Capítulo XVI

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Era de manhã quando minha mãe recebera a inesperada ligação. E assim que eu soube que ficaria sabe-se lá quanto tempo sozinho com o meu pai, o terror resolveu me atormentar.

Eu sabia que meu pai tentaria algo contra mim. Se ele já fazia o inferno sabendo que minha mãe poderia chegar a qualquer hora, imagine o que ele poderia fazer a milhas e milhas distante dela!?

Comecei a pensar que ele poderia me matar e criar um cenário muito bem elaborado para parecer que fora um acidente ou suicídio.

O pavor tomara conta de mim. Minhas mãos ficaram trêmulas, meu coração disparado, eu suava frio...

- Não precisa me levar ao aeroporto, querido. Vou pegar carona com um dos diretores.

- Tá bom. Eu te ajudo com as malas.

- Tchau, meu filhinho lindo. Se cuida, tá? Beijo, beijo!

Meu pai desceu para ajudá-la com a bagagem. Desesperado, corri até o meu quarto e me tranquei lá dentro. Eu estava aflito, alvoroçado só de imaginar o que poderia acontecer comigo.

Peguei minha mochila e coloquei o máximo de roupas que conseguia. Eu estava decidido a fugir e voltar somente quando minha mãe chegasse de sua viagem.

Quando abri a porta, dei de cara com ele...

- Agora é só você e eu! - disse meu pai.

Tentei correr, mas ele puxou com força. Me deu uma gravata no pescoço apertando-me sufocantemente...

- Você acha que eu sou o quê, hã? Eu vou acabar com você!

Eram golpes que me deixavam sem ar. Ele não me dava espaço para tentar me defender. Eu sequer conseguia me esquivar.

Ele me bateu em cheio no rosto. Meu nariz começou a sangrar. Senti o meu maxilar quase se deslocar.

Ele me batia, me socava, me golpeava. Estava furioso, ardendo em ira.

De repente, minha mãe entra no apartamento e dá de cara com o meu pai - perdão pela minha forma chula de falar - tirando sangue de mim. Ao ver a cena, ela fica perplexa...

- Mas o que... O que está fazendo? Sai de cima dele! O que diabos está fazendo? - minha mãe ficara atordoada. - Raí? Fala comigo, meu filho!?

- Eu posso explicar, querida... - disse meu pai visivelmente amedrontado. - Não é nada disso que você está pensando...

- Então, me fale o que é. Me fale o que é porque eu não estou pensando nada, estou vendo! Raí? Raí, querido, está me ouvindo?

Eu estava sem fôlego, mal conseguia respirar. Meu olho esquerdo não se abria, meu nariz e minha boca sangravam, e todo o meu corpo ardia de dor...

- Eu quero uma explicação e quero já!

- Bem, é que... Eu só... Nós dois só estávamos...

- Para de enrolar, Breno!

Percebi que para o meu pai inventar uma mentira, era só uma questão de minutos. E essa era a minha única oportunidade de falar tudo, toda a verdade. Então, tirei forças de minha fraqueza e comecei a falar...

- Ele me bate, mãe... sempre me bateu... - eu estava ofegante, a dor era tremenda. - Ele sempre fez isso... desde os meus quatro anos...

- Como é que é? - ela ficará abismada.

- Eu não podia dizer nada... ele me ameaçava...

- Você é louco, é? Como é capaz de fazer isso com o seu próprio filho?

- Ora, ninguém apanha sem motivo! - disse meu pai.

- Ele é só um menino, caramba!

- E daí? Eu fui criado assim, meus irmãos foram criados assim...

- E veja só no que você se tornou: um monstro, um maníaco!

- Aahh... me poupe! Você mima demais esse garoto!

- Ah, tá. O problema é sempre os outros, nunca é você, né?

- Ah, que se dane! Eu sou pai dele, crio do jeito que eu quiser!

- "Pai", que pai? Você não é um pai, é um monstro, maníaco, sociopata! - gritei sem medo.

Ele se enfureceu e me socou a face...

- Seu monstro! Pegue suas coisas e some daqui! - irou-se minha mãe.

- Eu não vou embora! - disse meu pai.

- Some daqui, desaparece, antes que eu chame a polícia!

Ele não queria, mas foi embora. Saiu apenas com a roupa do corpo e levou apenas as chaves do seu carro. Mas, antes de ir, disse suas últimas palavras...

- Isso não vai ficar assim!

- Se encostar no meu filho, você vai se ver comigo!

Como um cachorro sem dono, meu pai saiu de casa. E com isso, eu finalmente me vi livre...

O Homem Da Minha MenteOnde histórias criam vida. Descubra agora