Viagem!

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Aqui estava eu pulando com um pé só na cozinha do nosso apartamento. Sim isso é muito ridículo eu sei, mais você também pularia assim se a porcaria da panela caísse em cima do seu dedo. Parei de pular quando percebi que mais uma panqueca estava queimando e corri até lá tentando virar a bendita e salvar alguma coisa.

Estávamos a poucos dias das férias, e já faziam quase cinco meses que eu viera morar no Japão para cursar Engenharia Agrônoma, e durante esse tempo muita coisa aconteceu. Primeiro que graças a Shuichi eu havia conseguido acompanhar todas as matérias, sem falar que ele estudava comigo todas as noites, o que consequentemente me fazia sair quase tão bem quanto ele nas provas e trabalhos. Segundo eramos considerados o casal modelo da universidade -apesar de não sermos namorados, sinto dizer- pois sempre andávamos juntos para todos os lados, mas nunca demonstrávamos carinho em público, ou seja, eramos jovens modelo. Terceiro e não menos importante, eu havia conhecido a família dele e ele a minha, e apesar dos meus tios ficarem apreensivos no começo, acabaram adorando a ideia de dividirmos apartamento quando perceberam que ele havia me ajudado nas matérias, e que graças a ele eu não havia tido nenhum problema com a anemia e meu psicológico estava 100% agora. Para conhecer sua família eu fui passar um fim de semana em Tókyo, na casa de seus pais, e sua mãe era um amor de pessoa, mais seu irmãozinho era tão fofo que eu quase não o largava, e como sempre tive jeito com crianças ele se apegou a mim também. O padastro de Shuichi era um homem sério, mais eu podia ver o amor que ele tinha pela família, e apesar de ser estranho e até mal visto pela sociedade morarmos juntos os pais dele aceitaram tranquilamente quando Shuichi explicou que a universidade tinha permitido, já que eu era estrangeira e não tinha mais nenhuma localidade próxima para morar e minha segurança estava em primeiro lugar -mentira deslavada.

Lembro que mal entramos no trem bala quando eu perguntei a Shuichi como ele havia feito para a universidade aceitar que morássemos juntos.

– "Eu não fiz nada, até por que eles não sabem". -disse sincero. - "Eles nunca aceitariam".

– "Então como não fomos descobertos ainda?" -perguntei mais para mim do que para ele, porque ele tinha muitas admiradoras e muitas vezes eramos seguidos por elas.

– "Eu coloquei uma barreira envolta do apartamento, todos que nos veem entrar acham que somos vizinhos, uma simples ilusão de ótica". -eu ri e ele fez o mesmo.

Eu virava mais uma panqueca quando percebi que o molho estava pegando na panela e corri para desligar, se o molho ficasse ruim também seria melhor desistir daquela loucura, então o provei e por milagre ele estava gostoso, não como o que minha avó fazia claro, mais estava aceitável, então coloquei tudo na mesa para começar a rechear e enrolar as panquecas.

Era aniversário de Shuichi e eu queria ao menos fazer o café da manhã para agradecê-lo por tudo, e como aquela era a única receita que me achava capaz de fazer, não medi esforços ao comprar tudo escondido dele (tive que fugir dele, e até gazeei uma aula para isso), e acordar de madrugada para que quando ele acordasse estivesse tudo pronto. Eu estava feliz por ter conseguido ao menos fazer isso, já que graças a ele eu estava muito melhor.

Shuichi toda noite me preparava o chá para que eu dormisse tranquila, e sempre cozinhava maravilhosamente bem, e desde que havia descoberto que minha anemia era do tipo falciforme (não tem cura, e é genética), não descuidava da minha alimentação e pegava no meu pé constantemente o que era até engraçado. Mas o dia em que ele descobriu isso, não foi nada engraçado, na verdade foi desesperador, imagino que mais para ele do que para mim, e eu nunca tinha me sentido tão mal por fazer alguém se preocupar comigo por "esconder" algo importante assim.

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–Vamos Shuichi, não quero perder o ônibus. -eu estava na porta do apartamento apreensiva.

Olhos são a porta da alma!Onde histórias criam vida. Descubra agora