Capítulo 2 (não revisado)

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"Os homens devem ter corrompido um pouco a natureza, pois não nasceram lobos e acabaram tornando-se lobos."

Voltaire.


Nos corredores da Universidade Federal de Santo Agostinho estavam afixados cartazes da próxima confraternização que o DCE organizou, prometendo ser uma festa de arromba. O local: a famosa boate Beijo da Noite! No dia marcado a casa encheu, chegando a mais de mil e quinhentos participantes.

Alegres, os donos comentavam o resultado.

– Esta noite bateu o recorde, Dionísio – afirmou Chico, feliz pelos resultados. – Escuta, eu notei que quando a casa tem shows assim, tu tira os extintores. Isso é muito perigoso!

– Bah, Chico – respondeu chateado –, aquele troço detona com a decoração do lugar!

– Deixa pelo menos um ou dois perto do palco...

– Mas tu é mesmo cagado hein? – interrompeu o sócio com uma risada descontraída. – Nós tamo aqui faz um ano e nada de dar merda, tchê! Mas tá bom, vou mandar deixar um no palco e um no bar.

– O DCE da UFSA já me contatou para fazer nova festa em dois meses, final de Janeiro. Eles pediram para arrumar uma banda especial pois querem que essa festa seja ainda maior que a de hoje.

– Tranquilo. Vou procurar uma banda pra matar a pau. Tchê, te garanto que nós vamo fazer a casa pegar fogo. Será uma baita festa de arromba, algo que jamais se viu na cidade de Santo Agostinho. Vamos fazer história.

― ☼ ―

Adriana, estudante do primeiro semestre da faculdade de engenharia elétrica, estava empolgada porque era a primeira festa em que ia participar em uma boate. A mãe, professora da mesma universidade, aconselhou a filha, dizendo:

– Drica, toma muito cuidado com essa boate – insistiu, bastante preocupada. – Antes do teu pai morrer, ele investigava um engenheiro dos bombeiros que foi morto de forma estranha. Segundo teu pai, esse homem fez sua última inspeção ali e reprovou o local. Agora junta isso ao assassinato que ele sofreu e tu podes ter certeza que aquele lugar não é seguro, nada seguro.

– Ele ainda faz muita falta, né mãezinha? – A linda moça, uma loirinha de olhos azuis, dezesseis anos e muito formosa, abraçou-se à mãe. – Sabes, acho que jamais superarei isso pois eu amava muito o papai. Mas, pelo menos, ainda tenho o tio Omar! Estou com muita saudade dele, mãe, muita mesmo. Faz um ano que não aparece por aqui!

A mãe estremeceu um pouco ao ouvir esse nome, o padrinho da filha e que Adriana amava tanto quanto a um pai. Infelizmente, ele estava fora do país e Júlia não sabia quando voltaria.

– O teu pai era muito especial, filha. Eu sei que em algum lugar ele está observando e velando por nós. Em breve o teu padrinho voltará para o Brasil e virá tirar férias para nos ver. Daí, poderás matar saudades dele. Agora não te esqueças do que te disse e toma cuidado com essa boate, ok?

– Mãe – Adriana riu e beijou-a –, eu lembro tudo o que o papai me ensinava para casos de emergência. Não te preocupes que estarei bem segura. Bem sabes que sou muito cuidadosa.

– Sei sim, minha filha. – A mãe suspirou. – Se eu fosse como tu na tua idade, talvez as coisas tivessem sido muito diferentes. Mas enfim, é a vida.

– Como assim, mãe? – Adriana olhou para Júlia, muito espantada, e riu. – Quer dizer que não eras ajuizada na minha idade e agora vens me cobrar isso?!

Ganância Sem Limites - O Beijo da MorteOnde histórias criam vida. Descubra agora