À noite, quando a chuva começou a cair sem parar, o vovô Edgar contou histórias para Lorena e Jim. Ele chamava aquelas histórias de mitologia grega.Como estava chovendo constantemente e eles escutavam os trovões, Edgar contou sobre Zeus; e, depois, dos outros onze olimpianos. As crianças adoravam imaginar como seriam os deuses. Para Jim, o deus dos trovões tinha cabelos cinza espetados – provavelmente ele associou ao choque - e olhos amarelos faiscantes. O garoto parecia gostar daquele deus. Lorena, entretanto, alimentou um afeto maior pela deusa do amor e da beleza.
Enquanto isso, os três comiam mais rosquinhas com suco de laranja. Lorena sentia o ruído do vento e o ar frio que passava por debaixo da porta. Havia uma goteira no canto da sala, mas nada que atrapalhasse a noite deles.
Quando ficou tarde demais para ficarem acordados, as crianças foram para o quarto. O vovô Edgar dormiu no sofá logo depois de contar a última história. Ayla os acompanhou e, assim como no dia anterior, cobriu e beijou Lorena como se fosse sua neta.
O grande quarto escureceu quando a vovó Ayla apagou as luzes e fechou a porta. Lorena estava com os olhos pesados de sono, mas sua mente não a permitia relaxar. Pensava constantemente na casa de madeira que não existia.
- Jim? – ela chamou pelo amigo na outra cama.
- O quê? – ele respondeu.
- Eu vi a casa. Não estava mentindo. – desabafou ela. – Depois ela sumiu de novo.
A menina falava tão sério que Jim dessa vez não riu. Ele pareceu pensar por um momento e depois disse:
- Talvez seja Zeus pregando uma peça em nós.
- Quem sabe... - murmurou a menina, inconformada.
Lorena não disse mais nada. Virou-se para um lado da cama e fechou os olhos. Apesar do sono, ela não conseguia dormir. Meia hora se passou e a menina já tinha desistido de tentar encontrar uma posição melhor na cama. Àquela hora Jim já dormia profundamente.
Mesmo na escuridão, Lorena saiu da cama e se dirigiu à janela. Através das cortinas, ela viu que havia parado de chover. Ela conseguia ver claramente a colina. Determinada a seguir o que a sua curiosidade mandava, ela pegou seus chinelos e foi lentamente até a porta do quarto, abrindo-a.
Ayla e Edgar dormiam no outro quarto. Lorena passou por eles com passos lentos até chegar à porta da sala. A chave estava lá.
Tentando fazer o mínimo de barulho possível, Lorena pegou na chave e a girou até ouvir o clique. Olhou para trás para se certificar que não havia ninguém observando e girou a maçaneta. A porta se abriu e, sem pensar em mais nada, saiu da casa. Desceu as escadas da varanda e pisou na grama molhada. Seus pés sobre o chinelo escorregavam enquanto ela corria pela noite escura e úmida. Apesar da chuva anterior, não havia nuvens cinzentas no céu. Uma lua brilhante apareceu, guiando-a colina acima.
Quando chegou no topo, seu coração bateu mais forte. A casa estava lá, e havia alguém dentro dela. Ela viu, de longe, a luz da casa atravessar as frestas das janelas e da porta fechada.
A menina desceu a colina em direção à casa de madeira. Quando subiu no degrau da varanda, ela ouviu um barulho. Sua razão dizia que era melhor ela voltar para a cama e dormir. Mas outro sentido dizia para que ela ficasse ali e descobrisse quem morava naquele lugar – e porque a casa tinha desaparecido na tarde anterior.
A porta se abriu antes mesmo de Lorena se aproximar o suficiente. Ela deu um pulo e se deparou com um par de olhos escuros desbotados de uma velha mulher. Ela era bem mais alta que a menina e tinha longos cabelos grisalhos.
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Meu nome é Lorena
Fantasy🏆 Vencedor do Wattys 2017 na categoria Originais🏆 Uma porta, uma chave, uma missão. Lorena tem apenas seis anos e, ao brincar na casa dos avós de seu melhor amigo, Jimmy, ela vê uma casa de madeira- e o leitor parte para uma jornada de fantasia, m...