Capítulo 18

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– Eu...
– Vou esperar lá fora, Pep - disse Tristan, apertando minha mão antes de soltá-la e sair. Ele sabia que não podíamos negar aquele pedido a Apolo.
Quíron me lançou um olhar do tipo "se precisar, me chame" e trotou para fora da Casa Grande.
Inspirei e expirei, sentindo os dedos das mãos tremerem. Apolo aproximou-se, mas não me tocou.
– O que você quer? - resmunguei, sem olhar para ele.
Apolo riu. Uma risada autêntica e sincera. Sem malícia.
– Aquele é o seu namoradinho? - perguntou, fazendo careta.
– Não. Digo, é. Mas...
– Ah, deixe-me adivinhar... você o ama, mas ele não corresponde. Típico.
Franzi a testa, erguendo o queixo com petulância.
– Você não sabe de nada sobre mim. Ou sobre Tristan. Volte para o Olimpo e cuide da sua vida, Apolo.
Ele cruzou os braços sobre o peito musculoso. Não parecia ter mais de 20 anos, mas eu sabia que tinha muito mais. Não era justo. Como eu podia desprezá-lo quando ele era tão... tão...
– Você não quer que eu vá embora, lindinha. Eu sinto isso.
– Não me chame assim.
– Como quiser - deu de ombros. - Mas não muda o fato de que você não quer que eu a deixe.
Cerrei as mãos em punhos.
– Por que quer falar a sós comigo? O que você quer?
– Vou deixar minhas intenções muito claras, Mary Elizabeth - suas mãos seguraram meu rosto com certa rudeza. - Eu farei com que você se apaixone irremediavelmente por mim até que não possa suportar ficar longe de mim, querida. Então, quando eu tiver o que eu quero, vou abandoná-la com uma criança nos braços. Assim como Poseidon fez com sua mãe. Assim como todos os deuses fazem há milênios.
Empurrei-o para longe e saí correndo para fora da Casa Grande. Trombei com Tristan, que me abraçou forte.
– Por que você está chorando? - perguntou, preocupado.
– Porque não é justo! Não é justo!
– O que não é justo, Pep?
– Os deuses sempre conseguem o que querem, Tris? Eles podem fazer qualquer coisa que quiserem?
Ele gaguejou.
– Bem, sim. Mas há algumas regras.
Solucei, enxugando o rosto em sua camisa.
– Preciso de sua ajuda. Não como um namorado, mas como meu melhor amigo. Por favor?
– Claro, claro. O que você me pedir.
– Estou muito ferrada, Tris.

Contei a Tristan sobre tudo o que aconteceu na casa de Apolo. Sim, tudo. Foi extremamente constrangedor e desconfortável, mas tive que contar mesmo assim. Precisava de ajuda.
A princípio, Tristan ouviu tudo em silêncio, sem demonstrar expressão alguma. Mas então, quando contei o que o deus me disse na sala da Casa Grande, os olhos cinzentos dele faiscaram em fúria. Sua mão direita pousou instintivamente no punho de sua espada embainhada.
– Você devia ter me dito tudo isso antes -murmurou, a expressão sombria. - Mary Elizabeth, ele podia ter feito algo realmente sério com você no Olimpo. Não acredito que ficou sozinha com ele no quarto dele!
Então era isso. Tristan não estava irritado. Estava furioso. E ele sempre me chamou de Pepper, não de Mary Elizabeth. Mas agora... agora estava tudo complicado.
– Eu não pensei que...
– Não tente se justificar, por favor - ele me interrompeu. - Vamos pensar no que fazer agora. Obviamente Quíron precisa saber disso. E Percy também.
Arregalei os olhos, boquiaberta.
– Não. Não, Percy, não. Ele... eu não posso decepcioná-lo. Ele não pode saber que menti para ele.
Tristan revirou os olhos.
– Certo. Annabeth então. Vamos precisar dos conselhos dela, de qualquer forma.
Sim, eu confiava em Annabeth mais do que em mim mesma.
– Hoje teremos a Captura da Bandeira à tarde, então podemos reunir os dois na sala de recreação depois do jogo - disse Tristan.
– Certo.
– A gente se fala mais tarde, então. Tenho umas coisas a fazer, Mary Elizabeth.
Olhei tristemente para ele.
– Por favor, me chame de Pepper.
Tristan me encarou por cima do ombro.
– Esse não é o seu nome. Fique longe de Apolo.


Meu time perdeu a Captura da Bandeira. Mas apenas porque Percy, Annabeth e Tristan estavam na equipe adversária. Emilly e Marvel estavam no meu time e notaram o quanto eu estava abatida após o término da atividade. Não pude evitar.

– Ei - chamou Marvel, sacudindo meu ombro de leve-, perder faz parte.
Sorri fracamente.
– Faz, não é?
– Aposto que ganhamos a próxima - Emilly bateu como punho na mão aberta. - Clarisse vai me pagar por aquela rasteira. Foi golpe baixo.
– Vamos para o lago? - chamou Bobby, passando por nós. Ele não participara da Captura pois quebrou o braço duas horas antes. E já estava atrás de ação novamente.
Coloquei-me de pé, dizendo:
– Tenho um compromisso, pessoal. Com Tristan.
– Tudo bem - Emilly sorriu travessamente.
Bobby deu de ombros.
– Mas você vai encontrar com a gente depois, não vai? - Marvel quis saber, um pouco ansioso.
Suspirei, sem encará-lo.
– Não sei. Estou cansada, Mar.
Ele encolheu os ombros.
– Tudo bem.
Despedi-me deles e segui caminhando para a sala de recreação, sentindo um peso nos ombros quase insuportável. Será que Tristan estava certo em ficar bravo comigo? E se toda essa obsessão de Apolo por mim fosse culpa minha? Não me lembro de incentivar qualquer sentimento dele em relação a mim, mas ainda assim... E se eu fosse a responsável por toda essa confusão?
Ouvi um arbusto ao meu lado farfalhar. Parei e fiquei em silêncio, esperando. Será que era Drew outra vez?
Mary... Elizabeth..., sussurrou uma voz doce e enjoativa. Minha pequena Peppermint...



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