Capítulo 1

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     Acordei meio confusa naquela manhã. Minha cabeça doía demais e meus braços pareciam ter sido amassados por um daqueles rolos compressores. Sentei-me na cama e tentei me localizar, sentindo o mundo dar um giro maluco, me provocando náuseas. Foi então que eu o vi, sentado diante de mim.

     – Oi - o garoto sorriu timidamente para mim. Tinha olhos verdíssimos, cabelos negros e pele olivácea. E um cheiro salgado. Cheiro de mar.

     – Quem é você? Onde... Onde estou? - perguntei, completamente tonta.

     – Meu nome é Percy. Está tudo bem, sério. Você está segura aqui. Olhei para ele.

     – Percy - repeti. - Onde é aqui? Onde estou?

     – É complicado explicar... Mas, ei, você está meio verde, está se sentindo bem?

     – Não - resmunguei. - Diga o que está acontecendo... Isso aqui é um... Chalé?

     Percy suspirou e cruzou os braços sobre o peito. Usava uma camiseta laranja, calças jeans folgadas e chinelos de dedo. Parecia ter se vestido correndo. Senti-me estranhamente segura perto dele.

     – Percy? - uma voz feminina chamou de longe.

     Uma garota loura surgiu ao lado de Percy com um olhar estupefato e cabelos bagunçados. Ela me olhou como se eu tivesse cinco olhos e três narizes.

     – É ela? - a menina perguntou.

     – Sim - disse Percy, preocupado.

     Então ele olhou para mim, sério.

     – Eu sou seu irmão, Pepper. Você e eu somos filhos de Poseidon... sim, Poseidon o deus grego, e... hum... Estamos muito ferrados, irmãzinha. Ferrados do pior tipo possível. Hum... surpresa! Eu acho.

     Olhei para Percy, completamente perturbada com o que ele acabara de me dizer. Ele era meu irmão? Eu não tinha irmãos. Poseidon era nosso pai? O deus grego dos mares e terremotos? Sério? Não parecia muito provável. E de que encrenca Percy falava? Por que estávamos ferrados do pior tipo possível? Por que a garota loura de olhos cinzentos me encarava daquele jeito ameaçador?

     – É tudo um grande mal entendido - consegui dizer, os lábios trêmulos e molengas. - Eu não sou sua irmã, Percy, não é possível. Minha mãe chama-se Alice e eu vivo com ela em Nova Jersey desde que nasci. Meu pai se chamava John. Ele morreu no 11 de setembro. Essa coisa de Poseidon é loucura...

     – Nem perca seu tempo, Percy - disse a menina loura, hostil. - Ela só vai acreditar vendo por si mesma. Deve estar com os miolos cheios de Névoa.

     Percy franziu a testa para a rabugenta.

     – Annabeth, pare. Olhe como ela está. Não se lembra do seu primeiro dia no Acampamento? O quanto foi difícil aceitar a verdade?

     Annabeth, a loura chata, revirou os olhos e sacou do cinto algo que me lembrava uma faca de cozinha, só que maior, mais antiga e mais bonita. ''Adaga'', pensei para mim mesma, surpreendendo-me. Ei, eu sabia dessas coisas. Mitologia grega e romana. O pessoal na escola vivia tirando sarro porque eu sempre fui ótima em história e sabia demais sobre a civilização grega antiga. Caramba. Eu era... inteligente? Não me lembrava de ser inteligente. Fora expulsa de duas escolas por tirar notas muito ruins e acabar com patrimônios públicos escolares. Mas... eu sabia sobre coisas como Mitologia, guerras antigas e tudo o mais. Que estranho, eu simplesmente sabia. Mamãe me contava histórias quando eu era pequena. Medusa, Circe, Midas, Narciso, Jasão... Zeus, Hades e... Oh, caramba. Poseidon também. Lembro que ela parecia apaixonada quando descrevia o deus. Eca. Mil vezes eca.

Filha Das ÁguasOnde histórias criam vida. Descubra agora