• Dois (parte I) •

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Rebecca

- Obrigado.

Agradeço ao sorveteiro enquanto lhe passo o dinheiro. Pego meu sorvete de menta com chocolate já o colocando direto na boca, mexo a pequena quantidade pela boca até derreter.

- Eu realmente achei que você estivesse brincando, mas já percebi que Becca Sullivan não brinca - escuto a voz de Sebastian e sorrio.

- Ficou pra babá, Keller? - falo debochando.

- Infelizmente você tem uma personalidade instável e é absurdamente inconsequente. Na perspectiva ridícula da Rachel eu sou o único que pode, talvez, te controlar um pouco.

Dou um sorriso irônico para ele, como se alguém fosse capaz de me controlar. Coloco mais um pouco do sorvete na boca e espero derreter.

- Por que você faz isso? É inconsequente e age como se não se importasse com nada? - Sebastian pergunta encarando meus olhos, noto curiosidade e outro sentimento oculto, mas antes que eu consiga decifrar seus olhos desviam dos meus.

- Sabe esse sorvete? - pergunto para ele que coloca seus olhos na bola gelada verde e marrom. - Era o sabor favorito meu e de Kate - derrubo de propósito o sorvete no chão e olho para Sebastian para que ele possa ver o sentimento de raiva, revolta, vingança que estou sentindo. - Agora não tem sabor nenhum para mim, há não ser a lembrança de que todas as pessoas que eu tinha na minha vida estão mortas.

Sebastian é, literalmente, a única pessoa que consegue me irritar sem ter feito nada realmente grave comigo.

- Ele não tem gosto nenhum porque você acredita que a culpa é sua. E essa culpa inexistente está te corroendo, transformando você em uma pessoa sem coração - Sebastian se aproxima de mim a passos curtos, como se fosse um predador e eu a presa. - Você está se negando a sentir, prefere ignorar o fato e continuar sua existência no automático porque assim é mais fácil.

Quando mal percebo ele está me encarando, com esses olhos castanhos expressivos, perto demais. Respiro fundo, fecho os olhos, e acabo sentindo seu perfume, um toque de cravo e metal, aquele que com certeza vai ficar na sua memória por ser diferente. Um diferente maravilhosamente bom.

Abro os olhos novamente, com certeza estou irritada agora.

Controle Rebecca! Merda!

- Você já cumpriu sua tarefa de babá então agora vai embora que eu vou voltar para o meu apartamento - viro de costas para ele que ostenta um sorriso dos mais idiotas possíveis.

Balanço minha cabeça tentando esquecer esse episódio. Ignorar o Keller é a melhor coisa que faço na minha vida. E a partir de agora é assim que vou chamá-lo, pelo sobrenome, afinal somos da mesma agência. Não é porque transamos que vamos ficar cheios das intimidades.

O fato de o ter beijado, sentido como aqueles lábios macios podem ser rigorosos, ter o corpo definido e másculo dele colado ao meu por uma noite toda ou saber que ele entende muito bem o que fazer com uma mulher, não é motivo para eu o tratar diferente.

Aarh! Para de pensar nele!

Chego no meu carro abrindo a porta com violência, pelo menos eu posso descontar nele. Sento no banco irritada e quando vou colocar o sinto noto Sebastian sorrindo no banco do passageiro.

- MAS QUE PORRA! - grito. Esse filho da mãe realmente me assustou.

- Minha missão é 24/7, querida. Não vai se livrar de mim - ele sorri debochado e reviro os olhos.

- É incrível como as Sombras de hoje, mesmo a número um, ganham tarefas inúteis - ligo o carro ignorando a aberração do meu lado e sigo pela avenida.

- Ah, o planeta anda na calmaria ulti... - ele para de falar como se tivesse finalmente se tocado de algo importante e seu sorriso estúpido é substituído por uma feição séria. - Como você sabe da existência das Sombras? Nem o presidente atual sabe delas.

- Apenas sei - respondo séria encerrando o assunto. Coloco um sorriso falso no rosto. - Então você vai me seguir pra qualquer lugar?

- Sim.

- É isso vai ser divertido.

- Por quê? Planeja abusar de mim? - pergunta todo malicioso e uma risada de deboche sai da minha garganta.

- Tenho certeza que Audrey não aprovaria.

Seu rosto fica sério e pensativo por um tempo, até surgir um sorriso safado.

- E eu tenho certeza que você adoraria provocá-la - bastardo! Xingo mentalmente, mas dou meu melhor olhar travesso.

- Pode apostar que sim.

•••
- Bem vindo a residência Sullivan! - digo me jogando no sofá. - Fique a vontade.

Sebastian anda pelo apartamento observando tudo. As paredes em vermelho e branco, as decorações meio século XIX, os quadros modernos, tudo. E quando acabou seus olhos pousaram em mim.

- O quê estamos fazendo aqui? - pergunta duvidoso.

- Preciso de roupas, sabe, não posso viver no complexo só com um par de jeans.

- O quê? - ele me olha perplexo. - Você vai morar na CSNI agora? Tudo bem que seja uma agente agora, mas você tem uma cobertura e uma empresa. Não pode deixar sua antiga vida pra trás.

Mal sabe ele que, na verdade, estou voltando.

- Bem esse prédio inteiro é meu. A empresa é minha e pago muito bem meus funcionários para que eles saibam se virar bem sem mim.

Levanto do sofá indo pegar minha mala que já está pronta, graças ao Pedro.

No meu quarto pego só mais algumas armas que talvez eu possa querer e estou pronta.

Tranco meu quarto e quando estou indo para sala, noto Sebastian no quarto de Katerine. Entro, ele está vendo a estante de fotos de quando éramos mais novas.

- São lindas - diz sorrindo.

- São passado - digo fria. - Não importam mais, vamos embora.

Sebastian estava vindo quando parou de repente, olhando uma fotografia que lhe chamou atenção. Era uma foto que ele estava terminantemente proibido de ver.

- Parece que eu conheço esses...

- Sai daqui Sebastian! - grito, para que ele entenda o recado, e quando sai eu tranco a porta.

- Desculpa - pede, mas ignoro. Estou cansada de ouvir essas palavras inúteis.

Consequências de um ErroOnde histórias criam vida. Descubra agora