A casa a qual Lorena agora se encontrava não se parecia nada com o lugar que as crianças-judias ficaram. Por um momento, tinha certeza de que estava na casa de Ella. Era feita de madeira e havia as mesmas duas portas – uma na frente da casa e a outra atrás. Era também a mesma mesa e o mesmo fogão a lenha. Mas no fundo do quarto havia mais camas e ainda mais livros nas prateleiras que ela se lembrava. Sobre a mesa, havia muitos potes feitos de barro. Dentro de eles, tinha um líquido verde – alguns mais claros outros mais escuros – que exalavam um cheiro forte e estranho, quase como o cheiro de um remédio.
Não havia ninguém na casa. Lorena percebeu, então, que havia entrado pela porta dos fundos, que estava fechada naquele momento. Ela não se lembra de ter fechado, mas a porta da frente – do outro lado da casa – estava aberta, e Lorena correu para alcançá-la.
Estava esperançosa em encontrar o campo e a colina que a levaria de volta à casa dos avós de Jim, mas não foi isso que viu. Estava no meio de um bosque, com enormes árvores de troncos grossos e folhas muito verdes. Várias pedras cinzentas - quase verdes por conta dos musgos – estavam espalhadas em volta dos troncos. Havia também pedras menores e mais redondas colocadas em frente ao jardim da casa até as escadas que levavam à varanda; como um caminho de pedras.
Lorena atravessou a varanda e seguiu pisando nas pedras. Então, à sua direita, ela viu quatro mulheres sentadas à margem de um pequeno lago. Todas usavam vestidos até os tornozelos. Três delas eram mais novas, mas a quarta era bem mais velha; mas não tão velha. Uma delas, uma mais jovem, tinha belos cabelos castanho-escuros, e era muito bonita aos olhos da menina. Esta foi a primeira a vê-la.
- Olha só – disse ela para as outras. – Que garotinha linda.
As outras se viraram para observar Lorena.
A primeira moça levantou-se e se afastou do lago. Lorena caminhava em passos hesitantes em sua direção. Quando a moça estava perto o suficiente, ela se agachou para ficar na altura da menina. Ela tinha olhos castanhos que, no fundo, lembrava Lorena alguém, mas não sabia quem.
A jovem mulher pegou nas mãos de Lorena. Suas mãos eram iguais: Brancas e de aparência delicada.
- Qual é o seu nome, querida? – ela perguntou.
- Lorena. – respondeu ela, tentando lembrar-se de quantas vezes já falara seu nome em um dia.
A moça sorriu.
- Pode me chamar de Ella. – disse ela.
- Ella? – perguntou a menina, confusa.
A moça assentiu.
- O que faz sozinha no bosque? – perguntou ela. – É perigoso!
Lorena deu de ombros. As outras mulheres se aproximaram, curiosas.
A mais velha delas perguntou:
- Está fugindo, menina?
- Eu...hã...- Lorena hesitou. – Acho que sim.
Ella sorriu.
- Todas nós estamos. – disse ela, levantando-se, mas não soltou uma das mãos de Lorena.
A menina franziu o cenho.
- Por quê? - perguntou.
Não foi a jovem Ella quem respondeu. Outra mulher, ruiva e com olhos muito azuis, disse:
- Caça às bruxas.
A mais velha lhe lançou um olhar de advertência.
- Por favor, Marie. Ela é só uma criança.
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Meu nome é Lorena
Fantasy🏆 Vencedor do Wattys 2017 na categoria Originais🏆 Uma porta, uma chave, uma missão. Lorena tem apenas seis anos e, ao brincar na casa dos avós de seu melhor amigo, Jimmy, ela vê uma casa de madeira- e o leitor parte para uma jornada de fantasia, m...