• Um •

811 53 15
                                    

Rebecca

Pessoas morrem todos os dias.

E eu não me importo se sou responsável pela morte delas.

Então você me pergunta "Como você pode ser tão fria?" E eu te respondo com um "foda-se"

A única opinião que me importava era daqueles que eu amava e estão todos mortos. No final das contas meu único medo se tornou minha pior realidade. Eu falhei e não consegui proteger aqueles que eu amo.

Agora eu vivo simplesmente com um objetivo: achar os responsáveis pela morte de cada um deles e os fazer implorar pela morte.

Sim, fazer as pessoas sofreram é o máximo de sentimento que consigo demonstrar de verdade. A raiva. Qualquer sorriso ou lágrimas que venham de mim é sinal de manipulação.

- E vai ser de que? - a voz alterada em indignação de Sebastian chama a minha atenção. - Chocolate? Baunilha? Sangue?

Lanço um sorriso frio à ele. Caso o "número 1" soubesse da coisas que sei, não estaria assim.

E se eu quisesse tomar a porcaria de um sorvete depois de ver uma garota de quinze anos morrer eu tomo.

- Prefiro de menta com chocolate - respondo sarcástica.

- Você é louca - Sebastian grita e Rachel e Aaron lançam um olhar de aviso a ele.

- Isso foi o que o meu psiquiatra disse na minha primeira sessão. Na segunda eu tinha problemas com a raiva. Na terceira eu já era sociopata e na quarta eu tinha psicopata. - Sebastian me olhava com os olhos arregalados e a testa um tanto franzida. - Não brinque comigo, Sebs, você não sabe jogar o meu jogo.

Saio da sala deixando os três para trás com olhares de repreensão.

É meus amigos, eu voltei.

Para dizer a verdade eu nunca fui, estava apenas adormecida em uma ilusão de que podia ter uma vida normal.

Mas eu nunca tive, sempre desconfiada das pessoas, sempre achando que alguma coisa podia dar errado.

E tudo isso porque eu me meti onde não devia. Lembro até hoje do dia.

Faltava uma semana para eu completar quinze anos, na época eu não sabia nem como dar um soco. Vivia com meus pais e irmão em uma casa de classe média. O bairro era tranquilo e acolhedor, foi onde conheci Kate e ela se tornou minha melhor amiga assim que a conheci.

Eu, minha família e Kate estávamos na sala assistindo maratona de De Volta Para O Futuro, eu estava deitada confortavelmente na perna do meu irmão no chão, enquanto meus pais estavam grudados no sofá como se fôssemos obrigados a ver a agarração deles, Kate estava com a cabeça no ombro do meu irmão e ele com a mão na sua perna.

Começamos a rir de uma cena do filme quando batidas na porta chamam nossa atenção, eu que não ia levantar meu irmão era confortável demais.

Minha mãe resolveu nos salvar de tal sofrimento e foi abrir a porta. Dois policiais apareceram e eles começaram a conversar. Mamãe balançava a cabeça em negação se recusando a acreditar no que eles falavam, nesse momento todos já estavam de pé tentando entender o que estava acontecendo, ela levou a mão a boca tentando engolir o choro o que foi em vão.

Aquele noite foi horrível pra minha mãe família, mas foi um inferno para Kate. Em uma hora ela estava rindo e na outra chorando pela morte dos seus pais.

Fomos até onde os corpos dos LeMarchal estavam, uma rua escura e molhada. As sirenes ecoavam tão alto quanto o choro das pessoas ao redor. A noite cheirava a pinho e morte, mas não foi isso que chamou minha atenção, foi um cheiro incomum.

Asfalto queimado.

Os policiais disseram que foi um assalto e por instinto eu observei melhor a cena - não que eu deveria.

Mas o cheiro do asfalto chamou minha atenção. A pista estava molhada, no entanto não teve chuva, o cheiro de queimado significa que a pista estava seca e o carro tentou acelerar ou derrapou em algum momento.

Minha desconfiança só ficou maior porque eu sabia que os LeMarchal não reagiriam a um assalto. Uma árvore na lateral da pista estava um pouco arrebentada e soube que um carro bateu ali.

No corpo dos LeMarchal suas jóias ainda estavam presentes. Quem assalta uma mulher com um colar gigante de pérolas, brincos de diamante e uma aliança de ouro e deixa isso tudo pra trás?

Um grito chamou minha atenção e vejo Kate no chão, gritando a plenos pulmões, tentando liberar alguma dor que está sentindo.

E eu senti um ódio tão grande por alguém causar essa dor nas pessoas que eu amo.

Então eu vi a avenida mais a frente e ela estava seca, segui por ali.

Resumindo eu encontrei um galpão e o carro dos LeMarchal estava na frente.

Eu estava com tanta raiva e nem pensei. Apenas entrei no carro, apertei o acelerador e entrei com tudo no galpão. Existiam três pessoas lá dentro, atropelei duas que estavam na entrada. Outra saiu correndo mas foi parada por um tiro na perna e outro no ombro.

O mais engraçado foi que eu não senti medo. Apenas fiquei sentada, esperando.

A porta do motorista abriu e uma mão me puxou de dentro. Um homem duas cabeças mais alto que eu, de cabelos loiros e olhos castanhos, estava todo vestido de preto e tinha armas em vários suportes do corpo.

Ele tinha um rosto bonito, mas suas feições eram sérias. Ele queria colocar medo em mim, mas eu não abaixei o rosto, muito pelo contrário, ergui o queixo e o encarei.

- Quem é você? - perguntei tentando não falhar com a voz.

- Sou a pessoa na qual você roubou a missão. Eles eram responsabilidade minha - o homem aponta para os três homens mortos.- Quem é você?

- Sou a pessoa que fez justiça.

- Não, o que você fez com vingança. Posso ver nos seus olhos a satisfação por ter conseguido - pela primeira vez eu vejo ele sorrindo enquanto olha pra mim. - E é exatamente disso o que eu estou precisando. O que acha de trabalhar para mim?

- Com o que você trabalha? - Ele ergue uma sobrancelha e sorri sarcástico.

- "Justiça". Então? Trabalharia pra mim? - por algum motivo eu confirmei com a cabeça.

- Meu nome é Rebecca - ofereço minha mão a ele que aceita.

- Pode me chamar de Devan.

Consequências de um ErroOnde histórias criam vida. Descubra agora