Faltei à aula terça-feira para ir ao psicólogo. Mamãe também faltou ao trabalho e me acompanhou com Marcos. O psicólogo pediu para que mamãe aguardasse e me levou ao assento. Perguntou-me coisas básicas de início, mas aproveitei para lhe contar o que ocorrera, omitindo algumas partes, é claro. Ele assentia e gemia em concordância a cada frase que eu dizia.
A consulta não demorou e ele chamou mamãe para a sala. Explicou que eu estava com um trauma e que precisávamos cuidar senão eu poderia desenvolver outros problemas psicológicos. Ele escreveu algumas recomendações e nos entregou.
- Acha que vou ficar bem, mamãe?
- Com certeza, Penélope. Vamos começar com as distrações. – Mamãe apontou para uma das recomendações.
- Ver séries!
- Nada disso. Você precisa sair mais de casa, espairecer um pouco. – Mamãe abriu a porta do passageiro e entrou. Entrei no banco de trás e Marcos ligou o carro.
- Mas não tem o que fazer fora de casa!
- Passeie com as amigas, crie planos, qualquer coisa que seja fora da nossa casa.
Anotei os locais que gostava de visitar em um bloquinho rosa.
- Até que é uma ótima lista.
Liguei para as meninas e combinei de ir ao cinema.
- Você deveria convidar o Perry! – Léxi disse do outro lado da linha.
- Não, obrigada. Não me sinto pronta para conversar com ele. – Léxi concordou e nos despedimos.
Comecei a me arrumar duas horas da tarde e só terminei às cinco, na hora de ir. Só tive apenas uma crise, enquanto tomava banho, e mamãe me socorreu. Liguei para o Marcos e ele chegou em dez minutos.
- Para onde, senhorita?
- Cinema!
Marcos foi rápido e quando cheguei, vi que as meninas já estavam esperando.
- Não acredito que você veio Miriam. – Exclamei para ela.
- Estava a fim de uma tortura. – Ela respondeu.
- Cala a boca! – Cristina brigou e elas ficaram se encarando.
- Vamos, meninas!
Olhamos os filmes em cartaz e tivemos decisões diversas.
- Então, o que será? – Ana perguntou.
- Comédia romântica! – Léxi e Yasmin suspiraram, enquanto viam um cartaz com um casal se beijando.
- Ah, não, meninas! O último filme a que assistimos juntas foi um desses. Vamos variar! – Disse Cristina e Matilde concordou.
- E se tentássemos um de terror? – Sugeri.
- Credo, Penélope! Não quero ficar com insônia, obrigada. – Matilde disse.
- Então qual vai ser?
Fizemos uma votação e comédia romântica estava ganhando, mas Miriam e Ana ainda não votaram. Ana olhava para os cartazes.
- O que acha, Miriam? – Perguntei.
- Tanto faz.
- Meninas! Encontrei o filme perfeito!
Andamos rápido para perto dela e olhamos para a frente. O cartaz era rosa e possuía uma garota bem-vestida na capa. Comemoramos e compramos os bilhetes, sem mais votações.
O filme era muito divertido e todas nós demos gargalhadas com as aventuras da protagonista, uma patricinha viciada em rosa.
- Parece com você, Ana. – Léxi disse.
- Parece com todas nós, amiga. – Ana disse e rimos.
Aproveitamos e fomos à uma doçaria próxima ao cinema. Comprei jujubas e dois cupcakes de chocolate.
- Esses doces são muito tentadores! – Yasmin gritou e pedimos silêncio.
- Sabe como podem ficar melhores? – Perguntei enquanto colocava jujubas nos cupcakes.
- Como? – Matilde perguntou.
- Com mais doce. – Peguei o chantilly e cobri os cupcakes. Comíamos e sorríamos sem parar.
- Se esse doce tiver alguma substância. – Matilde disse.
- Eu vou querer mais! – Disse e pedi um pedaço de bolo.
- Pê, não esquece: Comer e aproveitar, mas nunca engordar. – Matilde aconselhou.
- É só uma vez. – Fiz biquinho.
Miriam também comia, mas continuava calada e séria. Tentamos puxar assunto, mas ela não aceitou.
- Obrigada, meninas. – Disse.
- Pelo quê? – Ana perguntou.
- Por me ajudarem a melhorar. Aposto que nem vou mais... – Os sinos da porta tilintaram e olhei para quem vinha. Empalideci com o que vi.
Eram eles! Os dois homens que me torturaram por três dias. A mesa em que estava apoiada se tremeu.
- Penélope? – Ouvi uma das meninas falando.
Eles olharam para mim e tentei esconder o rosto, mas meu corpo não mexeu.
- Eles estão mortos, como estão aqui? – Sussurrei no ouvido de Léxi.
- Quem? – Ela perguntou.
O milk-shake da Ana derramou e olhei para as minhas mãos.
- Desculpe. – Disse e saí da loja chorando.
As meninas saíram e me seguraram. Pediram calma e eu tentei me concentrar. Meu corpo parou de tremer e o medo se dissipou.
- O que aconteceu? – Perguntaram.
Olhei para a porta da loja e vi os dois homens que saíram. Eles não se pareciam com os torturadores.
- Eu estou com um trauma, meninas. – Elas colocaram a mão na boca.
Fomos à praça e lhes contei a mesma versão que contei ao psicólogo. Elas disseram que tentariam me ajudar e que compreendiam minha situação. Agradeci e me despedi.
- Como foi o passeio, querida? – Mamãe perguntou.
- Foi ótimo, mamãe.
- Sem problemas?
- Sem problemas. – Comprimi os lábios.
Mamãe avisou que eu poderia voltar às aulas e concordei, sem querer preocupá-la.
- Eu avisarei às suas amigas, se você tiver qualquer crise, elas me ligarão.
- Obrigada, mamãe.
Mamãe beijou meu rosto e desejou boa noite. Peguei o celular e liguei para Léxi.
- Pê! Tudo bem?
- Na medida do possível. Liguei porque tenho algo para contar.
- O quê?
- A história do meu sequestro, sem cortes.
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Salto (Irmandade Rosa 1)
ActionPenélope se transforma em uma heroína ao se deparar com um desafio e luta pela paz da cidade, encontrando criminosos e homens inescrupulosos. Mas Penélope acaba desvelando crimes mais ocultos, segredos e promessas destrutivos que trazem ameaças a el...