Capítulo 15

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Saltei na janela e tentei trocar de roupa no escuro. Retirei os óculos e a peruca, quando a luz do quarto se acendeu e tomei um susto. Mamãe olhava para mim, com os braços cruzados e olhos semicerrados.

- Oi, mamãe. – Cumprimentei.

- Você disse que já tínhamos resolvido isso.

- Mamãe...

Ela pegou o jornal do dia, o mesmo que Perry mostrara no intervalo. Mostrou-me e apontou para a manchete.

- Mamãe, eu juro que não fiz isso. Eu jamais mataria alguém!

- Eu sei!

Surpresa, não sabia o que falar em seguida.

- Eu sei quem fez isso. E por mais que não queira que você saiba mais sobre isso e corra mais riscos, acho que preciso lhe contar.

- Contar o quê?

- Uma história da qual tenho vergonha. Um segredo.

Mamãe fechou a janela e se sentou na cama, deu tapinhas nela, para que eu me sentasse também.

- Que história, mamãe?

- Filha, antes quero que saiba que estou arrependida. Mas nada posso fazer sobre isso. Por favor, perdoe-me.

- Perdoar do quê?

Mamãe engoliu um nó e respirou fundo.

- Quando estudávamos juntas, as irmãs rosa da 1ª geração, decidimos formar uma irmandade. Com essa irmandade, criamos também um conjunto de leis para os membros, como você sabe. E há uma lei que nos impede claramente de contar os segredos das outras, sem o consentimento. Filha, nosso defeito foi que valorizamos demais aquele papel rosa. Nós somos responsáveis pelo valor que atribuímos a um objeto. As irmãs da 1ª geração tornaram aquele acordo maior do que as próprias leis do país.

Assenti, confusa. Eu ainda não entendia aonde mamãe queria chegar. Mas esperei que ela continuasse.

- Houve uma das nossas irmãs que sofreu muito. Mais do que qualquer uma de nós. Por que seu pai foi assassinado ao tentar reagir a um assalto.

- Isso é horrível!

- Sim, filha. Foi horrível. E ela não conseguia seguir em frente. Chorava todos os dias e vivia solitária, sem ir à escola ou qualquer outro lugar. Tentamos consolá-la, mas ela também não quis ficar conosco.

- Então?

- Passou-se muito tempo, até que ela apareceu em uma das nossas reuniões. Ficamos muito felizes e queríamos comemorar, pensávamos que ela finalmente seguira em frente. Estávamos erradas.

Mamãe ficou calada por um tempo, recuperando-se de algo que eu não sabia. Seus olhos ainda estavam secos, mas pareciam prestes a se molharem.

- Ela disse que não ficaria bem até que a justiça fosse feita. Sugerimos que ela fizesse um depoimento na delegacia, mas ela disse que já havia feito. Perguntamos o que ela queria que fizéssemos, essa foi a pior coisa que poderíamos ter feito.

Mamãe fungou e inspirou devagar.

- Tudo bem, mamãe.

- Ela disse que iria fazer a justiça. Iria atrás do ladrão e o mataria. Nós discordamos e dissemos que ela estava se precipitando. Discutimos muito, mas ela não mudou de ideia e disse que faria aquilo com ou sem a nossa ajuda. Cogitamos contar à polícia, mas isso era um segredo e estaríamos traindo a ela e toda a irmandade. Ao menos pensávamos assim.

Salto (Irmandade Rosa 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora