"Alô"
"Theo, sativa"
"Vem pra cerejeira"
Eu não podia ficar perto de Nick, eu não podia mais dar ao luxo de me iludir mais uma vez com ele, afinal o que era isso? Eu estava oferecendo meu maior patrimônio que era o corpo para alguém que só queria "se divertir" ... Eu precisava de Cannabis. Eu queria meu bebê de volta, ele era minha alegria, mas eu tenho que parar de lembrar. Já faz 7 meses e ainda não me acostumei, mas tudo bem, tudo passa nessa vida. Ate mesmo a vontade de carne insana que meu corpo tem.
Tem coisas que você realmente precisa deixar de lado, coisas que não valem a pena, é como se você plantasse uma árvore e precisasse de seus frutos e por fim não vim nenhum, "cada um planta o que colhe", ditados populares.. Por que vocês nunca se aplicam a mim?
Fui pra cerejeira e sentei um pouco, as pétalas caiam sobre mim, como se fossem algodão, era lindo, aquela visão era linda, não sei como as pessoas ficam presas em seus escritórios só pensando em copas mundiais de futebol. Theo me viu, fumamos um pouco e contemplamos o pôr do sol.- Laura, sabe o que não entendo?
- O que?
- Ele te avisou - disse Theo olhando pra mim com aquele ar de preocupação - você quem se deixou levar.
- Não fiz de propósito..
- Laurinha, não se machuque mais, sei que esta sendo um ano terrivelmente difícil, mas nem tudo está perdido, pensa que você não perdeu um braço em uma guerra, ou está cega.
- Mais um pouco e você seria um ótimo animador de festas infantis.
- Obrigado.
Olhei pra ele incrédula. Respirei fundo, aquele ar estava me contagiando.. Tão puro e sereno, parecia que eu ia voa a qualquer momento...
- Laura! Laura! Acorda cara, você consegue! Hey hey, ela vai sobreviver né...
Minha cabeça doía, escutava o som da voz do Nick, mas parecia que estava tao longe.. Se ao menos pudesse tocar as pétalas .. Por que tinham que ser tão lindas? Por que caiam tão sinuosas, promíscuas, leves..? O balé das pétalas caindo era quase libertador, eu parei.
- Laura!
Meu nome. Sim.
- Laura?
A voz mudou, olhei para o lado e era o pastor.
- Filha, tem que parar de vim aqui...
- Morri de novo?
- Estão tentando reanima-la, volte pois ainda não terminou sua jornada.
Odiava aquilo, era sempre a mesma coisa, maldito coração que não aguenta nada, foi só uma tragadinha.. Abri os olhos lentamente, vi Nicolas.. Droga, tanta gente pra ficar comigo tinha que ser logo ele.
- Oi - disse eu simpaticamente.
- Oi? Ta brincando! Overdose? Ta tentando se matar! Sua louca.
- Senhor, não pode gritar aqui dentro, principalmente com uma paciente. - Disse uma enfermeira assustada e raquítica.
- Me desculpe.
Ele sentou do meu lado, pôs a cabeça em meu colo e encarou o nada.
- O que você tem? Pensei que já tinha passado.
- Faz 7 meses que não te vejo. Pode me dar apenas um "oi"? Não é tão difícil.
Ele respirou fundo e fez uma careta pro teto, recostou na cadeira e chorou por alguns minutos, eu fiquei apenas o encarando, não podia fazer muito esforço, não estava sentindo minhas pernas ou braços, mas era parte do medicamento.. Creio eu.Fechei os olhos e comecei a dizer :
- Ta ficando difícil, não to superando - comecei a chorar. - tenho pesadelos sabia? Tudo está tão rápido, que mal consigo acompanhar.. Eu to sofrendo Nicolas.
Tomei coragem e abri os olhos, ele não estava mais lá, e eu... Bem, eu estava sozinha.
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Esboço
RomanceA história de uma louca que foi obrigada a ser, todos os acontecimentos foram arquitetados para sua vida dar errado, mas ela encontra uma luz no fim do túnel, o nome dela é amor.