>> Capítulo 14 - Nice <<

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Apressei-me em trocar de roupa, não poderia correr o risco de ser pega. Nesse momento, Thomas avisava ao cocheiro sobre a minha saída.

Coloquei um simples vestido casual, não pretendia chamar a atenção de ninguém. Soltei meus cabelos e os deixei cair sobre os ombros, algo que não fazia sempre. Voltei ao corredor e iniciei minha caminhada até o fundo do castelo, tomando cuidado para não encontrar meu pai. Por sorte, obtive a informação de que o rei recebera um comunicado, precisando sair de Salae. Minha mãe assumirá o comando por alguns dias. Respirei aliviada, mas um tanto curiosa para saber o que seria tão importante a ponto de fazer o rei Julian encarar uma viagem.

Thomas insistiu para entrar na carruagem e me acompanhar, mas não permiti. Não seria justo envolver meu amigo em minhas loucuras momentâneas, o coitado se enlouquecida atoa. Dei ordem ao cocheiro que seguisse rumo à cidade, mas não disse onde era o nosso destino. Durante o caminho indiquei ruas, poucas delas, e tal trajetória nos levou direto à uma área mais afastada de Salae. Antes que as pedras da rua chegassem ao seu fim, dando início ao chão de terra, pedi que o homem parasse os cavalos. E assim foi feito.

O cocheiro desceu da carruagem e em seguida abriu a porta da mesma, permitindo que eu saísse. Foi quando percebi que tratava-se de José, um antigo jardineiro do castelo. Seu rosto ganhou novas rugas, mas ele ainda lembrava o homem de nove anos atrás, quando insistia em criar diferentes cortes para arbustos. Agora havia mudado de cargo, substituindo suas ferramentas de corte por uma capa e dois cavalos.

- Vossa Alteza, é esse mesmo o lugar? - perguntou confuso

- Sim, José. Peço que volte ao castelo e não comente nada sobre isso. Sua lealdade será bem recompensada.

- Posso esperá-la, se preferir...

- Agradeço, mas penso que irei me demorar. - o homem abaixou o olhar - Faça o seguinte, volte a esse mesmo lugar daqui a três horas.

- As ordens, princesa. Mais alguma coisa? - perguntou, atento

- Nada mais... - observei o senhor a minha frente - Bom, na verdade preciso de mais uma coisa. - ele esperou por mais uma ordem - Me dê sua capa.

- Minha capa? Oh, princesa, esta capa está suja. Não seria apropriado...

- A capa, José. - estendi a mão - Eu não ligo para essas coisas. Preciso de algo, caso esfrie. - ele assentiu, concordando

Ao tomar posse de sua capa, conferi se a mesma era do tamanho ideal. O tecido, já velho e gasto, não seria usado somente para disfarçar o frio. A capa serviria para me cobrir, escondendo minhas vestimentas, incomuns no lugar e que estava. Despedi-me do cocheiro e o esperei entrar em uma das ruas da cidade. Agora chegara o momento de seguir adiante, sozinha.

Optei por caminhar ao lado da floresta, meu subconsciente dizia que era o melhor a se fazer. Assim que adentrei na vila, observei pessoas sentadas. O local não estava vazio como da última vez. Agora poderia escutar conversas e conferir mais de perto o ambiente em que essa parcela da população vivia.

O céu aqui estava cinza, possuindo algumas nuvens de cores mais escuras. Poderia afirmar que uma chuva não demoraria chegar. O chão de terra, juntamente com o barro que recobria algumas casas, dava um aspecto mais antigo ao lugar. O verde da floresta do lado era ofuscado pela madeira velha dos telhados, já que muitas árvores estavam cortadas.

Abaixei a cabeça e me misturei em meio às pessoas. Graças a capa de José, não fui reconhecida. A minha frente, crianças passavam correndo enquanto brincavam. Em frente as velhas casas, senhoras conversavam com jovens moças. Os homens faziam um caminho floresta-vila carregando consigo pedaços de madeira e balaios de terra.

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