Parte II - Capítulo 4

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 Hades surgiu com uma taça de cereais na mão, e ligou a tv de tela, que estava na outra extremidade da sala, perto do piano de cauda de cor preto.

Pelo que a jornalista falava, pude deduzir que estariam falando, sobre um suposto ataque de animal. Jovens tinham desaparecido.

-Coma -A voz de Hades, fez com que eu perdesse o total interesse no noticiário, e olhasse hesitante para o cereal na minha frente.

-Esta com medo que eu tenha envenenado sua comida? -Ele exclamou, acedendo a lareira.

Eu não respondi imediatamente,

Hades rosnou -Não vai comer?

-Eu vou- eu disse, levantando o pescoço para olhar pela janela de trás.

Pegando na taça, eu praticamente comi tudo de uma só vez.

Hades ficou ali de pé, perto da lareira, que agora largava um belo calor pela enorme sala. Me encarando seriamente.

-Quer mais? Ele perguntou com sarcasmo.

Eu mordi meu lábio para não soltar nenhuma resposta raivosa. -Não- falei petulante.

Pegando seu casaco longo e preto, do gancho na parede, ele abriu a porta francesa da sala, que dava acesso ao quintal. - Onde você vai? Questionei confusa.

-Eu nunca estou em casa, então eu não tenho nada além de cereais. Explicou meio encabulado -Eu vou comprar comida, tente não morrer de fome, vou tentar não demorar- Ele disse - nem preciso dizer que não adianta fugir, a casa está sob feitiço--

Eu ignorei seu cinismo, e apenas encarei a lareira.

Fiquei ali por um bom tempo, perdida em pensamentos, lembranças, ouvindo o barulho da chuva. Em algum momento me levantei, e sentei no banco vermelho macio em frente ao piano, e deslizei os dedos produzindo notas infrutíferas. Por um longo tempo fiquei ali, tentando de alguma forma, tocar a mesma melodia que Hades havia tocado noite passada.

Minha fome apertava cada vez mais, nem sei por quanto tempo fiquei ali.

Só percebi que já se havia passado várias horas, quando por fim o fogo da lareira se apagou.

A chuva que desabara por todo o dia, ininterruptamente, havia cessado. Levantei-me suspirando.

Já havia anoitecido, decidi tomar um banho, precisava esfriar minha cabeça. Tentar encontrar um jeito de sair daqui.

Fiquei aliviada, ao constatar que o banheiro incorporado ao quarto onde eu dormia, tinha toalha, shampoo, sabonete. E até algumas calcinhas que eu tinha certeza serem para mim, com a etiqueta ainda.

Me arrepiei imaginando Hades comprando esse tipo de coisas para mim. Ainda ontem ele mal suportava minha presença, agora me mantinha presa, comprava minha roupa íntima, e ainda me alimentava?

Ele só podia estar ficando louco.

**

Em algum momento enquanto aproveitava a água quente, escutei algo estranho.

Sai da banheira e coloquei a cabeça pra fora do banheiro.

Nada.

Enrolei-me na toalha, e abri a porta do quarto.

Eu podia jurar que tinha escutado alguma coisa.

Quando cheguei a sala, ouvi uma triste melodia.

Mas não tinha ninguém a tocando, as teclas simplesmente tocavam sozinhas. Eu estava muito assustada para gritar, sai correndo pelo corredor, a caminho do quarto.

Lágrima Negra ( LIVRO I E II) Onde histórias criam vida. Descubra agora