Capítulo 1 - A Casa de Madeira

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A casa de campo dos avós de Jim era velha, mas grande e bonita. Principalmente para duas crianças de seis anos. A casa em si, para Lorena, parecia um palácio – apesar de ser velha e com a tinta azul descascando pelo tempo. Quando chovia, o teto sem forro fazia com que a água caísse em vários pontos da sala e da cozinha. Os quartos cheiravam um pouco a mofo, mas Lorena adorava aqueles guarda-roupas enormes e a varanda, onde gostava de ficar em uma das redes amarelas. O campo lá fora era tão grande que a menina se cansava de tanto correr. Apesar de se parecer com uma fazenda, não era uma.  O espaço depois do enorme campo era circundado por várias árvores; lugar onde o avô os proibia de chegar perto.

Jim era o melhor amigo de Lorena e tinha os melhores avós do mundo. A vovó Ayla fazia as melhores roscas do planeta – mas o que mais gostava mesmo é de pescar, mas Jim odiava comer peixe. O vovô Edgar, ao contrário de Ayla, gostava de tricotar. Lorena e Jim não entendiam porque os adultos achavam aquilo engraçado.

Um dia, os dois amigos estavam sentados na varanda. O garoto observava o campo.

- Queria poder entrar na floresta. – disse Jim.

- Eu também – confessou Lorena. – Mas podemos nos perder.

- Eu sei.

- Então por que quer entrar lá?

- Não sei. Qual é a graça do campo? Tem poucas árvores e não tem como me esconder! Vovô odeia quando a gente corre dentro de casa. – disse Jim.

Eles gostavam de brincar de esconde-esconde, mas Jim sempre acabava chateado por nunca encontrar Lorena. Para ele, ela ficava invisível, e, quando ele se escondia, a menina o achava como se ela tivesse olhos espalhados por toda a casa.

Lorena olhou para trás. O vovô Edgar estava dormindo em sua cadeira do outro lado da varanda. O cheiro de roscas enchia a casa de um aroma delicioso.

- Talvez a gente possa ir lá rapidinho. – disse a menina.

O amigo olhou para ela. Jim era um menino moreno com cabelos encaracolados – bem diferente de Lorena, que era branca, com cabelos escuros ondulados e olhos claros. Jim tinha olhos muito escuros, mas eram bonitos.

O menino balançou a cabeça, concordando. Queria fazer algo novo, como se já tivessem feito de tudo naquela casa enorme com um jardim gigante.

Lorena e Jim deram uma última olhada no avô antes de saírem em disparada, rindo. Estavam ansiosos por fazer algo que os mais velhos reprovavam. Apesar de Jim ser um bom garoto e de Lorena ser obediente, eles queriam mais diversão.

Quando subiram uma pequena colina e logo depois desceram correndo, como dois cães brincalhões, as poucas árvores que tinham desapareceram e a grama ficou mais seca. A frente deles, o conjunto de árvores se aproximava. Lorena não se lembra de ter corrido tanto. Geralmente, Ayla e Edgar não os deixavam passar daquela colina.

Quando finalmente pararam de frente à floresta, Jim sorriu.

- Dois passos para frente, OK?

- Que tal três? – desafiou Lorena.

- Quatro!

Então Jim deu dois grandes passos para dentro da floresta, e depois mais dois. Quando se deu conta de que estava cercado por árvores, correu de volta ao encontro de Lorena.

- Rá! Sua vez! – ele disse.

A menina sorriu e pulou.

- Um, dois, três, quatro. – ela contava. Lorena olhou para os lados, contemplando as árvores e o aroma diferente. Ali era tão bonito!

Ela voltou correndo e rindo. Fazer coisas proibidas podia ser perigoso, mas ao mesmo tempo era divertido. Eles se sentiam corajosos.

Quando corriam novamente a colina acima, com medo de o avô ter acordado ou a avó ter desconfiado de algo, Lorena parou e segurou o braço do amigo.

- Quem mora ali? – ela apontou para uma casa de madeira lá embaixo.

- Ali onde? – perguntou Jim.

- Aquela casa! – ela apontou mais uma vez.

Jim balançou a cabeça.

- Não tem casa nenhuma.

Lorena franziu as sobrancelhas. Sim, havia uma casa. Parecia ser ainda mais velha que a casa dos avós de Jim, mas era bem menor.

A menina o empurrou para frente.

- Está ali no meio do nada. Aquela marrom. Não está vendo?

Jim ficou sério e estreitou os olhos. Depois encarou a menina e começou a rir.

- Ah! Você é tão engraçada! Não vai conseguir me pegar.

- O quê?!

- Está querendo pregar uma peça em mim.

Lorena balançou a cabeça mais uma vez.

- Não, não. Estou falando sério! Tem uma casa ali!

Para Jim, Lorena parecia séria demais para estar mentindo. Mas conhecia a amiga e sabia que ela era uma ótima atriz. Não havia casa alguma lá embaixo.

O menino riu mais uma vez e puxou o braço de Lorena.

- Vamos voltar para comer as roscas da vovó.

Lorena ficou calada enquanto voltavam para a casa. Jim parecia ter se esquecido do episódio da casa e se empolgado por conseguir dar quatro passos para dentro da floresta. Mas a menina não estava nada feliz. Será que ele estava pregando uma peça nela? Jim adorava dizer que viu coisas só para deixar Lorena curiosa. Ela odiava ficar curiosa, e o amigo parecia achar graça disso.

Quando voltaram, os avós de Jim não desconfiaram da pequena façanha das duas crianças.

A vovó Ayla tinha acabado de tirar as roscas do forno. Assim como Jim, ela tinha a pele mais amorenada – como as gotas de chocolate das rosquinhas.

Eles comeram na enorme sala, sentados do tapete.

- Você é uma menina muito bonita, Lorena! – disse Ayla. – Queria ter olhos como os seus.

Lorena olhou para os olhos da velha. Eram como os olhos de Jim: Escuros e gentis.

- Os seus olhos também são muito bonitos, senhora Ayla.

Ayla sorriu e acariciou o queixo da menina.

- Nada de ''senhora Ayla''. Me chame de vovó. – disse ela. – E você, Jimmy? Não acha Lorena bonita?

Jim quase se engasgou com a rosquinha.

- Por que eu acharia isso? – perguntou ele. – Ela é só minha amiga!

Ayla riu.

- Sei disso, querido.

Depois de comerem, as crianças aproveitaram o jardim enquanto não chovia. O céu, naquela tarde, se encheu de nuvens cinzentas e pesadas. Enquanto os dois brincavam de chutar a bola um para o outro, Lorena olhou para a colina e as nuvens cinzentas. Edgar e Ayla haviam dito para entrar antes que começasse a chover.

Mas, antes disso, a menina precisava ver uma coisa.

Quando a bola parou ao pé de Lorena, ela a chutou o mais forte que conseguiu. A bola passou pelo menino, e Jim correu atrás dela. Lorena aproveitou e correu para o lado oposto, em direção à colina. Jim voltaria mais rápido que ela - pois a colina era mais longe - mas ela não ligava.

Quando chegou ao alto da colina, ela olhou para onde antes tinha visto a velha casa.

Jim estava certo. Não havia nada.

Meu nome é LorenaOnde histórias criam vida. Descubra agora