Capítulo 3

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 Pedi a Marcos que comprasse um saco de pancadas e luvas de academia, ele hesitou, mas acatou e partiu. Era manhã de sexta-feira e decidi retornar à escola a partir de segunda. Meu humor melhorara muito e me vi esperançosa. Pedi ao cozinheiro que fizesse um café da manhã reforçado, pois precisaria de muita energia para o dia.

Após comer aquelas bombas de carboidratos, liguei a TV e esperei por Marcos. Ele chegou antes que o filme acabasse e fui atendê-lo aos pulos. Havia trazido, como pedi, o saco e as luvas. Peguei-os e fui ao porão.

- Marcos, poderia colocá-lo aqui? – Indiquei o lugar próximo onde minha mãe estava naquela noite.

Marcos colocou no devido lugar e me encarou com as sobrancelhas arqueadas. Respondi também arqueando uma sobrancelha e ele se retirou após acenar.

- Agora somos só você e eu. – Coloquei as luvas e fiz pose de luta.

Bati naquele saco durante toda a manhã. Minhas mãos doíam e às vezes o saco me derrubava após ser socado. Léxi desceu ao porão e me deu um abraço.

- Pê! Tem certeza de que quer tentar isso? Não me parece muito satisfeita.

- Está tudo bem, Léx. É apenas o primeiro dia.

- Pê...

- Sério, Léx. Olha como sou boa com isso. – Dei vários socos no saco e sorri. Apertei uma mão na outra, tentando amenizar a dor.

- Estou vendo...

Fomos ao meu quarto e Léxi contou as últimas novidades. Revelou que Perry estava com saudades e enrubesci.

- Não precisa ficar envergonhada. Agora vem, vamos almoçar. – Puxou-me e fomos à sala.

Havia um enorme banquete e só duas cadeiras, uma em cada ponta. Sentamo-nos e experimentamos o pernil.

- Está incrível, Pê. – Comeu mais um pouco e tossiu. – Não é dando razão ao seu pai, mas talvez ele esteja certo sobre vocês precisarem de um homem na família.

- Não precisamos! Estamos muito bem sem ele ou qualquer outro! Afinal temos o Marcos, o cozinheiro, o jardineiro...

- Os empregados, já entendi. Mas você não se sente um pouco... – Coloquei o garfo no prato, ainda com comida.

- Indefesa? – Léxi afirmou. – Estou trabalhando nisso.

- Não seria tão romântico se sua mãe encontrasse um homem que a amasse.

- Sem homens.

- Está bem.

Entendia porque Léxi não confiava em mim, nem mesmo eu confiava! Precisava treinar incessantemente, até que percebesse o quão independente sou.

Léxi perguntou se eu não queria assistir à outra comédia romântica, recusei e disse que ia treinar. Coloquei as luvas e inspirei. Soquei com a mão direita em curva, depois fiz o mesmo com a esquerda. Repetia devagar, tentando acompanhar e compreender melhor meus movimentos. Lembrei-me do incidente e do quanto queria bater naqueles três homens cobertos. Minhas mãos foram acelerando e eu perdi a concentração, imersa naquele passado. Depois de minhas mãos ficarem dormentes, continuei até ouvir um barulho.

- Minha unha! – Gritei e uma lágrima desceu com teimosia.

- Tudo bem, Pê?

- Eu quebrei uma unha. – Choraminguei e ela ficou boquiaberta.

- Precisamos consertar isso. Agora! – Aproximou-se e pegou minha mão, não saí do lugar.

- Não. Eu não posso me desesperar só porque quebrei uma unha, preciso ser forte. – Outras lágrimas desceram e me senti sufocada, então cedi. – Vamos.

Salto (Irmandade Rosa 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora