Capítulo 7

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– Seja muito bem-vindo ao nosso Acampamento, senhor Ares - murmurou o sátiro ao meu lado. Sua expressão era covarde.

– Oh, Perseu - ronronou Ares, cruzando os braços super bombados. - Sempre tão cordial. Como seu pai, não é?

Mordi o lábio.

– O que você quer, Ares? - insistiu Percy, impassível.

O deus riu sem humor. E olhou para mim.

– Vim conhecer minha prima, ora. É essa garota, não é mesmo? Hum... pequena demais. Mas mesmo assim...

Minha garganta se fechou. Ele estava me avaliando. Senti uma raiva descontrolada naquele instante, mas me controlei. Quanto menos eu chamasse atenção, melhor.

– Qual é o seu nome, pequena semideusa? - ele sorriu, dando um passo em minha direção.

Percy o bloqueou.

– Deixe-a em paz. Por que você veio, de verdade?

– Pepper - respondi por impulso, concentrada nos olhos em chamas de Ares. Chamas, fogo... eu devia me lembrar de...

Ouvi um trote suave se aproximar de nós.

Quíron.

– Lorde Ares - cumprimentou o centauro. - O que o traz por aqui? Creio que esta é uma visita inédita, não?

– Velho, eu não tenho muito o que fazer aqui. Já estou de saída.

– É claro que está - assentiu Quíron, tranquilo.

Ares rosnou baixo e olhou para mim.

– Não a percam de vista - avisou o deus. - Zeus já sabe que ela vive aqui e a está vigiando.

Arregalei os olhos. Zeus, o senhor dos céus, estava vigiando a mim? Será por causa de Gaia? Sou tão perigosa assim?

– Vá embora - resfolegou Percy, vermelho.

No segundo em que pisquei, Ares já havia partido. Olhei para Percy, preocupada e ele me devolveu o mesmo olhar. Quão ferrada eu estava agora?

– Isso é mau - resmungou o sátiro.

– Sim, Grover, é. - Quíron pousou os olhos em mim.

– Eu... - engoli em seco. - O que vai acontecer agora?

– Vamos convocar uma reunião com os conselheiros - respondeu Quíron. - E decidir.

– Decidir o quê?

– Se você continuará aqui conosco. Ou não.

Gelei.

Eles não podiam me expulsar do Acampamento, certo? Não, eu... eu simplesmente não tenho para onde ir. Percy não permitiria, Tristan também não. Pelo menos é o que eu acho. A verdade é que eles mal me conhecem e não podiam ficar contra toda a sua VERDADEIRA família por minha causa. E se tentassem eu não sei se os deixaria fazer isso. Não seria justo.

– A reunião será amanhã, Percy, às 9h em ponto - disse Quíron. - Pepper deve comparecer também. Informe à Annabeth.

O centauro falou de mim como se eu não estivesse lá. E, naquele momento, eu juro, quis desaparecer.

Meu beliche no chalé 3 era reconfortante após o dia duro que tive. Os roncos suaves de Percy do outro lado do chalé eram tranquilizadores e ele babava enquanto dormia. Me lembrei das noites em que eu dormia na casa de minha avó Nora. Ela também me contava histórias aos milhões e era professora de história mundial. Eu a amava demais. Ela costumava dizer que eu seria uma heroína um dia, que seria importante e que as pessoas precisariam de mim. Mas disse também que ninguém iria lembrar de mim por muito tempo depois que minha missão fosse cumprida.

Então me toquei que minha avó Nora era uma deusa. Minha avó era Hécate, senhora da magia. E, por algum motivo, ela dedicou grande parte do seu tempo divino comigo, me encorajando e ensinando. Que professora de história que nada. Hécate era uma poderosa imortal.

Se Poseidon não se importa comigo, minha avó sim.

Eu precisava falar com ela imediatamente. Talvez, se Quíron realmente me expulsar do Acampamento, a única família que me restou possa me ajudar. Hécate não me abandonaria, ela me ama. Disso eu tenho absoluta certeza.

Quíron convocou a reunião de conselheiros, como havia dito que faria. Além dele e de mim, estavam lá os conselheiros de todos os chalés do Acampamento: Percy, Annabeth e mais alguns rostos que eu havia visto de relance. Congelei ao ouvir a gargalhada de Drew entre os semideuses. Quem em sã consciência a elegeria para o cargo de conselheira?

– Bem - Quíron quase gritou -, vamos dar início a essa reunião.

Todos calaram-se, sentando-se em cadeiras ao redor de uma mesa de pingue-pongue. Annabeth olhava para mim, avaliando minhas expressões e meu comportamento. Senti-me mais tensa ainda. Como se o que estivesse prestes a acontecer não fosse preocupante o suficiente.

Era tudo muito simples: se o conselho decidisse que eu não era uma ameaça, me manteriam aqui onde era o único lugar seguro para gente como eu. Do contrário, eles me mandariam embora para o meio de monstros e deuses que provavelmente me matariam em questão de horas. Ótimo.

Percy e Annabeth estavam do meu lado, isso eu sabia. Ambos disseram palavras encorajadoras antes de entrarmos na sala de recreação e quase me convenceram de que tudo ia acabar bem. Quase.

Contra mim estava Drew, é claro. E ela parecia ter o dom da argumentação. Tinha uma lábia incrivelmente poderosa e com certeza estava juntando aliados contra mim desde que a reunião foi anunciada ontem à noite. Se depender dela, eu já estou fora.

– Percy, coloque todos a par da situação - pediu Quíron, severo.

Meu irmão pigarreou e se levantou, meio pálido. Estava nervoso.

– Bem, pessoal, é o seguinte: essa aqui é minha recém-reclamada irmã que chegou ontem pela manhã aqui no Acampamento. Ela é uma autêntica filha de Poseidon, como eu.

Dois conselheiros reviraram os olhos, como quem diz "Uau, Percy, que novidade!"

– O grande problema - continuou Percy - é que a mãe dela a ofereceu à Gaia antes de morrer.

Todos começaram a murmurar entre si. Quíron pediu silêncio.

Annabeth assumiu a palavra de repente.

– Quíron nos convocou para decidirmos se Pepper continua ou não aqui conosco. Que ela é perigosa, nós já sabemos - principalmente o meu chalé, claro. Porém, não acredito que seja má pessoa. E ela é irmã de Percy...

Meu irmão corou. Annabeth prosseguiu:

– Não acho que Pepper mereça ser mandada embora. Além disso, para onde ela iria? Esse Acampamento tem como primeiro e principal objetivo zelar pela segurança de todos os semideuses, não importa de quem sejam filhos ou a quem tenham sido oferecidos. Nós todos somos uma Família. E a partir do momento em que um semideus é reclamado aqui dentro, ele faz parte dessa família. Não concordam comigo?

Muitas cabeças fizeram que sim, para meu alívio.

Drew se levantou.

– Eu não concordo.

Meu corpo todo paralisou-se e eu engoli em seco. O momento pelo qual eu esperava e do qual tinha medo chegou.

– Não somos obrigados a conviver com uma maníaca serva de Gaia - argumentou ela. - Que absurdo! Estão colocando muitas vidas em risco apenas por uma garota que nem vale todo esse esforço. O que ela fez por nós até agora, hein? Que benefício nos trouxe?

– Estou aqui há um dia - resmunguei.

– E quase destruiu um chalé inteiro! - Drew rebateu. - Sem contar aquela cena ridícula da briga entre você e Clarisse. Me poupe!

Ouvi um grunhido à minha esquerda.

Caraca, Clarisse estava ali também.

– Eu acho que essa intrusa deve ser expulsa imediatamente - concluiu Drew, sem mais.


Filha Das ÁguasOnde histórias criam vida. Descubra agora