Agora, o lugar onde Lorena estava era cheio de pessoas vestindo uma espécie de vestido. Não, não eram vestidos. Vovô Edgar já mostrou fotos de homens e mulheres vestindo túnicas coloridas, e era exatamente aquilo que aquelas pessoas estranhas usavam. Inclusive ela. A túnica que usava era bonita e sentia-se confortável nela, ao contrário do vestido que usara na primeira vez. Não era colorido – o seu era branco e leve.
A menina estava no meio de uma multidão de pessoas que compravam comida e outros produtos. Havia um velho barbudo vendendo peixes e outro homem vendendo sapatos de couro. Muitos carregavam escudos e lanças, levando peixes em seus elmos. Parecia o centro de uma cidade antiga.
Lorena viu grossas colunas sustentando o teto do mercado – e teve certeza de ter visto aquelas colunas em algum lugar antes.
A menina saiu do mercado, observando outros homens falarem com outros, enquanto outro parecia cabisbaixo e com as mãos e pés atados por uma corda. Lorena reprimiu o impulso de ajudá-lo; mas, ao se aproximar, percebeu que nenhum dos homens a via. Então, ela desistiu de tentar ajudar aquele homem quando viu que vários outros também estavam presos por cordas.
Paralelamente ao mercado que havia acabado de sair, havia uma grande praça com árvores. Um grupo de pessoas estava reunido a alguns metros dela, falando sem parar. Lorena correu até o grupo. Parecia ocorrer um evento importante, pois aqueles homens com túnicas pareciam discutir coisas sérias, e não apenas conversando coisas do cotidiano. A menina entrou entre eles, sem ninguém notá-la. Não havia nenhuma criança a qual ela pudesse se identificar – aquela reunião parecia ser coisa de adulto. Lorena não sabia o que fazer no meio daqueles homens. A princípio, ela achou que teria que fazer algo por aquele homem preso por cordas. Mas como, se ele não a viu?
A menina não tinha o que fazer no meio daquela reunião de adultos. Frustrada e com medo de não conseguir voltar para a casa de Ella – sem antes recuperar as chaves – ela andou pela praça, avistando outro mercado. Ela caminhou até às escadas, sentando-se em um dos degraus em frente a uma das colunas. Na bolsa velha, ainda pendurada em seu corpo, ainda havia outros objetos que poderia usar..
Lorena abraçou os joelhos e pensou no que fazer. Ella dissera para seguir seu coração, mas a menina não sabia como. Não havia nenhum coração com pernas e braços para guiá-la até seu destino. Pensando nisso, ela fez um bico, frustrada. Mas a frustração logo passou quando ela viu um menino com túnica azul, um pouco mais velho que ela, passar pelo mercado com a mãe. Ele certamente havia visto Lorena e se perguntado o que ela estava fazendo sentada nos degraus da escada do mercado. Ele tinha cabelos encaracolados e pele cor de oliva, assim como a mãe e outra menina próxima a ela.
Quando a família se afastou e o menino desviou o olhar dela, Lorena os seguiu. Não demorou muito para que eles chegassem a uma fachada de uma casa. A mulher de cabelos encaracolados e negros abriu a porta dupla de madeira, entrando com os dois filhos. Quando a porta se fechou, Lorena saiu de trás de uma árvore e correu na direção dela. Para a sua surpresa, não havia fechadura. Mesmo assim, ao tentar abri-la, não conseguiu. A menina bateu na porta.
Não demorou muito para que a mesma mulher a atendesse. Sua túnica era branca e amarela.
- Oi. – Lorena não pôde conter a timidez diante daquela moça. – Posso entrar? Eu...me perdi dos meus pais.
Lorena não gostava de mentir, mas não tinha outra opção. Ela fez sua melhor cara de criança triste para convencer a mulher. E deu certo.
A moça deu um sorriso triste.
- Ah, minha criança... – disse ela, passando a mão pelos cabelos da menina. – Onde estavam seus pais? No mercado?
- Sim.
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Meu nome é Lorena
Fantasy🏆 Vencedor do Wattys 2017 na categoria Originais🏆 Uma porta, uma chave, uma missão. Lorena tem apenas seis anos e, ao brincar na casa dos avós de seu melhor amigo, Jimmy, ela vê uma casa de madeira- e o leitor parte para uma jornada de fantasia, m...