Capítulo 21

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Léxi – Um mês depois

- Cheguei, mãe! – Abri a porta pulando e procurei pelo almoço. – Ainda não chegou.

Logo no dia de folga dos empregados! Eu estava louca para comer e decidi fazer um dos meus melhores pratos: Ovos mexidos!

Coloquei a mochila em cima da cama e troquei as roupas. Pus minha saia rosa e minha camiseta azul-claro com bombons brancos estampados e me olhei no espelho.

- Linda e casual. – Sorri.

Liguei a TV em um canal de música e parti para a cozinha com a barriga roncando. Minha cozinha é pequena, mas muito aconchegante, então aproveitei para sentir o cheirinho dela, temperos misturados. Liguei o fogão elétrico e escolhi uma das três frigideiras para torrar os ovos. Um pouco de manteiga, dois ovos quebrados à beira e voillá. Tocava uma música pop e me remexi com o ritmo, mesmo sem conhecer a música. A música terminou e os ovos começaram a estalar me provocando pulinhos de medo.

A porta se abriu e ansiei para ver minha mãe e reclamar do atraso.

- Mãe?

A porta se fechou e não recebi nenhuma resposta.

- Algum problema no trabalho? Quer ovos?

Minha mãe estava naqueles dias de estresse. Preferi não adular mais e continuar com a música e os estalidos.

- Não é a mamãe, é a maninha. – Ouvi Miriam dizer suavemente ao entrar na cozinha.

- Miriam! – Olhei para o facão em sua mão e me lembrei daquilo dentro da Matilde, sugando sua vida. Gritei e senti meu corpo paralisando.

- Não vamos demorar.

Eu estava congelada de medo, é um fato, mas não poderia. Eu não poderia esperar enquanto sentia aquela faca em meu peito. Preciso de alguma coisa, preciso de uma arma. Ah, Salto, por que você não me ensinou a lutar? Senti o cheiro do ovo e olhei para ele.

- Fique tranquila, querida. – Ela girou o facão e se aproximou.

Encarei-a por milissegundos e joguei os ovos fritos em sua direção. Ela se desviou para o lado e só foi atingida em uma parte do braço.

- Muito quente para uma criança.

- Sai! – Gritei e corri com a frigideira.

Com a surpresa, consegui afastá-la para a porta da cozinha e recuei para o fogão.

- Saia daqui! – Apontei a frigideira com as mãos tremendo.

- Uma frigideira? – Ela riu e senti ondas em meu corpo.

Procurei por algo que me desse segurança e puxei a outra frigideira. Recuei para o fim da cozinha e bati na geladeira. Miriam se aproximou e ergueu o facão, me fazendo tacar a frigideira nele. Começou a mexer o facão em movimentos lentos e defendi com as duas frigideiras, com medo de escorregar em algum momento. Ela riu e percebi que estava fazendo um jogo comigo.

- Gostando da esgrima? – Perguntou e saltei para ela balançando as frigideiras.

Ela defendia com o facão e os pulsos, raramente gemendo de dor. Eu gritava e usava mais força, afastando-a da cozinha e finalmente fazendo-a tropeçar no batente mais alto que dividia a sala do quarto. Sua faca também caiu e senti um alívio. Aproximei-me e tentei pegar a faca. Sua perna me atingiu e me derrubou com um susto.

- Não sou tão fácil. – pegou o facão e pôs sob meu pescoço. – Dê-me as frigideiras.

Ela puxou as duas e jogou-as na cama. Puxou a gola da minha camisa e me fez levantar, depois me empurrou para a sala. Recuei rápido para a cozinha, mas me sentia cansada, quase rendida. Meus músculos retidos, mas querendo relaxar, eu não sabia por quanto tempo mais duraria ali.

- E agora, Léxi? Sem frigideiras?

Olhei para a fruteira baixa e segurei o cabo da outra frigideira. Tentei fingir que não havia nada atrás de mim.

- Por que você fez isso, Miriam? A Matilde nunca nos fez mal algum! E a Carola também.

- A Matilde parecia espertinha demais, suspeitei que ela soubesse de algo e não poderia deixar uma informação assim correr solta, não é mesmo, Léxi? Você deve entender como é saber demais.

Eu estava com medo de revelar a frigideira e perder minha última chance de vida, mas ela se aproximava da porta da cozinha.

- Acho que o jogo acabou, não? – Miriam disse e girou a faca de novo.

Minhas mãos tremiam e tentei forçá-las a ficarem firmes. Fechei a mão direita no cabo e joguei a frigideira para Miriam. A frigideira atingiu sua boca e seu queixo, fazendo-a gritar um "ai".

- Essa casa é repleta de frigideiras! – Disse e tentou olhar para o lábio inferior puxando-o. – Isso vai inchar, sua idiota.

Ela pulou a minha frente e chutou meu estômago. Eu me balancei por dentro e caí com a dor. Miriam chutou minha cabeça para a frente e caí com ela do outro lado. Ela abriu as pernas e andou por cima de mim. Apontou a lâmina para o meu coração e engoli em seco. Eu nem conseguia fazer uma cara de horror, meu corpo finalmente havia paralisado totalmente. Ela sorriu de deleite e vi o cabo do facão vindo antes de ser apagada.

- Bom dia, maninha. Sabe que dia é hoje? Não? Hoje é domingo, ninguém trabalha aqui na escola.

Forcei a vista e olhei os arredores. Estávamos em uma sala de aula grande e com poucas cadeiras, suspeitei ser a sala do 3º ano.

- Perdoe-me se a deixei calada, mas não posso admitir erros no que vou fazer.

Olhei para baixo e vi uma parte do pano que amarrava minha boca com muita pressão. Tentei balançar meu corpo para me livrar de alguma amarra, mas não resultou em nada, se algo mexeu foi apenas o meu nariz e os olhos. Era sufocante! Eu queria mexer ao menos minhas mãos, mas estavam amarradas ao assento da cadeira.

- Alô, Penélope.

- Um! – Gemi em desespero.

- Sim, sou eu mesma, a Miriam. Advinha com quem eu estou? Isso! Bem, então venha hoje à noite aqui e sem companhia. Onde estou? Direi na hora certa. Adeus, maninha.

Miriam desligou o celular e sorriu de orelha a orelha. Era medonho!

- Quer saber o que farei, Léxi? Eu vou esperar que a Penélope venha e a matarei a sua frente, depois eu mato você, assim ninguém mais saberá sobre mim, não? Obrigada por terem guardado meu segredo, meninas. Provaram ser verdadeiras irmãs rosa. 

Salto (Irmandade Rosa 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora