Capítulo 10

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Acordei disposta, levantei e fui ate a janela olhar como estava o dia, Nicolas já tinha saido, deixou um bilhete.

"Parabéns, que chova mais e mais flores nessa nova primavera que faz. Tive uma urgência mas logo estarei contigo.
Com amor, Nicolas"

Eu li sorrindo, essa é minha vigésima quarta primavera, que leveza boa eu sentia. Minha mãe e Caren me ligaram, outras pessoas deixaram uns recadinhos no facebook. Minha enfermeira mal terminou de anunciar que Brangeline estava lá quando ela entrou com flores e balões correndo em minha direção.

- Cuidado! Pode machucar ela! - Disse a enfermeira correndo atrás dela.

- Ih - Disse Line, parando pra pensar. - É verdade, tinha me esquecido.

- Como pode esquecer? - A enfermeira parecia assustada.

- Ai, relaxa, não vou quebrar ela. - ela soltou os balões, eles parar no teto. Segui os balões até seu destino pensado um pouco em gravidade permaneci parada escorada na janela e achando toda a situação engraçada. A enfermeira olhou carrancuda e logo saiu, Line virou pra mim pulando feito pipoca, acho que ela ficou mais feliz que eu por saber que era meu aniversário, era impossível não ser contagiada pela alegria exagerada dela.

Ela me abraçou bem de vagar, me entregou as rosas, a propósito elas eram lindas, rosas brancas são minhas favoritas, ela arrumou as coisas, me ajudou a se vestir, e foi andando na frente para assinar uma papelada, peguei a montueira de rosas espalhadas pelo quarto, quando cheguei à porta dei uma ultima olhada para o quarto. Os balões não estavam lá.

Comecei a andar no corredor, era um corredor extenso onde tinha varias portas, dos quartos dos enfermos vizinhos. Não havia ninguém lá, logo apertei o passo, até que vi uma luzinha brilhante no topo do fim do corredor. Não sei porquê mas senti calafrios pela minha espinha, só queria sair dali.

Quando cheguei perto do balão olhei para cima, pra ele, ouvi a porta bater e meus olhos fora instantâneamente em direção ao quarto que acabei de sair, voltei, quase correndo, abri a porta de vagar e então vi Camila. Ela estava parada em baixo dos balões, notou minha presença e deu um sorriso horrendo. Que Diabos aquela criatura estava fazendo ali?

Meu corpo foi deslocado para perto do dela, ela continuava me olhando medonhamente e para os balões, eu não estava entendendo nada, só queria sair dali, garota esquisita, e então.. Senti uma pressão invadir meu corpo, caí no chão, ela se abaixou rente a mim e disse no meu ouvido " Você não pertence a esse mundo" .

Depois disso, simplesmente não queria saber de mais nada, minhas costelas estavam doendo muito pra eu perder meu tempo com a obscuridade de Camila, ela se pôs de pé e então Line entrou no quarto.

- O que ta fazendo ai no chão! Você caiu, ai meu Deus vou chamar a enfermeira.

- Relaxa ai, só deitei. - Não sei por que disse isso, minhas costelas estavam me matando. - Ei me ajuda a levantar? Acho que deitei rápido demais.

Ela ficou me olhando, talvez tentando entender, mas por fim me levantou. Fomos então para o corredor. Chegando no estacionamento veio aquela lembrança, quando eu e Nicolas decidimos ficar juntos, quando eu sentada em seu colo senti tua respiração e o coração, que estava tão acelerado quanto o meu.

A cada lembrança que vem a mim, me sinto pior, como se eu mergulhasse no reino abissal da minha mente e ela por sua vez, me enforca sempre.. As vezes, só as vezes, eu tento entender como pode o peixe vivo viver fora d'água fria, as vezes tento entender coisas que não deveria, porquê meu coração só escolhe gente errada? Porquê meu dedo tem que ser tão podre? Cansei de Nicolas, cansei de todos e de tudo, cansei de mim.

- Laura.

- Sim?

- Tem medo de quê?

- Não sei, pastor , deveria ter?

- Feliz aniversário, pequenina, talvez devesse, você vai acabar perdendo a Humanidade exigente em ti, quero que acorde, você precisa voltar, precisa olhar..

Abri os olhos, Line estava me chamando pra sair do carro, alguns amigos estavam lá, tinha um bolo também e então.. Vi Nicolas.. Tudo nele se encaixava, seus olhos intensos penetraram em mim, e voei até ele como se os olhos dele fossem ganchos e me puxasse até la, ele estava tão.. perfeito. Chegar perto dele me deu uma onda de nostalgia, era triste vê-lo pela última vez, deixar tudo pra trás dói, e muito, mas é o necessário a se fazer.

Vou perder mais um em minha vida, mas dessa vez vai ser pelo meu querer, dessa vez não vou chorar, não vou tentar me lembrar, apesar de tudo, eu queria sim chegar na velhice ao seu lado, ter frutos do nosso amor, uma casa, momentos inesquecíveis, mas são momentos que nunca existiram e nem vão ..

Minha imaginação prega peças, e eu acabo me deixado levar, não sei se aquela imagem de Camila e o balão eram reais, não sei se todos e tudo são, nem sei se eu sou, sou apenas um corpo, um pedaço de carne, inútil, mas acredito que um dia vou saber se sou ou não uma utopia e se tudo isso é apenas minha mente em ação, criando e modificando.

- Oi.

- Oi.

- Laura.. Eu.. - ele abaixou a cabeça - Feliz aniversário.

- Obrigada. - sorri, me virei pra ir embora. Ele segurou então na minha mão. - Quê?

- Precisa vim aqui, comigo.

- Onde..?

Ele me puxou e começou a andar rápido demais, eu não podia acompanha-lo.. Meu corpo começou a doer.. Estávamos longe da festinha, perto da casa que fica na floresta que a muito tempo já conhecia.

Ele me pegou no colo e correu ate ela. Não pude me mexer, adentrando tinha uma cadeira, ele me sentou nela, Camila apareceu como uma assombração, sua barriga me incomodava, me incomodava também o fato de Nicolas amarrar minhas mãos e canelas enquanto Camila ria insanamente.

Tentei me soltar, mas foi inútil, então os dois param na minha frente e olhavam pra mim diabolicamente, o que começou a me deixar assustada e preocupada. Eu não sabia o que pensar, só queria sair dali, senti uma coisa picar o meu bumbum quando estava me mexendo, lembrei do meu canivete.

- Pensou que ia se safar?

- Do que está falando? Safar do que?

Ela se virou e buscou uma coisa, um balão. Deu o para Nick "Volte pra festa, você foi um bom rapaz" ele deu um sorriso débil e saiu cambaleante.

- Enfim à sós.

- Quem é você? O que fez com ele?

- Não é da sua conta. E cala a boca, sua voz me irrita.

Fechei a boca, aquela aparição estava me deixando louca, tentei pegar o canivete, cortou meu dedo quando consegui, eu soltei de vagar minhas mãos, logo soltei as pernas, quando Camila me olhou achava que eu estava presa, quando se virou novamente levantei, ela virou assustada, cravei com toda minha força o canivete na barriga dela, ela me deu um soco no braço e eu revidei enfiando a lâmina no seu olho. Ela caiu de joelhos, cortei a garganta dela e ouvi um grito.

- Laura!!!

Era Line que me olhava como se eu fosse um animal.

- Que diabos pensa está fazendo?

-Sua grande filha da p.. - Camila começou a dizer, enfiei o canivete no outro olho dela.

- Laura! Para! Para com isso! - Gritou Line vindo à minha direção - Anda, me dê isso, vamos embora.

- Não.

- Laura, isso não é hora pra ser louca.

Um riso perverso se espalhou, era Camila rindo insanamente, tanto eu quanto Brangeline fixamos os olhos com perplexidade em Camila, que já ia se levantando.

-Por acaso pensou que seria fácil? Por acaso acha que sou tão frágil? Sua imunda, você vai queimar!! - disse ela com sangue escorrendo pelo rosto.

E de repente tudo foi rápido, vi Line pagar a cadeira e acerta-la na cabeça, Camila caiu de joelhos, as mãos de Line estava na cabeça de Camila, então.. Crack. Camila caiu com tudo no chão.

-Vamos embora agora? - Disse Brangeline calmamente.

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