Cerrei os olhos com força, e tentei a todo custo, não olhar para baixo. Mas era impossível não ouvir o som das ondas batendo nas pedras.Eu tentava a todo custo agarrar as pedras, para não cair no mar enfurecido.
-Me ajudem.- Gritei
Meus longos cabelos negros, esbofeteavam meu rosto, meus olhos verdes estavam lacrimejados, eu estava caindo da falésia, meu corpo seria sugado pelo mar.
Um jovem esticou seu braço, tentando segurar-me.
-Eu não vou aguentar muito tempo. Você precisa me soltar, me deixe ir. Murmurei, tentando a todo custo controlar as lágrimas.
-Eu não vou.
Senti as lágrimas molharem minha bochecha.
O rapaz esticou mais seu braço. - Não me deixe novamente! - Ele implorou, fazendo com que o meu coração ficasse ainda mais acelerado. - Eu falhei na primeira vez... eu arruinei você... mas eu quero fazer diferente desta vez. Por favor.
- Eu não vou aguentar muito tempo - Eu disse lutando para me segurar em seu braço - Me deixe ir...
Então eu soltei sua mão, senti meu corpo flutuando em queda livre até ao mar agressivo, e só consegui sentir a perda.
Jasmim e alecrim. Eu consegui sentir o cheiro dele, naquele momento.
Mas não consegui viver.
**
Me sentei de repente, tentando recuperar o fôlego.
-Elise acorde. Não vou tolerar seu atraso na escola-
Eu podia ouvir a voz de Cibelle gritando do andar de baixo.
Meus olhos focalizaram um ponto de luz suave na escuridão. Eu podia ouvir o distante som da chuva contra a janela.
Meu quarto estava húmido por causa da chuva. Por que minha janela estava aberta? Questionei ainda meio perdida.
Minha cabeça estava latejando. Deitei novamente na cama e o sonho foi se dissipando.
Entrei no chuveiro e tentei deixar pra lá por um momento, o sentimento de vazio, que estava me consumindo.
Enquanto esfregava meu cabelo, eu sentia como se meu sonho fosse desaparecendo pelo ralo. Se eu não pensasse em todos esses sonhos estranhos, era como se eu nunca tivesse sonhado com eles.
Desci as escadas para a uniformidade de sempre. Na mesa de café da manhã, Cibelle serviu um prato de panquecas. O prato preferido de Brooke.
Sempre que eu via Cibelle e Brooke juntas, agindo como mãe e filha. Eu pensava como seria ter crescido com uma mãe.
Eu sentia falta de ter minha mãe por perto, de ter conhecido ela, sentia mais falta ainda, de poder chamar alguém de mãe.
Eu queria vê-la uma vez que fosse, eu queria ter a chance de perguntar "porquê" porque ela se foi, o que eu fiz de tão errado para ela não me amar?
Meu pai colocou na minha frente um gigantesco copo de suco de laranja.-- Não pense em botar um pé pra fora daquela porta antes de beber o suco-
-Você sabe o quanto odeio suco de laranja. Retruquei
- Se acostume, você não pode beber todos os dias café ou achocolatado. Você está consumindo demasiado açúcar e cafeina, Elise.
- Como queira-Murmurei
- Porque você não se arrumou melhor para a escola?- Meu pai falou, olhando a primeira página do jornal na sua frente.
-Se você precisar de ajuda para combinar as peças, Brooke pode ajudar você, não é meu bem?- Cibelle falou toda empolgada.
Brooke deu a última mordidela em sua panqueca e revirou seus olhos, a expressão em seu rosto claramente queria dizer " Eu nunca vou ajudar. Nunca"
-Eu não preciso de ajuda.
-Encontrei uma caixa com alguns pertences de sua mãe, talvez você queira guardar alguma coisa para você. Meu pai disse largando o jornal na mesa.
-Onde você encontrou? Perguntei surpresa.
Meu pai respirou fundo, como se falar de minha mãe ainda fosse um assunto proibido.
-Ela deixou algumas coisas para trás quando foi embora. - Ele falou por fim.- Mas é pouca coisa.
Meu pai me puniu com mais uma panqueca.
- Eu não entendo porque está sempre chovendo em Hoods. - Brooke falou aborrecida.
-Eu gosto de chuva. Cibelle exclamou
-Eu detesto, apenas sabe arruinar meu penteado.- A voz de Brooke saiu como um ruído surdo e Prolongado.
Um vento forte tinha-se formado lá fora, a chuva tinha aumentando de intensidade.
Enquanto enfiava a última garfada de panqueca em minha boca olhei para o corredor, por puro hábito, uma caixa de papelão estava na porta do escritório de meu pai.
Como se meu pai percebesse o quanto eu estava ansiosa para ver os pertences de minha mãe ele disse - Venha vamos ver as coisas que sua mãe deixou-
Eu sorri de canto, antes de levantar rápido como um relâmpago.
Ele se dobrou para pegar a caixa, e abriu a porta do escritório.
Depois de colocar a caixa na mesa de mogno, ele se afastou e cruzou seus braços. Me dando permissão para abri-la.
Meu sorriso desfaleceu quando vi um porta-retratos.
Ela sorria feliz para a câmara, seus olhos verdes largavam faíscas.
Em seu pescoço, pendurado, estava como que um pingente, uma pequena lágrima negra.
- Ela é linda- murmurei tristemente.
Senti uma mão em meu ombro - Você é igualzinha a ela Elise.
Sorri, larguei a foto na mesa, um livro de capa preta despertou minha atenção.
Na capa estava um pentagrama, e por baixo o sobrenome de minha mãe "Grandwood " escrito com tinta vermelha.
Abri o livro em uma página aleatória, mas ela estava em branco, virei mais uma página e também ela estava em branco, comecei a virar várias páginas e constatei que o livro estava completamente em branco.
Olhei para a caixa e vi que também ela estava completamente vazia, isso era tudo o que restava de minha mãe.
Suspirei ruidosamente.
- Precisamos ir, você vai acabar se atrasando para a aula. - Meu pai disse colocando a caixa vazia sobre o chão.
Peguei no porta-retratos e no livro, abracei eles como se ali estivesse um valioso tesouro, o que de certa forma era verdade, pelo menos para mim.
--Vou apenas guardar seus pertences no meu quarto- Avisei com um gosto amargo na ponta da boca.
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Lágrima Negra ( LIVRO I E II)
WerewolfElise Pool de 17 anos, nunca encaixou no mundo normal e sempre sentiu que era diferente de todas as garotas de sua idade. Mas quando ela é arrancada de sua vida em Nova York, e forçada a viver com seu pai em uma pequena cidade em Hoodsport. Ela des...