Capítulo 2

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- Senhorita. – Chamava Marcos e me balançava.

Minha cabeça doía e tive dificuldades para abrir os olhos. Ao recobrar os sentidos, tomei uma grande quantidade de oxigênio e meus pulmões doeram. Eu estava na minha cama e Marcos segurava um copo de água.

- Beba um pouco.

- Obrigada, Marcos. Onde está a... – Alguns flashes vieram a minha mente e me lembrei dos acontecimentos. – Meu Deus, Marcos, minha mãe foi sequestrada!

- O que disse, senhorita? Tem certeza de que não é algum delírio causado por...

- Acha que bebi? Marcos eu não bebo! – Saltei da cama e andei em círculos com as mãos na cabeça. – Eles a levaram, Marcos. A luz estava falhando, mas eu me lembro. Eles levaram minha mãe.

Meus olhos arderam e senti um aperto. Chorei e berrei pela minha mãe, desolada e desesperada. Marcos tentava me consolar, pedia calma e dizia que tudo ficaria bem, mas eu vi as lágrimas dele rolando e seu rosto aflito. Abracei-o e chorei em seu ombro. Depois de um longo tempo choramingando, me cansei e dormi.

Acordei e em segundos me lembrei. Contive a vontade de chorar e fui atrás de Marcos, pois precisávamos agir rápido.

- Precisamos ligar para a polícia. - Exclamei ao encontrá-lo na cozinha, falando com o cozinheiro.

- Senhorita, eu espero que não se incomode, mas tomei a liberdade de fazer essa ligação.

- Você já ligou?

- Estão vindo.

Andei até a sala e me sentei no sofá, minhas mãos e pernas tremendo. Em poucos minutos a campainha tocou e corri para a porta. Três policiais pediram para entrar e eu os puxei.

Houve um demorado interrogatório que não parecia levar a nada. As perguntas e respostas não traziam pista alguma de quem tenha feito o sequestro.

- Eu preciso que vocês ajam rápido!

- Nós faremos o possível, mas precisamos de sua cooperação. Se houver alguma outra informação que precise nos contar...

- Não, eu não tenho mais nada. Agora vão, trabalhem! – Enxotei-os.

- Ligaremos se descobrirmos algo. – Disse um deles e ambos saíram.

Bebi um pouco de água e tentei me acalmar. Apanhei o telefone e liguei para todas as irmãs rosa. Todas combinaram de ir me visitar à tarde, quando voltassem da escola. Olhei para o relógio e me assustei ao perceber que já eram nove horas da manhã. Disquei o número da escola e expliquei o motivo da falta.

Passei o tempo comendo e trocando os canais de TV. Às doze horas, as meninas da irmandade tocaram a campainha e me animei um pouco. Contei-lhes os detalhes e chorei mais, elas me abraçaram e deram palavras de apoio. Miriam nos observava, mas me ofereceu um aceno, respondi igualmente e voltei a falar com as outras.

As meninas tentaram me animar e me tiraram alguns sorrisos, agradeci a todas por isso. Partiram às duas horas da tarde e Léxi ficou comigo.

- Obrigada por ficar, Léxi.

- Você sabe, não é? Além de irmãs rosa, somos melhores amigas. Que as outras não ouçam isso. – Sorri e dei-lhe outro abraço.

Assistimos novamente ao filme que ela me emprestou, porém não me concentrei muito.

- Sabe o que mais me dói, Léxi?

- O quê?

- O fato de eu não tê-la salvado. Eu estava ali, com os três a minha frente e não pude fazer nada.

- Mas você não podia, Pê, não havia o que fazer.

- Lutar, eu deveria lutar. Eu odiei perceber que não conseguia, perceber que era uma indefesa ali. Eu não quero ser assim, Léx.

- Tudo bem, Pê. - Ela me ofereceu um meio sorriso e paramos de conversar.

Léxi resolveu dormir em minha casa naquela semana. Passaram-se dois dias e não recebi nenhuma notícia sobre a minha mãe. Também não fui à aula nesses dias, não me sentia preparada.

Eu e Léxi conversamos sobre outros assuntos, mas nossas mentes estavam focadas no sequestro.

- Já é quinta-feira e nada!

- Fica tranquila, Pê. Logo você vai receber algo. – O telefone tocou. – Podem ser eles!

Sorri e tropecei até chegar ao telefone.

- Alô?

- Penélope? – A voz era robótica e meu corpo estremeceu.

- Quem é?

- Nós estamos com sua mãe. Se quiser que ela volte viva, nos entregue a quantia que mandaremos por mensagem. Você terá um prazo de três meses.

- E se eu já tiver o dinheiro, vocês soltam minha mãe? – Lagrimas desceram por meus olhos e me enchi de esperança.

- Sinto muito, mas só depois dos três meses.

- Por que não antes?

- Porque não e não nos questione.

A linha do outro lado foi desativada e eu abaixei a cabeça na mesa, chorando. Léxi se aproximou e perguntou o que houve. Contei-lhe e ela me deu a ideia de ligar para a polícia, assim eles localizariam o telefone.

Liguei para a delegacia e disse meu número. Eles prometeram mandar notícias e desligaram para trabalhar.

- Espero que consigam.

- Eu também, Pê. Já sabe a quantia?

Olhei meu celular e abri uma nova mensagem recebida.

- Quinhentos mil reais! Por que eles exigiriam tão pouco?

- Devem ter esquecido que você é milionária, Pê.

- Não é algo muito fácil de esquecer.

Quinta à noite recebi uma ligação da delegacia. Eles alegaram tentar tudo, mas o número estava criptografado e parecia impossível de ser decodificado. Chorei para Léxi e expliquei. Ela pediu meu número e abriu o laptop.

- Sério que não conseguiram decodificar isso? É uma das partes mais básicas para um hacker profissional!

- Você consegue?

- Consigo sim. Só me dê um tempo.

Pulei de alegria e a abracei. Fui ao quarto e deixei-a na sala para que se concentrasse. Enquanto o tempo parecia infinito, pensei em tudo sobre esse sequestro. Cheguei a uma louca decisão e desci para contar à Léxi.

- E se eu for salvá-la?

- Do que você está falando, Pê? Enlouqueceu?

- Não, Léxi, pense bem. Os policiais foram incompetentes e parecem não dar a mínima para esse caso. Uma invasão deles aumentaria a chance da mamãe ser morta, tanto pela incompetência como pelo susto que os sequestradores terão.

- Penélope, você não sabe lutar.

- Eu posso treinar! Eles deram três meses. É claro que quero salvá-la o quanto antes e vou me preparar para isso. Léxi, talvez essa seja a melhor chance da mamãe.

- Uma chance bem arriscada.

- Por favor, confie em mim. Você estará monitorando, se não der certo você liga para a delegacia. Léxi, eu não sou indefesa e estou disposta a demonstrar isso.


Salto (Irmandade Rosa 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora