Capítulo 15

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E ali estávamos nós, no autêntico e brilhante Monte Olimpo.

Nossa visita aos deuses começou de modo desconfortável por dois motivos. Um: havia apenas dois deuses "maiores" por lá. Dois: eram Deméter e Afrodite. Não me interessava falar com nenhuma das duas, então fiquei meio de canto, admirando o lugar. Drew explodia de orgulho por ver a mãe e listava todos os seus grandes feitos, que resumiam-se a juntar casaizinhos no Acampamento só para separá-los logo depois. Ridícula. Afrodite esforçava-se para prestar atenção, mas era óbvio que estava entediada. Preciso dizer o quanto a deusa era deslumbrante? Acho que não. Deméter nos recebeu com um sorriso caloroso, ofereceu a cada um uma caixa de cereal com fibra extra e foi só isso. Ela nos deixou com Afrodite diante dos tronos vazios dos deuses e foi, sei lá, cuidar das suas plantações de trigo.

Percy e Annabeth disseram que precisavam resolver alguns assuntos e que nos deixariam (Drew e eu) dando uma volta pelo Olimpo até voltarem. Eu odiei a ideia, mas estava tão deslumbrada com a beleza ao meu redor que não me dei ao trabalho de reclamar.

Larguei Drew com a mãe obcecada e fui caminhar pelas ruas iluminadas. Seres mágicos transitavam por toda parte, alguns trabalhando, outros rindo e tocando músicas alegres. Ninfas acenaram para mim quando passei por um grupo e um sátiro piscou para mim, deixando-me vermelha de vergonha.

Continuei a caminhar tranquilamente, quando algo importante realmente aconteceu.

Finalmente.

Eu o vi de relance, mas alguma coisa naquela figura distante chamou minha atenção. Era tão familiar... Aproximei-me, mas não muito. Eu não queria intimidá-lo com minha presença provavelmente desagradável. Ele parecia ocupado, lendo (quem diria!) uma espécie de pergaminho amarelo desgastado. Mesmo de longe, constatei que era um homem de certa forma bonito. Alto, musculoso, olhos cor-de-mar e cabelos negros. Tão parecido com Percy... Meus olhos encheram-se de lágrimas. Aquela era a primeira vez que eu via meu pai. De verdade. Não era como nos sonhos perturbadores que eu geralmente tinha. Meu pai estava a menos de dez metros de mim e era real.

Escondi-me atrás de uma coluna do que parecia ser um templo e observei Poseidon um pouco mais de perto. Ele estava tão pensativo e distraído que eu duvidava que me notasse.

– Sei que você está aí, garota.

Retesei-me, sentindo o sangue gelar e o coração disparar.

– Vamos, saia. Creio que precisamos ter uma conversa.

Mordi o lábio e saí de trás da coluna. Poseidon estava mais perto do que eu achava e seus olhos verdes estavam sobre mim. Eu simplesmente não sabia o que dizer. Era tão constrangedor...

– Oi - sussurrei, sem muita coragem de olhá-lo nos olhos.

– Então você está aqui - ele suspirou, a voz tranquila como ondas suaves. - Perseu não me avisou de sua visita.

Não disse nada. O que eu diria?

– Bem, eu sou seu pai, caso não tenha notado ainda. E eu... - seus olhos ficaram tristes por um segundo. - Eu sinto muito pelo que houve com sua mãe. Era uma mulher respeitável e corajosa e não merecia o destino que levou. Sinto por isso.

Assenti devagar.

– Ela era ótima - consegui murmurar.

– E ruiva - Poseidon sorriu, fazendo as rugas ao redor de seus olhos salientarem-se. - Você parece muito com ela, Mary Elizabeth.

Arregalei os olhos, completamente chocada.

Poseidon riu.

– Sim, eu sei seu nome, criança. Sou seu pai, afinal. Para falar a verdade, fui eu que escolhi o segundo nome.

Filha Das ÁguasOnde histórias criam vida. Descubra agora