Capítulo 9

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Escutei o estalar de chicotes dançando nas mãos deles. Sofri antes de sentir os toques. O ressoar me enlouquecia e pareciam serpentes, prontas para atacar em meio às sombras. Eram estridentes ao tocarem o chão liso do esconderijo, fazendo espirais. Sem cessar.

- Isso mesmo, heroína. – Sorriu um deles.

Meus pelos eriçaram e ele atacou. A chicotada atingiu meu braço e vi a área vermelha. Lágrimas brotaram e tentei pedir para que parasse, mas ainda estava com a boca vendada. Eles riram e continuaram. Ambos atacaram dessa vez e a dor foi maior. As chicotadas não pararam e soltei gritos sufocados. Não só minha garganta gritava, mas todo o meu corpo. Não conseguia mais saber onde havia sido atingida, pois a dor era espalhada.

Então eles pararam. Chorei mais um pouco, pela dor causada e pelo alívio que chegou. Debaixo da fraca lâmpada amarela, eu os vi franzir o cenho. Pareciam compadecidos com minha situação e soltaram os chicotes no chão.

- Coitadinha. – Disse um, o que me acertara por trás antes de desmaiar.

- Deixaremos que descanse. Mais tarde vai receber mais. – E seus rostos se transfiguraram em escárnio.

Partiram e me deixaram chorando. Tentei me acalmar e desacelerar a respiração. Observei o que podia do cenário, buscando algo que me ajudasse na fuga. Os chicotes ainda estavam ali, mas eu não sabia onde colocaram meus saltos. Minhas pernas latejavam e me desconcentravam. Não conseguia pensar em muitas coisas além da dor. Balancei meu corpo ao máximo para sair dali. Percebi que o máximo era um milímetro, então decidi desistir por enquanto. Fechei os olhos e pensei em coisas aleatórias, querendo fugir da dor para, enfim, dormir. Com muito esforço, eu consegui.

- Acorda, garota! Já dormiu demais.

Abri os olhos e a dor voltou. Além das lesões, senti meus músculos doloridos pela má posição. O homem desamarrou o pano e o tirou da minha boca.

- Deixem-me em paz, seus monstr... – Ele tapou minha boca com uma colher. Tentei empurrá-la com a língua, mas ele persistiu e eu desisti.

Olhei para o prato em suas mãos e entendi que era mingau.

- Gostoso? Não importa, você vai ter de comer. Precisamos de você viva para sentir dor.

- Por favor. – Meus olhos lacrimejaram e ele colocou outra colherada em minha boca.

- Nós estamos pensando no que vamos fazer com você. Uma das nossas ideias seria fazê-la sofrer até a soltura dos nossos amigos.

- Por favor, não. Por favor! – Supliquei.

- Mas tivemos uma nova ideia. Como somos homens sensíveis, decidimos lhe dar uma chance. Vamos mantê-la aqui por mais dois dias, no último dia tiraremos o seu disfarce e veremos se vale a pena pedir um resgate.Torça para que valha. – Deu mais uma colherada quando tentei falar. – E não pense que vai ficar tranquila nesses dias. Viremos castigá-la.

Forcei o mingau pela garganta e outra lágrima caiu. Sofri só de pensar nas chicotadas de novo.

- E se ela quiser ir ao banheiro? – Perguntou o outro homem.

Ele pensou por um tempo, então disse:

- Tudo bem em ficar de pernas amarradas?

Neguei com a cabeça e ele sorriu.

- Ótimo!

Revirei os olhos e levei uma tapa. Ele soltou meus braços e corpo e me levou ao banheiro. Trancou a porta e disse que eu teria cinco minutos.

Salto (Irmandade Rosa 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora