>> Capítulo 17 - O Tratado <<

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Em meu quarto fiquei incontáveis horas. Estava tomada por uma onda de tristeza, me sentia fraca e desamparada. As palavras de consolo não faziam efeito nenhum. Estava sendo sufocada pelo meu próprio choro.

A notícia da morte de meu avô Lair correu por muitos reinos. Não demorou muito para que Salae recebesse pombos com mensagens de conforto.

Da janela da torre vi inúmeras carruagens chegar ao castelo. Membros da nobreza povoaram os corredores para o velório do ex-rei de Salae.

De hora em hora mulheres entravam em meus aposentos, trazendo consigo água e alimentos. Me recusava sair dali e encarar nobres que aproveitavam da morte de meu avô para conseguir alianças. Mal consegui segurar as lágrimas com lembranças que insistiam permanecer em minha mente.

Ao cair da noite, o corpo de Lair foi preparado para o enterro. Foi quando tomei coragem para encarar a todos. Do segundo andar do castelo, observei  o salão do trono repleto de homens e mulheres de vestimentas na cor preta. Todos conversavam baixo enquanto esperavam o caixão ser fechado.

Minha presença foi notada apenas por alguns amigos próximos do rei. Optei por ficar um pouco mais afastada de meus pais e mais próximo de Mariana. Minha avó estava inconsolável e este era o momento que ela mais precisava de apoio.

Mal consegui encarar o rosto de meu avô Lair, era triste o ver daquele jeito. Preferi manter boas lembranças, e sua aparência antes da doença o castigar.

A passagem do corpo pelas ruas da cidade foi comovente. Grande parte população seguiu as carruagens até o local onde estavam enterrados a maioria dos reis e ex membros da nobreza. Lair governou Salae com muita fé e responsabilidade, a população o agradeceu por seu memorável reinado.

Em meio a multidão avistei um rosto conhecido. Henrique havia voltado a Salae para o velório de Lair. O próximo a subir ao trono do reino de Mesty nutria um admirável respeito pela minha família. Vê-lo, mesmo de longe, me confortou. O príncipe percebeu meu olhar e assentiu, mostrando respeito.

A cerimônia durou mais algumas horas. No fim o algumas palavras foram ditas em homenagem a meu avô, e seu caixão foi coberto por rosas e terra. Voltei ao castelo juntamente com minha avó Mariana. Ao chegar a porta de entrada, encontrei Derek. Ele abaixou a cabeça e fechou os olhos em uma tentativa de mostrar apoio.

Subi a meu quarto e por lá fiquei incontáveis dias. Meus passeios diários foram cancelados seguidamente, estava sem ânimo para sair. E mesmo negando a sair do castelo, Derek me esperava todos os dias. Nesse período de tempo consegui sentir inúmeros sentimentos. Ora sentia raiva, ora tristeza, ora solidão.

Mal conseguia controlar meus pensamentos, o medo sempre estava presente. As vezes encontrava-me vagando pelos corredores com a mente repleta de insistentes retalhos de lembranças.

Em uma manhã, ao perceber que estava próxima ao quarto que passava a maioria parte do tempo com meu avó, resolvi entrar. Mexi em todos os seus trabalhos, admirando seu talento manual. Lair possuía uma verdadeira coleção de jóias, todas confeccionadas por ele mesmo. Sentei-me na cadeira que ele sempre se acomodava e percebi que em cima da mesa, em meio a algumas ferramentas, havia uma pequena caixa. A peguei e ao abrir encontrei um belíssimo colar.

A bela joia possuía uma grande pedra jade, perfeitamente lapidada. Pude ver que em seu meio havia uma mancha de colocação suave, dando mais beleza e brilho ao pingente. Pequenos brilhantes se destacavam no colar, mas esses não ofuscavam o brilho da jade, pelo contrário, deixava-a em maior destaque. Percebi também que no fundo da caixa havia um papel dobrado. O peguei.

Querida Jade,

Estou lhe escrevendo esta carta porque sei que não me resta muito tempo de vida. Gostaria de ficar a seu lado e lhe orientar em seu reinado, mas sabemos que muitas vezes a vida nos surpreende.

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