No meio da noite, quando Tales e Kerina dormiam profundamente, Lorena se levantou da cama lentamente e caminhou até a porta, tentando não fazer barulho no chão de madeira. A chave que achara debaixo dos lençóis estava guardada na velha bolsa, mas não foi preciso pegá-la. Na porta do quarto não havia fechadura.
A menina imaginou que, mesmo sem a chave, ao passar por aquela porta ela estaria em outro lugar – como acontecera nas últimas vezes. Mas não foi isso que aconteceu. Estava na mesma casa. Mesmo assim, ela caminhou pelo corredor até encontrar o quarto da mãe das crianças. A porta estava aberta, e a moça dormia tranquilamente, com o corpo de lado e o rosto em direção à porta. Seus cabelos negros e cacheados continuavam penteados.
Por um momento, Lorena não sabia o que fazer. Só sabia que não podia ir embora sem se despedir daquela mulher.
Delicadamente, a menina colocou a mão no ombro dela. Lembrou-se então que não sabia seu nome.
- Tenho que ir embora. – a menina sussurrou. – Meus pais estão me esperando. Ella também.
A mulher mexeu a cabeça, mas não acordou. Lorena, no entanto, não queria acordá-la. Já havia se despedido.
Ela saiu do quarto e atravessou corredores, entrando em algumas salas por engano. Finalmente, achou a porta de entrada e viu o que eles usavam para trancar as portas – uma prancha de madeira atravessada entre a parede e a porta.
Lorena arrastou a madeira e abriu a porta, passando por ela. A rua estava vazia e silenciosa naquela hora, a não ser por um barulho distante que a menina não conseguiu identificar de imediato. Mas, ao andar pela rua e passar pela praça, o som foi se tornando cada vez mais claro: o choro de uma pequena criança.
A menina olhava para todos os lados, mas não via nada. Decidiu, então, seguir o som. No começo foi difícil saber se estava vindo da esquerda ou da direita, mas algo a fez seguir em frente.
O som abafado ficava mais alto à medida que Lorena se afastava do mercado. A casa de Kerina e Tales não estava mais a vista – ela havia andando mais do que tinha imaginado. Então, no fim da praça e próximo a uma rua que não havia casas, ela viu um vaso. Lorena correu, com o coração batendo forte.
Dentro do vaso, feito de argila, havia um bebê. Ele estava enrolado em um pano fino e velho, chorando e fechando as mãozinhas. Lorena estava com os olhos arregalados de horror. Ela tirou a pequena criança de dentro do vaso, se perguntando que tipo de pessoa faria uma coisa daquelas com uma criatura tão pequena e frágil.
Ela carregou o bebê e, ao tirar o pano para enrolá-lo melhor, descobriu que era uma menina.
- Tenho que achar a mãe dela! – ela exclamou, olhando para o vaso de argila. A menininha continuava chorando.
Ela está com fome e com frio, Lorena pensou. Logo desistiu de procurar a mãe da criança. Se a mãe realmente a quisesse, não teria a abandonado.
Lorena ficou com raiva daquelas pessoas, e queria sair logo dali. Abraçou a criança, fazendo-a para de chorar. Enquanto isso, ela atravessava a praça e ia em direção ao mercado. Ela não se lembrava exatamente de qual porta ela chegou à aquele lugar, mas jurava de ter visto uma entre as pessoas que transitavam entre as colunas.
Segurando o bebê do melhor jeito possível e tentando não tropeçar, Lorena chegou ao mercado, agora vazio. Então, ela achou a pequena porta, também sem a fechadura.
Percebeu, então, que seus olhos estavam cheio de lágrimas. Estava triste, muito triste. Ela sentiu a menininha gemer em seu ombro, e Lorena segurou sua mãozinha. Apesar de ser menina, Lorena nunca gostou de brincar de bonecas. Elas eram sempre sem graça. Mas a menina não deixava de gostar de bebês – esses eram de verdade, apesar de dar muito trabalho para os pais e as mães – principalmente para as mães. Quem sabe a mãe daquela menininha não queria ter trabalho de cuidá-la?
VOCÊ ESTÁ LENDO
Meu nome é Lorena
Fantasy🏆 Vencedor do Wattys 2017 na categoria Originais🏆 Uma porta, uma chave, uma missão. Lorena tem apenas seis anos e, ao brincar na casa dos avós de seu melhor amigo, Jimmy, ela vê uma casa de madeira- e o leitor parte para uma jornada de fantasia, m...