Lenda!

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Estava naquele momento sentada naquela cadeira acolchoada, com a cabeça encostada no ombro de Shuichi que tinha uma mão quente em minhas costas, pois eu novamente estava sofrendo com as malditas cólicas. Aquele era o ultimo trem bala para Tókyo daquele dia, e como não queríamos ter problemas com falta de vagas, que seriam muito prováveis nós próximos dias, resolvemos que iriamos naquela mesma sexta-feira para casa de sua mãe.

Não sabia como seriam aquelas férias em sua casa já que agora eramos namorados, tínhamos decido contar a seus pais apenas quando chegássemos lá, já meus tios ficaram sabendo ontem mesmo, e claro, adoraram a situação, apesar do meu tio me matar de vergonha dizendo deveríamos usar camisinha -morri. Shuichi ficou tão vermelho que quase não conseguiu explicar que não estávamos tendo esse tipo de relação, e meu tio disse "ainda", o deixando sem palavras enquanto ele e minha tia se divertiam as nossas custas.

Quando enfim o trem parou, eu já me sentia bem melhor, e Shuichi pegou nossas malas para sair, mais eu fui mais rápida e não o deixei pegar minha mochila, então agarrei sua mão livre e o sorri, este revirou os olhos e se virou me puxando de leve. Seu cabelo estava preso numa trança que ele me deixou fazer, e eu estava mais do que feliz com o resultado, pois sem o cabelo no rosto eu podia ver seus olhos afilados perfeitamente emoldurados naquele belo rosto esculpido pelos deuses. Santos senhor e senhora Minamino, que trabalho bem feito em.

Pegamos um táxi, Shuichi tinha dito a sua mãe que estava frio demais para que eles saíssem para nos buscar, e que nós poderíamos chegar tranquilamente em casa. Chocolate quente e uma família animada nos esperava feliz, e era notável o quanto Shuichi estava feliz por está em sua casa.

Shuuichi o irmão mais novo de meu namorado estava quase dormindo no sofá, e foi mandado para o quarto, mais fez bico dizendo que queria uma história e eu segurei sua mão feliz me prontificando para aquela tarefa, a senhora Minamino tentou me persuadir do contrario, mais eu a expliquei que adorava fazer aquilo.

–Que tal eu te contar a lenda da tribo de minha mãe? -ele me olhou desconfiado.

–Não é uma daquelas estórias de princesa, ecaaa... -eu ri com aquilo, aquele garoto era bem fofo.

–Não, é uma versão da lenda brasileira contada só na minha tribo. Sabe, minha mãe contava essa lenda a seus alunos quando meu pai a conheceu. -quase chorei ao lembrar daquela história sobre meus pais, mais o garotinho me tirou daquelas lembranças.

–Oba, então eu quero ouvir. -ele se animou, e eu sorri o colocando na cama e o cobrindo, puxei a cadeira de sua escrivaninha e a coloquei ao lado de sua cama me sentando.

–A lenda original da Iara, diz que ela era a melhor índia guerreira de sua tribo, ela matou seus irmãos invejosos, que tentaram a assassinar enquanto dormia. Com raiva, seu pai o cassique da tribo mandou que a jogassem no rio. Os peixes a salvaram e desde então Iara se tornou uma bela sereia que canta para atrair os homens que sempre caem por seus encantos de mulher, e quando estes chegam ao rio, ela afoga-os lá.

–Uau. -ele disse com os olhos brilhando em ansiedade. -Mas já acabou? -eu rir e comecei a lhe fazer cafuné.

–Não, essa é a lenda tida como a original em meu país. -respirei fundo lembrando dos detalhes da história contada tantas e tantas vezes a mim. -Quando o mundo estava em guerra, pessoas saiam de seus países para se refugiarem em outros, e Tristan um inglês alto e forte de cabelos loiros e olhos azuis fez o mesmo. Seus irmãos mais velhos haviam morrido na guerra, e ele por ainda ser jovem tinha ficado para cuidar do pai doente que a pouco falecera. Com o dinheiro que sobrou de sua família Tristan comprou uma passagem de navio e desembarcou no Brasil. "A terra onde tudo que se planta colhe". -eu continuava fazendo cafuné nele e ele não tirava os olhos de mim. -Tristan trabalhou alguns anos nos cafezais até que juntou dinheiro suficiente para comprar uma bicicleta e rodar pelo país. E assim ele seguiu sua vida por anos, de cidade em cidade, fazendo bicos e conhecendo pessoas novas. Com trinta anos Tristan conhecia mais o Brasil que muitos brasileiros, contudo ainda lhe restava um sotaque e a polidez cortês de seu país de origem. Tristan já conhecia o sul, o centro oeste e o nordeste, então rumou para o norte, ele queria ver a maravilhosa floresta amazônica com seus animais esplendorosos. Ele caminhava sozinho e sempre levava tudo para acampar, então não teve problemas em viver na floresta, nunca matava algo que não fosse para seu próprio alimento e sempre procurava pescar para evitar matar animais silvestres. Mas algo incomodava-o, desde que tinha pisado na floresta ele se sentia vigiado e durante três luas cheias nada aconteceu, e foi então que na quarta noite, enquanto admirava a lua banhar o leito do rio do qual ao lado acampará ele ouviu um choro baixo, como um lamento e logo correu para procurar.

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