Você?!

407 22 3
                                    

"Bom é ter por perto quem nos aceita como somos, quem nos respeita independente das nossas escolhas, e quem nos ama apesar dos nossos defeitos..."

–Marcelle Melo-

Coloquei as malas no chão, e corri alegre pelo espeço – o meu novo lar. Abri a porta e me dirigi a varanda respirando o ar campestre daquele novo lugar. Me inclinei na varanda observando a rua pouco movimentada a minha frente, vi pessoas caminhando sem se importar com o seu derredor -tão diferente de onde eu vim – ri.

–Ribeiro-san? -me virei acanhada e sorri para a senhora, passando os dedos nervosamente entre os fios finos e negros do meu cabelo. -Vou deixá-la agora, contudo espero vê-la amanhã no horário combinado. Tenha uma boa noite senhorita, e novamente seja bem-vinda a Yokohama.

–Hai Toshirou-sama. -fiz uma reverência e depois de desejar-lhe boa noite a senhora saiu me deixando sozinha em meu novo apartamento.

Comecei a arrumar minhas coisas no quarto que já estava desocupado, já que o outro tinha uma plaquinha com os Kanjis (Minamino), provavelmente o sobrenome da minha colega de apartamento. O quarto não era grande, possuía apenas um guarda-roupas e uma cama de solteiro, bem diferente do meu antigo, mais isso simplesmente me agradava, eu estava enfim ali, e não tinha palavras para expressar minha gratidão aos meus tios por isso. Puxei meu celular e enviei uma mensagem no Whatsapp para o grupo da família dizendo que havia chegado bem, e tirei algumas fotos do lugar para eles verem.

Bom deixem-me me apresentar, sou Eloá Ribeiro, olhos verdes amarelados, longos cabelos pretos que geralmente escorrem por minhas costas, corpo esguio, ou seja, todos os traços de uma índia brasileira, mesmo os grandes seios que gradativamente destruíam minha coluna confirmavam isso.

O banheiro do apartamento era social, o que me fez ficar um pouco apreensiva, pois este tinha uma farmacinha com espelho, sim eu tinha problemas atualmente com o espelho, mas nem sempre foi assim, isso apenas começou após meu acidente, e mesmo estando tão longe daquele lugar agora, ainda sim os demônios da minha cabeça me assolavam ali. Então respirei fundo e me voltei para minha mala para pegar um pano, e ao voltar para o banheiro com ele, fecho os olhos para não ver meu reflexo enquanto o coloco no espelho. Diria a minha colega de quarto que isso é uma promessa, e espero realmente que ela acredite ou eu teria problemas.

Faz mais de uma ano agora, um longo tempo para uma menina não se olhar no espelho -eu sei. Mas desde que acordei naquele hospital após o acidente que minha vida monótona, e pacatamente tranquila havia se transformado.

Depois de enfim terminar a arrumação do meu quarto novo, pego uma roupa limpa e uma toalha, me dirijo novamente ao banheiro, louca por um bom banho. É de baixo do chuveiro, que como todas as pessoas comuns -imagino eu- que meus pensamentos fluem mais precisos e nada ociosos, e o primeiro deles a me assaltar lembra-me maldosamente que diferente de como tento iludir-me todos os dias, eu não sou mais uma pessoa comum, se é que o termo "pessoa" ainda possa se aplicar a mim. Todavia perversamente pontuo que não foi isso que sempre quis ao ler cada livro e mangá de romance, magia e aventura, não foi isso que desejei ardentemente do fundo do meu coração todas as noites antes de dormir, enquanto pegava uma brisa no rosto e observava a lua e as estrelas de minha janela do quarto.

"Cuidado com o que deseja Eloá!" -dizia minha avó quando eu era criança. "Toda alma tem poder, e quando esse pode se conecta com o coração, a força é tamanha que mover até montanhas." -quem dera eu tivesse dado ouvidos a minha avó.

Sai do banheiro já pronta para dormir, e já que havia comido no aeroporto, sufoquei a louca vontade que tinha de andar para conhecer a nova cidade, e assim me joguei na cama, me obrigando a dormir. Precisava descansar e aproveitar o silêncio de ter o apartamento só para mim. Toshirou-san me explicou que minha colega havia avisado que precisava sair para resolver umas coisas em Tókyo, mais que amanhã estaria de volta. Aquele não era um prédio da universidade, e quando meus tios procuraram um lugar para mim, aquele foi o único lugar acessível e com um custo bem mais baixo que o mercado oferecia, então as negociações de acomodação foram feitas rapidamente, e eu não poderia esquecer de amanhã agradecer a minha colega de ap. por isso.

Olhos são a porta da alma!Onde histórias criam vida. Descubra agora