Cap.17

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Passei pela porta, me lembrei de minha Tia, eu estava muito afastado dela ultimamente, mas tinha que ir lá me despedir.
Entrei sem bate e ela estava na cozinha.
-Tia?
- Iago, o que houve não aparece mais aqui?
- To estudando bastante.
- E pra que essa mala? Vai viajar?
- Vou, vou passar um tempo com a minha vó, você mesmo me disse que eu tinha que ir pra lá mais vezes não é?
Nós rimos.
- Mas você nem ta de férias! Como fica a escola?
- Vou ver se estudo por lá, to querendo mudar um pouco de ares.
Ela riu.
- Olha só, nem parece o garoto que odeia a roça, mas eu entendo, também preciso disso.
- Então tchau.
- Tchau, vai com Deus meu bem.
Ela me deu um abraço bem apertado.

Na Rodoviária comprei minha passagem e entrei no ônibus.
O ônibus estava vazio, então não precisei colocar minha mala no bagageiro, deixei ela no chão do meu lado.
A viajem durava cerca de uma hora e meia, então tive muito tempo pra pensar.
Talvez fosse realmente melhor eu me afastar, estava na cara que Eduardo não me perdoaria, e longe dele talvez eu conseguísse esquece-lo.
Sentiria saudade daquele corpo, de seus beijos, tudo com ele era perfeito, pena que acabou (eu acho).
Também sentiria falta de GGuilherme, ele sempre foi muito compreensivo comigo, uma amizade como a dele não tem preço.
Mesmo indo embora eu estava feliz, minha vó sempre me chamou pra morar com ela, e aparecer sem avisar pra morar lá seria uma surpresa e tanto.
Adormeci.
Acordei com o motorista do ônibus me cutucando, já na rodoviária da cidade da minha avó.
- Já chegamos!
- Obrigado por me acordar - falei sonolento esfregando os olhos.
- Por nada.
Ele saiu do ônibus.
Peguei minha mala e fiz o mesmo.
Fui até a praça de alimentação da rodoviária, tomei um suco e comi um salgado.
Liguei para minha mãe e avisei que cheguei bem.
Ela disse que viria no fim de semana pra resolver a transferência do colégio.
Sai e fui até o ponto de táxi e encontrei um livre.
- Boa tarde - o motorista disse com sotaque do interior, olhando pelo espelho central do carro.
Ele tinha olhos escuros, era branco, cabelos arrepiados, magro, mas parecia ter o corpo definido.
- Boa tarde!
- Pra onde?
Sabia que estava esquecendo alguma coisa, o endereço da minha vó.
Já tinha vindo aqui mas fazia dez anos, não fazia ideia de qual era o nome da rua ou coisa e tal.
- Merda, esqueci desse detalhe - eu disse.
- Você não sabe pra onde ta indo? - o motorista me perguntou rindo.
- Eu vou pra casa da minha vó, mas não lembro o endereço.
- Essa é uma cidade pequena, talvez se você me disser o nome da sua vó eu saiba quem é?
- Marta, Dona Marta, ela mora num sitiozinho.
- Tenho um amigo que trabalha pra Dona Marta, mas ela não tem um sitiozinho, tem uma fazenda enorme.

Se o pequeno sitio da minha vó se transformou em uma fazenda enorme, realmente fazia tempo que eu não vinha aqui.
Não sabia o que fazer, mas fui pela sorte.
- Como é essa Dona Marta que você conhece? - perguntei.
- É magra, cabelos grisalhos, e xinga o tempo todo.
- Xinga o tempo todo? com certeza é minha vó.
Nós rimos.
Ele ligou o carro e começou a andar.
Comecei a reparar pelas janelas do carro o quão bonita a cidade era, muito calma, e só tinha gente bonita, tanto homens quanto mulheres.
As ruas eram muito largas, talvez o dobro das normais e algumas eram de terra.
Cerca de vinte minutos, e muitas ruas desertas depois, ele parou em frente a uma porteira gigante feita de uma medeira escura; estava aberta.
Paguei o motorista.
Desci do táxi e o motorista fez o mesmo.
- Vou entrar com você, vai que é o lugar errado.
Estava preste a balbuciar um "OK" quando um grito agudo me deu certeza de onde eu estava.
- PUTA QUE PARIU, IAGOO?
Minha vó estava agachada num canteiro de terra próximo a entrada da fazenda com um chapéu de palha, galochas nos pés, algumas mudas de flores e uma pazinha na mão.
Quando me viu se levantou correndo e veio em minha direção.
- Achei que eu ia morrer e você não ia aparecer aqui seu merdinha.
- Boa tarde também vó.
Ela me abraçou apertado por um longo tempo.
- Como você ta grande menino - ela interrompeu o abraço e segurou meu rosto com as mãos - que saudades.
- Também tava com saudade.
Ela olhou pro lado e viu o motorista.
- Oi Vítor, tudo bem queridinho?
Então o nome do motorista era Vítor.
- Tudo sim dona Marta obrigado.
Ela voltou sua atenção pra mim.
- E ai, o que aconteceu pra você, quere vi aqui do nada?
- Ah sei lá vó, queria mudar um pouco de ambiente.
- Aaaah isso mesmo, você fez bem, cidade grande só dá dor de cabeça - disse ela gesticulando com a mão como sempre - então vamos entrar, anda anda.
Vítor o motorista, não aceitou o convite pra entrar e voltou pro serviço.
Andamos um caminho gigantesco e o casarão da minha vó ainda estava longe.
- Vó esse lugar é imenso.
- É, seu cachorro, se viesse mais aqui não se surpreenderia tanto.
Depois de andarmos bbastante, chegamos até a casa.
Era mais linda ainda por dentro.
Móveis grandes, piso claro, nem parecia uma casa da "roça".
Conversamos por muito tempo, expliquei que agora iria morar com ela e ela ficou muito feliz.
Depois de um tempo um homem entrou na sala e me hipnotizou.
- Licença Dona Marta - ele disse tirando o chapéu de Cowboy e o segurando na frente do corpo, parecia ser tímido e tinha uma voz muito grossa.
- Sim Tadeu.
- O cavalo da senhora já tá pronto.
Tadeu tinha a pele morena clara, cabelos raspados na máquina um, barba por fazer tinha músculos que explodiam pra fora da camisa de botões, usava uma calça jeans surrada bem apertada (o que acentuava as pernas torneadas) cinto com uma fivela grande e botas, um verdadeiro cowboy.
- UI maravilha - Minha vó disse animada.
- Vamos também Iago?
- Não não, não sei cavalgar, vou ficar só olhando.
Rimos.
- Olha só, já tava esquecendo de apresentar meu neto a você Tadeu - nos levantamos e Tadeu veio em nossa direção.
- Esse é o Iago.
Ele apertou minha mão com firmeza
- Ela vai passar a morar aqui na fazenda agora.
- Seja bem vindo.
Olhei nos olhos dele mas ele olhou para o chão, realmente era tímido.

Saímos da casa e fomos até o estábulo que ficava um pouco longe (como tudo lá).

Minha vó parecia feliz cavalgando, ela sumia e reaparecia no meio das árvores.
Eu e Tadeu estávamos sentados na cerca de madeira do estábulo observando minha vó
- Ela faz isso sempre?
- Todo dia a essa hora - respondeu Tadeu sem olhar pra mim.
- E você? Também anda muito a cavalo? - perguntei.
- Sim.
Ele era objetivo em todas as respostas.
- Talvez você possa me ensinar a cavalgar qualquer dia desses.
Ele ficou vermelho e riu.

Acabei de ter certeza de que esse é o o lugar perfeito pra esquecer Eduardo.

Tio Eduardo (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora