Capítulo 14 - A criança

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Lorena tomou um chá frio, pois Ella insistia que ainda tinha medo de fogo. A menina não se importou muito com isso – a bebida de Ella ficava boa de qualquer jeito.

Quando terminaram, elas foram rapidamente até a porta dos fundos. A menina ainda não entendia o sentido daquilo; mas, se Ella dizia que não podia passar pela porta da frente, Lorena não questionava.

Elas começaram colocando uma das chaves no meio, mas não deu certo.

- Não destranca! – Ella exclamou, decepcionada.

Lorena franziu as sobrancelhas e aproximou os olhos bem perto da fechadura. Abaixo da abertura, havia um pequeno desenho arredondado. Na fechadura de cima, uma nota musical.

A menina olhou para a chave que tentara colocar na fechadura com o desenho arredondado. Na parte inferior da chave, havia um desenho de uma rosa.

- Já sei! – Lorena disse, procurando rapidamente o desenho da flor em uma das fechaduras. – Os desenhos mostram que chave colocar em cada fechadura!

A velha sorriu, satisfeita.

- Menina inteligente! – ela exclamou. – Mas tenho um problema sério nos olhos. Não consigo enxergar figuras tão minúsculas.

Lorena então encaixou todas as chaves em suas fechaduras sozinha, pedindo ajuda à Ella na parte superior da porta. Quando tudo foi destrancado, Lorena colocou a mão na maçaneta e abriu lentamente.

Assim como havia imaginado, lá estava o mesmo bosque. Lorena olhou para trás e fitou Ella, que ainda não havia saído. Parecia assustada; mas, ao mesmo tempo, maravilhada.

A menina pulou os dois degraus e pisou na relva.

- Pode vir, Ella! – ela disse.

A velha então deu o primeiro passo para fora da casa e parou. Ela arregalou os olhos e olhou para as próprias mãos, perplexa, enquanto uma névoa esbranquiçada começou a envolvê-la. Apesar disso, Lorena conseguiu ver tudo. Os cabelos de Ella tornaram-se mais escuros e brilhantes. A pele enrugada do rosto e do restante do corpo ficou lisa e mais bronzeada. A velha Ella não era tão velha mais.

A moça observava o próprio corpo enquanto a névoa continuava envolvendo-a. Era a mesma Ella que a menina havia encontrado na casa de madeira com as outras moças. O colar que Lorena havia dado a ela ainda estava lá, pendurado em seu pescoço.

- Ella? – Lorena a encarou, um pouco confusa.

A Ella-moça sorriu.

- Conseguimos, Lorena. – ela disse, fechando os olhos. – Você quebrou minha maldição.

Alguns segundos após as palavras de Ella, algo assustador aconteceu: A moça foi coberta por chamas, como se uma fogueira invisível tivesse começado a pegar fogo; envolvendo-a completamente.

- Ella! – Lorena gritou, aterrorizada, enquanto as chamas subiam.

Tão depressa quanto havia surgido, o fogaréu desapareceu em um piscar de olhos. Ella não estava mais ali.

Lorena se aproximou devagar, observando a névoa se dissipar aos poucos. A menina então notou um pequeno embrulho sobre a relva e ouviu um chorinho de bebê. Ainda mais confusa, ela se aproximou e se agachou, observando o rosto da criança se retorcer enquanto chorava. Em seu pescoço, estava a pedra arroxeada.

- Eu conheço você. – Lorena disse baixinho, enquanto se lembrava do bebê abandonado na rua da estranha cidade onde havia encontrado as duas crianças com túnicas.

Meu nome é LorenaOnde histórias criam vida. Descubra agora