• Dezenove •

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REBECCA

- É por isso que a vida para mulheres é mais fácil - Sebastian diz com um desdém óbvio.

Eu quis socar a cara dele. Pegar seus lindos olhos castanhos e furá-los com pregos.

  - E pra vocês não? O machismo da sociedade é um bom ponto pra vocês - respondo alisando meu vestido. Que ridículo!

  - Nos não podemos seduzir homens - ele diz apontando para meu vestido.

  Eu estava usando um vestido verde, longo, com um corte em V nas costas. Na frente renda e pérolas. Um simples, sofisticado e sexy vestido.

  - Vocês podem seduzir mulheres - respondo com revolta.

Ele ergue uma sobrancelha sarcástica e sorri.

- As mulheres ocupam um nível muito baixo em cargos de vilãs honorárias.

  Reviro os olhos.

- Viu! Nem pra isso vocês servem, precisam de mulheres.

- Para seduzir homens.

- Keller eu juro que se você abrir a boca mais uma vez eu enfio uma adaga nela - digo com seriedade. Cansei dessa discussão ridícula. Mas em vez dele se tocar, o homem só faz abrir um sorriso maior ainda.

- Aah! Você sabe porque eu digo essas coisas.

- Não eu não sei - ele se aproxima e gira em torno de mim parando bem na minha frente, os olhos nos meus.

  - É porque eu estou completamente seduzido.

  O encaro por alguns segundos. Uma de suas mãos vai até uma mecha do meu cabelo e a admira como se fosse algo incrível. Desde quando ele ficou tão direto? Desde quando eu não tenho resposta? Um daqueles sorrisos idiotas involuntários e sem nexo que as pessoas esquisitas dão, de repente, surge no meu rosto.

GENTE! NO MEU ROSTO!

Então logo o afasto assim,  como meu corpo de Sebastian.

  - Você consegue ficar cada vez mais ridículo - falo de costas enquanto vejo as facas que posso levar comigo.

  - E você cada vez mais linda - ele se aproxima e coloca a mãos no meu pescoço. - Você tem noção da gravidade dessa missão? Tanto agora como talvez futuramente? - afirmo com a cabeça, prestando atenção apenas nos seus olhos grudados aos meus e sua voz carregada de uma emoção estranha para mim. - Essa pode ser a última vez que eu te vejo Rebecca. Essa pode ser a última coisa que você me vê. Quer dizer alguma coisa?

  O quê está acontecendo aqui seria uma ótima pergunta. Mas prefiro guardar pra mim mesma.

- Não - repondo.

- Ótimo. Porque eu tenho.

Antes que pudesse dizer qualquer palavra sua boca desce na minha.  Com rapidez, desejo, paixão. Fecho os olhos. Um beijo inesperado nunca foi bem recebido por mim, até agora.

Seguro seus braços me equilibrando para retribuir o beijo. Era estranho, confuso, no mínimo um erro eu querer tanto retribuir o beijo, mas eu queria. Pela primeira vez em cinco anos eu queria.

Ele é o primeiro a se afastar, a respiração ofegante como a minha.

- Aposto... que eu realizo a missão sem precisar... seduzir... ninguém - digo com dificuldade, deixando o ar entrar no meu peito, mas tive um leve toque de humor.

- Tenho certeza que suas belas pernas fariam um ótimo trabalho - diz se afastando e olhando para mim. Desvio os olhos voltando  para minhas facas, é melhor ignorar o que aconteceu aqui.  - Tem certeza que quer confrontar seu ex-namorado?

- Sim. Seria perfeito eu socar aquela carinha de retardado que ele tem - suspiro frustrada. - Como é possível ele ter ficado comigo por dois meses e eu nem sequer desconfiar que ele fazia parte da Nação? Fala sério! Eu dormia com esse cara.

  - O que é bem estranho já que você não faz o tipo que namora sério - Sebastian diz com as sobrancelhas franzidas.

- Era de faxada - dou de ombros.

- Sim... - ele diz meio distraído. - Rebecca... - Ai céus! Momento de sentimentos, ok... Vamos lá. - Eu sei que nossa convivência foi totalmente conturbada.

- De fato - digo. Ele revira os olhos.

- A questão é que eu não sei que você é. Becca Sullivan? Rebecca...? Nem seu nome verdadeiro eu sei.

- Muita gente não sabe - corto-o seria.

- Talvez eu esteja me apaixonando por uma coisa que nem existe. Você é completamente manipuladora, Rebecca. Suas lágrimas, seus sorrisos - ele se aproxima passando o polegar pelo meu lábio inferior, os olhos nos meus. - Seus beijos. Acredito que nunca vou saber se são reais ou parte de um plano premeditado. Mas a verdade? Não posso fazer mais nada, como eu já disse, seu mistério me seduziu.

O que dizer depois de uma coida dessas? Respirar e sair correndo? Agarrar seu pescoço e roubar o beijo de felizes para sempre? Dizer que o que ele sente não é recíproco?

Eu não posso dizer isso. Voltei para agência atrás de vingança, só queria proteger os códigos roubados cinco anos atrás e... Katerina. A única pessoa que eu amava mais do que a mim mesma e falhei em protegê-la.

Acontece que também reencontrei o passado. Lembranças boas e ruins, amigos que eu nunca devia ter abandonado, uma vadia que apesar de tudo eu suporto. Também encontrei uma pessoa, que mesmo me irritando, me deixando louca, me ensinou que a vida pode continuar e que existem limites assim como os sentimentos. Então, o que Sebastian é pra mim?

Por enquanto... Eu não tenho resposta.

Consequências de um ErroOnde histórias criam vida. Descubra agora