de aparecer em todas as cenas, porque não da pra simplesmente tirar uma árvore de um lugar e depois colocá-la de novo sem que ela sofra algum tipo de alteração, e todos os grandes atores já foram uma árvore pelo menos uma vez na vida, ou a maioria deles. Taí, nós poderíamos ser árvores. Harry era bem alto, daria uma boa árvore.

- Você ficou sabendo do luau que vai ter sexta, na praia?

- Essa sexta? Ninguém me disse nada. – e eu nem esperava, afinal eu era uma novata. Não era como se as pessoas fossem me contar o que fariam na sexta à noite.

- Vou dar uma passada lá, vem comigo.

- Eu nunca fui em um luau, sabia? – a cara dele ao ouvir aquilo foi uma das coisas mais engraçadas do mundo.

- Então está decidido, você vem sim comigo.

Fiz que sim com a cabeça, nem me preocupando em pedir autorização pros meus pais antes de confirmar porque, conhecendo a mãe que eu tinha, já até podia imaginar a reação dela e seria algo como: começar a sorrir feito uma louca, largar o que estava fazendo e me levar pra comprar roupas na mesma hora, passar todo o caminho de ida me contando sobre os luaus que já foi e perguntar se haveriam muitos garotos bonitinhos lá. E quando eu contasse que Louis me convidou, ela provavelmente começaria a pensar que ele gostava de mim. Essa é a minha mãe. Meu pai provavelmente ia ficar preocupado, mas acabaria me deixando ir.

Anne’s Flashback on:

- A ideia da peça é mostrar como duas pessoas que se odiavam acabaram se apaixonando uma pela outra com o passar do tempo, coisa que acontece muito com vocês jovens.

- E o que o acampamento tem a ver com isso, dona Scarlatt? – um menino  perguntou do fundo da sala.

- Eles vão pra esse acampamento com a escola e é lá que finalmente admitem sentir algo um pelo outro. – afirmou. – Algo muito diferente do ódio que pensavam sentir. – sorriu.

Tive a impressão de aquele tema ter sido baseado em algum momento da vida dela ou algo que ela quisesse que tivesse feito parte da vida dela, tanto faz. Harry estava parado do meu lado, quieto, parecendo estar realmente prestando atenção em tudo que ela dizia. Às vezes ele fazia umas caras engraçadas do tipo “não to entendendo” ou “que porra é essa?”, outras ele apenas trocava a perna na qual estava apoiando todo seu peso. Ele estava todo concentrado; os olhos focando a dona Scarlatt, uma das mãos no queixo enquanto ele a ouvia falar, seu corpo completamente reto e alto num jeans preto e velho e uma camiseta branca.

- A gente podia fazer o teste. – levei um susto quando ele olhou pra mim e disse aquilo.

- O que? – ri, ele só podia estar brincando.

- Talvez seja legal, sei lá.

Ele estava sério, sem fazer alguma brincadeirinha ou algo do tipo, e reparei que aquela foi a primeira vez em que conversamos direito, mesmo que pouco e mesmo sendo apenas meu terceiro dia ali. Eu jamais imaginaria isso dele, mas Harry parecia gostar e realmente participar das aulas de teatro. Ele era um dos únicos que estava prestando atenção.

- Os casais que quiserem fazer o teste tem até amanhã pra me avisar. – e o sinal tocou assim que dona Scarlatt terminou de falar.

- Sério, a gente devia fazer. – fomos para o corredor.  – Assim você pode mostrar pra escola inteira que esse seu odiozinho de mim, na verdade é amor. – pois é, tava demorando.

- Claro, Styles. – dei um soco em seu braço. – Claro.

- Eu poderia chamar a diretora por causa desse soco, sabia? – me provocou.

- Eu sei que você não faria isso. – o desafiei.

- Não queira pagar pra ver, Bafleir. – deu uma risada curta que se transformou num sorriso.

E então a voz de Jeff me contando sobre Harry ter pedido pra que ele me livrasse da detenção veio em minha cabeça e eu quis agradecer e falar que aquilo tinha sido legal da parte dele, mas ao mesmo tempo eu queria dar outro soco em seu rosto, então acabei não fazendo nada.  Dei de ombros e o deixei ali, parado no meio do corredor e fui pra minha aula de inglês. Eu definitivamente não faria o teste pra ser a mocinha do casal principal da peça da escola, isso era um fato. Não, não e não.

Anne’s Flashback off.

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