Capítulo 11

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 Faltei à aula terça-feira para ir ao psicólogo. Mamãe também faltou ao trabalho e me acompanhou com Marcos. O psicólogo pediu para que mamãe aguardasse e me levou ao assento. Perguntou-me coisas básicas de início, mas aproveitei para lhe contar o que ocorrera, omitindo algumas partes, é claro. Ele assentia e gemia em concordância a cada frase que eu dizia.

A consulta não demorou e ele chamou mamãe para a sala. Explicou que eu estava com um trauma e que precisávamos cuidar senão eu poderia desenvolver outros problemas psicológicos. Ele escreveu algumas recomendações e nos entregou.

- Acha que vou ficar bem, mamãe?

- Com certeza, Penélope. Vamos começar com as distrações. – Mamãe apontou para uma das recomendações.

- Ver séries!

- Nada disso. Você precisa sair mais de casa, espairecer um pouco. – Mamãe abriu a porta do passageiro e entrou. Entrei no banco de trás e Marcos ligou o carro.

- Mas não tem o que fazer fora de casa!

- Passeie com as amigas, crie planos, qualquer coisa que seja fora da nossa casa.

Anotei os locais que gostava de visitar em um bloquinho rosa.

- Até que é uma ótima lista.

Liguei para as meninas e combinei de ir ao cinema.

- Você deveria convidar o Perry! – Léxi disse do outro lado da linha.

- Não, obrigada. Não me sinto pronta para conversar com ele. – Léxi concordou e nos despedimos.

Comecei a me arrumar duas horas da tarde e só terminei às cinco, na hora de ir. Só tive apenas uma crise, enquanto tomava banho, e mamãe me socorreu. Liguei para o Marcos e ele chegou em dez minutos.

- Para onde, senhorita?

- Cinema!

Marcos foi rápido e quando cheguei, vi que as meninas já estavam esperando.

- Não acredito que você veio Miriam. – Exclamei para ela.

- Estava a fim de uma tortura. – Ela respondeu.

- Cala a boca! – Cristina brigou e elas ficaram se encarando.

- Vamos, meninas!

Olhamos os filmes em cartaz e tivemos decisões diversas.

- Então, o que será? – Ana perguntou.

- Comédia romântica! – Léxi e Yasmin suspiraram, enquanto viam um cartaz com um casal se beijando.

- Ah, não, meninas! O último filme a que assistimos juntas foi um desses. Vamos variar! – Disse Cristina e Matilde concordou.

- E se tentássemos um de terror? – Sugeri.

- Credo, Penélope! Não quero ficar com insônia, obrigada. – Matilde disse.

- Então qual vai ser?

Fizemos uma votação e comédia romântica estava ganhando, mas Miriam e Ana ainda não votaram. Ana olhava para os cartazes.

- O que acha, Miriam? – Perguntei.

- Tanto faz.

- Meninas! Encontrei o filme perfeito!

Andamos rápido para perto dela e olhamos para a frente. O cartaz era rosa e possuía uma garota bem-vestida na capa. Comemoramos e compramos os bilhetes, sem mais votações.

O filme era muito divertido e todas nós demos gargalhadas com as aventuras da protagonista, uma patricinha viciada em rosa.

- Parece com você, Ana. – Léxi disse.

- Parece com todas nós, amiga. – Ana disse e rimos.

Aproveitamos e fomos à uma doçaria próxima ao cinema. Comprei jujubas e dois cupcakes de chocolate.

- Esses doces são muito tentadores! – Yasmin gritou e pedimos silêncio.

- Sabe como podem ficar melhores? – Perguntei enquanto colocava jujubas nos cupcakes.

- Como? – Matilde perguntou.

- Com mais doce. – Peguei o chantilly e cobri os cupcakes. Comíamos e sorríamos sem parar.

- Se esse doce tiver alguma substância. – Matilde disse.

- Eu vou querer mais! – Disse e pedi um pedaço de bolo.

- Pê, não esquece: Comer e aproveitar, mas nunca engordar. – Matilde aconselhou.

- É só uma vez. – Fiz biquinho.

Miriam também comia, mas continuava calada e séria. Tentamos puxar assunto, mas ela não aceitou.

- Obrigada, meninas. – Disse.

- Pelo quê? – Ana perguntou.

- Por me ajudarem a melhorar. Aposto que nem vou mais... – Os sinos da porta tilintaram e olhei para quem vinha. Empalideci com o que vi.

Eram eles! Os dois homens que me torturaram por três dias. A mesa em que estava apoiada se tremeu.

- Penélope? – Ouvi uma das meninas falando.

Eles olharam para mim e tentei esconder o rosto, mas meu corpo não mexeu.

- Eles estão mortos, como estão aqui? – Sussurrei no ouvido de Léxi.

- Quem? – Ela perguntou.

O milk-shake da Ana derramou e olhei para as minhas mãos.

- Desculpe. – Disse e saí da loja chorando.

As meninas saíram e me seguraram. Pediram calma e eu tentei me concentrar. Meu corpo parou de tremer e o medo se dissipou.

- O que aconteceu? – Perguntaram.

Olhei para a porta da loja e vi os dois homens que saíram. Eles não se pareciam com os torturadores.

- Eu estou com um trauma, meninas. – Elas colocaram a mão na boca.

Fomos à praça e lhes contei a mesma versão que contei ao psicólogo. Elas disseram que tentariam me ajudar e que compreendiam minha situação. Agradeci e me despedi.

- Como foi o passeio, querida? – Mamãe perguntou.

- Foi ótimo, mamãe.

- Sem problemas?

- Sem problemas. – Comprimi os lábios.

Mamãe avisou que eu poderia voltar às aulas e concordei, sem querer preocupá-la.

- Eu avisarei às suas amigas, se você tiver qualquer crise, elas me ligarão.

- Obrigada, mamãe.

Mamãe beijou meu rosto e desejou boa noite. Peguei o celular e liguei para Léxi.

- Pê! Tudo bem?

- Na medida do possível. Liguei porque tenho algo para contar.

- O quê?

- A história do meu sequestro, sem cortes. 

Salto (Irmandade Rosa 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora