Esboço

Capítulo 13

Depois daquele dia não me perguntei sobre as coisas que andavam acontecendo comigo. Ao passar dos meses fui esquecendo sobre minha vida anterior, enquanto Arthur passava o dia no escritório eu andava pelo Lua, descobri que algumas pessoas moravam lá, todas elas moravam solitárias e longe de qualquer contato humano, apenas com Arthur. Falando nele, passei dias pensando nele, na sua forma de agir, e governar aquele lugar, e como ele acreditava em ser um anjo.

Em uma das minhas caminhadas vi o pastor encostado na árvore mais velha de lá. Ele me olhava com um brilho que jamais tinha visto em vida.

- Filha as coisas vão se cumprir de uma forma melhor do que imaginei.

- Você não vai me contar que coisas são essas não é?

- Creio que você já sabe a resposta.

Todos os dias Arthur ia trabalhar, eu fazia a janta e aguardava ele para comer. Será que com todos era assim? Ou como era a relação dele com essas pessoas e sera que todas são como eu?
Bom, eu sei que se passaram muitos meses e acabei me esquecendo de tudo, menos Nicolas.

As vezes eu via Camila, parada me olhando, igual ao dia que vim parar aqui, as vezes andando de um corredor para o outro via nos cantos balões, parei para pensar o significado deles mas desisti por que aparentemente não significa nada pra mim, eles simplesmente aparecem e desaparecem.

Minha vida virou uma rotina, eu acordava, tomava um banho, descia de vagar pelas escadas, ia para a pequena cozinha, tomava café enquanto lia o bilhete que Arthur deixava todos os dias em cima da mesa "Luz do meu viver, tome seu remédio para florescer." Eu lia de vagar, quase não conseguindo juntar as palavras. Ficava um tempo olhando para um potinho escrito "manhã" raciocinando o que eu deveria fazer. Mas certa manhã eu não acordei bem, quando desci pelas escadas de vagar tudo ficou escuro.

Quando acordei senti aquele cheiro que sempre senti, desde o meu nascimento, um cheiro de morte com cloro. Arthur estava me olhando, decidindo o que iria me dizer provavelmente.

- Ora, a senhorita por fim acordou. É uma grande notícia não? Creio que esteja muito feliz. - Disse um homem que não percebi entrar.

- Laura e eu ainda não conversamos doutor o senhor se importa em nos deixar a sós?

- Claro que não, ate logo.

O homem saiu, e Arthur pôs a mão na boca, repirou fundo e me olhou triste, eu nunca o tinha visto chorar. Acho que eu nunca vi alguém chorando do jeito que ele chorou.

- Me desculpe.. me desculpe.

Eu não disse nada, na verdade eu não falava muito, não tinha ninguém com quem conversar além de mim, o pastor e Arthur, me virei para o lado. Não entendia o porque de tanto arrependimento, mas eu podia sentir que o que quer que fosse não seria algo bom.

- Me diz, aonde estamos, quanto tempo estou no Lua e por que desmaiei.

- Estamos em um hospital, da cidade mais próxima ao Lua, 5 meses, está grávida.

Meu rosto virou rapidamente para encarar aqueles olhos grandes e redondos. O QUE? 5 meses? GRÁVIDA?
Afundei minha cabeça no travesseiro e olhei para cima, e ouvi uma voz de fundo "Seria loucura demais dizer que te quero só pra mim? Seria insano te desejar todos os dias..? Seria um tolo ao me declarar dessa forma para ti..? Não! O amor por você é o que me move a sonhar e crer que um dia vamos escrever uma linda história de amor. É com você quero estar, no passado cometi erros que fizeram você ter um pensamento sobre mim.. mas acredite você é como um anjo bom, me ensinou a ser melhor." Virei a cabeça lentamente e vi Nick, sentei na cama, eu não podia acreditar e então quando pisquei duas vezes lá estava Camila, com seu sorriso macabro.
Ela desceu a mão até o peito dele, Arrancou o coração e comeu, eu particularmente achei nojento.

- O que você acha?

- Sobre o que?

- Você estava vagando?

- Talvez.

- Perguntei se você quer casar comigo.

- Sabe, eu não sei. Desculpa mas tudo ficou confuso. É como se eu não estivesse pertencendo aqui. E eu não posso ter filhos por causa da minha cicatrização das costelas.

- Aqui tem profissionais que conheço, e eu também se fazer vários remédios caseiros talvez você iria gostar..

- PARA! PARA COM ISSO, PARA DE FINGIR QUE ESTÁ TUDO BEM!

- Laura se acalma..

- CALA A BOCA, VAI EMBORA, AGORA!

- Ei, o quê está havendo, - disse o médico entrando correndo no quarto - a senhora vai acabar fazendo mal ao bebê gritando desse jeito.

- CALA A BOCA VOCÊ TAMBÉM, ME DEIXEM SOZINHA - senti meu rosto ardendo e quente, as lágrimas começaram a escorrer, tapei o rosto com as mãos e disse baixinho - por favor, eu preciso ficar sozinha, preciso, preciso ficar sozinha, me deixem sozinha... por favor... me deixem.

Quando tirei as mãos do rosto vi que estava sozinha, e minha mente limpou instantâneamente, e voltei a minha vida monótona de não pensar sobre nada.