Capítulo 5

5K 507 25
                                    


– Percy, eu... eu nunca faria nada que pudesse te machucar, eu juro. Você é a única família que eu tenho agora.

Ele segurou minha outra mão, a que estava sobre a mesa.

– Não esquente com isso, tá bem? Vamos ficar bem, você e eu.

Aquelas palavras não me convenceram.

– Gaia não pode fazer nada com a gente, certo? - indaguei, insegura. - Ela... ela está morta. Está no Tártaro, não é?

Percy soltou um longo suspiro e olhou para algo por cima de meu ombro. Acompanhei sua linha de visão e meus olhos focalizaram Annabeth rindo e comendo ao lado de Tristan e outra filha de Atena.

– Eu não vou deixar nada acontecer com a gente - disse ele, obviamente incluindo Annabeth no quesito "a gente". - Nem a velha e barrenta Gaia pode nos fazer mal, mana. Ela que tente para ver o que a espera.

Encolhi os ombros. A voz de Percy soava furiosa e ele tentava controlá-la o máximo possível. Me fez lembrar o som das ondas furiosas quebrando sobre as pedras na praia. "O mar não gosta de ser contido..."

Eu queria que Poseidon estivesse aqui. Ou que pelo menos falasse conosco ou que nos desse um sinal do que devíamos fazer. Qualquer coisa.

Na mesa ao lado da de Atena, uma garota de bandana vermelha ficou de pé sobre o banco erguendo um copo cheio de sei lá o que e começou a gritar:

– Vaaaaamos dar as boas-vindas a mais nova pateta do chalé 3, gente!

Todos olharam para mim, rindo e fazendo caretas.

– Ela está aqui há menos de um dia e já conseguiu tocar fogo no chalé 6! - gritou alguém.

O pessoal gritou, erguendo os copos. Todos, menos o chalé de Atena.

– Será que ela é mesmo filha de Poseidon? - riu uma menina. - Ela é ruiva!

Até aí a brincadeira estava suportável. Mas então:

– Não sei... - disse a menina da bandana, Clarisse. - Vai saber se a mamãezinha não teve um daqueles encoooontros com mais de um deus?

– Quem sabe ela não é sua irmã, Clarisse? - gritou alguém.

Clarisse olhou para mim com malícia.

– Quem sabe ela não é irmã de TODO MUNDO AQUI?

Trinquei os dentes e bati com o punho na mesa. Percy ia dizer algo mas foi interrompido.

Interrompido por mim.

Não estava muito ciente do que estava fazendo até acertar o rosto de Clarisse com meu punho. Como cheguei perto dela tão rápido? A raiva borbulhava em mim, uma raiva tão violenta que eu tinha até vontade de arrancar cabeças. Eu queria bater muito em alguém.

– COMO VOCÊ OUSA CHAMAR A MINHA MÃE DE VADIA? - berrei, apontando o dedo bem na cara de Clarisse. - QUEM VOCÊ PENSA QUE É?

Senti alguém me puxar para longe dela e dei uma cotovelada nas costelas dessa pessoa. Era Tristan. Ele se dobrou e caiu para trás, ofegante. Eu me lancei sobre ele, cheia de remorso mas cheia de raiva também.

– Desculpe, desculpe, desculpe... Tristan?

– Aiii...

– Por favor, me desculpe...

Clarisse deu um berro animalesco e se jogou em cima de mim, me batendo com força no rosto, tórax e costelas. Um alarme de concha soou alto e a confusão se formou ao nosso redor. Eu tentava bater nela, mas Clarisse era enorme, rápida e forte. Eu era pequena, franzina e magrela, e não tinha experiência nenhuma na arte de bater-em-pessoas-idiotas-que-ofendem-sua-mãe.

Filha Das ÁguasOnde histórias criam vida. Descubra agora