Capítulo 15

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Onde eu estava?
Ah onde eu estava...
Era até lindo. Mas me assustava.
Por mais que eu quisesse.
Por mais que eu tentasse...
Eu naufragava.
Entrava em um reino novo, um reino incompleto.
Segurava nos cabelos das águas que me cercavam.
E as deixava. Sim deixava.
Elas me levavam para longe.
Flutuando e dançando.
Incompleta. Eu não sei.
Caminhei e segui a canção.
No fim, acordei.

Ou não.. não e não, não se acorda, não se dorme, não se sente, não se respira e nem responsabiliza. Apenas fiquei quieta, sem mais lágrimas para chorar, sem amigos para amar, sem amor para cuidar, sem vida para continuar. Mas será que é assim que acaba? Desse jeito, sereno, sorrateiro e com poucas palavras... Não me lembro, ou talvez eu me lembre. Camila tem asas, belas asas cinzas e desbotadas, não precisava segurar na minha mão, não precisava dizer que estava ali. Não precisava estar ali.

Caminhar pelas águas, das mais obscuras para as mais claras, é como se você fosse infinito, e não precisasse crer que é real ou que é alguma coisa, se for. Não precisa de luz, não precisa de trevas, nem de grama e terra, apenas água. Água pura.

Então, morrer era um sentimento? Um sentimento sem sentido e inexplicável. Mas eu me sentia leve, é como se eu respirasse direito e não precisasse me preocupar com nada. Porque eu estava segurando a mão da Camila mesmo? Ou porque não me lembro quem me matou ou como morri?

- To te segurando pra você não cair, estúpida - disse Camila - e a propósito eu sou um anjo da morte, e ao contrário de Um Olhar do Paraíso você não vai desvendar todo esse mistério e essa chatice toda que você gosta.

- Hm... Ok.

- Você é uma idio..

- Ei lembrei, você me matou!

- Eu tinha pensado isso também, mas você teve uma parada cardíaca mesmo.

- Ótimo. Agora vamos pra onde?

- Pro inferno é claro.

- Mas... Ué..

- Foi uma brincadeira.

- Mas.. ah.. ok. Você já queimou..

- Cala a boca ou eu te deixo cair a qualquer instante.

- Pode me dizer pelo menos pra onde vamos!?

- Vamos para onde todas as almas vão.

Depois disso parei de fazer perguntas pois estava começando a ficar entediante e desinteressante. Não vou nem pro céu nem pro inferno, vou pra um lugar onde pessoas como eu vão, é tipo um pré céu, você atravessa uma ponte, verde, florida e com muitas outras coisas que não prestei atenção.

Depois de atravessar eu fui tomada por espaço, tudo foi tão sei lá, ainda não sei explicar, mas podia sentir meu corpo se desfazendo e minhas lembranças indo embora. Mas ouvi uma voz, uma voz conhecida, que me puxou para aquela realidade.

- Filha.

- Pastor.

- Acho que enfim chegou a sua hora.

- Você também é um anjo da morte?

- Não, eu sou a morte, ela trabalha para mim. - disse ele apontando para Camila.

Ela revirou os olhos e disse algo como "não tenho todo tempo do mundo"

- Pastor? Eu não vou me lembrar mesmo de como morri?

- Tudo tem sua hora criança.

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