>> Capítulo 9 - Salae <<

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Ano vermelho.

Salae presenciava tempos de tormenta. Bruxas poderosas tomaram uma parte do reino e fizeram uma parcela da população seus aliados. A lua foi coberta por uma sombra negra, tornando a noite ainda mais escura. Raramente animais eram vistos, todos já haviam partido, somente alguns corvos permaneciam. Pássaros de cor preta, olhos e ouvidos de feiticeiras.

Bastava uma simples caminhada pelas ruas desertas do reino para escutar gritos, seguidos por risadas estridentes. Elas estavam ali, torturando quem não aceitava suas regras. Homens voltaram-se contra suas famílias, mulheres matavam seus filhos, crianças brigavam entre si. Tudo fazia parte da magia negra.

Fogo não seria mais um problema, afinal, ele também poderia ser controlado. Era só questão de tempo até que a pedra jade pudesse liberar o elemento principal para tal feitiço. Mas pela sorte da população e desespero das bruxas, essa preciosidade tornou-se rara. E graças a isso Salae pôde ter esperanças. O Reino recebeu ajuda de vários outros povos e o rei decidiu banir as bruxas que não puderam ser queimadas.

Antes que continuasse lendo sobre o sofrimento de meu povo, fechei o livro. Não tinha permissão para ler tal coisa. Meu pai costumava dizer que o ''Ano Vermelho'' ficou no passado, logo não era necessário saber de algumas coisas.

Guardei o livro velho atrás dos demais livros da estante. Já era tarde e eu precisava despistar meus pais se realmente quisesse sair a noite e descobrir o que Derek sabia sobre meu reino. 

Ao sair da pequena biblioteca encontrei Thomas. Ela estava sorridente, provavelmente ainda não tinha encontrado meu vestido estragado. Perguntei o motivo de tamanha felicidade e ele respondeu na mesma hora.

- Hoje me encontrarei com meu pai. Faz um ano que não o vejo, estou com saudades.

O pai de Tom era um dos empregados do rei. Não era um jovem e forte cavaleiro, mas tinha grande conhecimento sobre as rotas dos demais reinos. Assim tornou-se mensageiro real.

- Fico feliz por você! Imagino que ele também esteja com saudades.

- Obrigado, princesa. - agradeceu - Estava indo encontrar o rei Julian, preciso avisar que não ficarei no castelo hoje a noite. Gostaria de me acompanhar?

- Adoraria... Mas prometi a meu avô que o ajudaria com mais uma joia.

- Tudo bem. Nos vemos mais tarde.

Sorri e ele seguiu cantando pelo corredor. Thom realmente estava feliz com a chegada de seu pai. Continuei caminhando pelo castelo, até chegar no salão real. Avistei meu avô Lair sentado em uma das extremidades do grande sofá e me aproximei. Vovô estava concentrado lendo uma carta, provavelmente de minha avó. Ao perceber minha presença ele sorriu e fez sinal para que me sentasse a seu lado.

- Sua avó mandou abraços. Escreveu que ficará com sua tia por mais alguns dias e depois retornará a Salae. Seus primos estão a deixando louca. - gargalhou ao revelar

- Já era de se esperar, vovô. Afinal, aqueles meninos são filhos da tia Gisele.

- Tem razão, Jade. Sua tia nunca foi fácil. - novamente ele gargalhou, desta vez ao lembrar da infância de seus filhos

- Vovô... - aproveitei a conversa sobre o passado para lhe fazer uma pergunta - O que se lembra do Ano Vermelho?

- Oh, Jade. Não me diga que andou lendo sobre esta época. - ele balançou a cabeça negativamente - Seu pai a proibiu.

- Eu não me aprofundei no assunto... E meu pai só saberá se alguém de cabelos brancos contar.

- Nem todos meus fios são brancos! - exclamou, brincando -  Fique tranquila, não contarei.

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