Capítulo 6 - parte 1 (não revisado)

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"Ainda não vi alguém que ame a virtude tanto quanto ama a beleza do corpo."

Confúcio.


No dia seguinte, Omar retornou para a capital e o superior chamou-o em particular, muito preocupado e aborrecido.

– Mataste o chefe da federal, cara. Isso tá dando um rolo danado e quando souberem que foste tu, vais ficar bem ferrado, tchê. Nem mesmo um esquadrão negro poderia ter feito tal coisa sem ordens diretas. O que foi que te deu no porongo?

– Não, não estou ferrado. – O delegado pegou o celular do bolso e mostrou a gravação. – Foi ele que assassinou os meus pais. Mataria até o presidente, se soubesse que foi o culpado.

– Porra, Omar, isso não te livra de um processo por homicídio, tu bem sabes disso. Eu devia prender-te por isso e nem sei o que fazer.

– Não há nada que prove a minha atuação na limpeza, chefe. A única testemunha disso não vai abrir o bico e o senhor sabe que eu não dou ponto sem nó. Todos vão desconfiar, até saber, mas nada prova que fui eu. Usei o Beijo da Morte, como viu na gravação.

– És esperto, filho, mas temos que manter a coisa oculta por causa do ministério público – levantou-se e estendeu a mão para Omar, sorrindo. – Obrigado por vingar os meus amigos mais queridos.

– Os seus amigos mais queridos eram meus pais, senhor, logo eu precisava de os vingar. – Omar sorriu, enquanto o chefe voltou a sentar-se. Ele olhou para a mesa, ergueu os olhos e disse:

– Ano que vem, pretendo me afastar e desejava que tu fosses o meu sucessor...

– Não, chefe. – Omar sacudiu a cabeça com energia e abriu um sorriso leve. – Não desejo esse cargo e Paulo é muito melhor que eu em tarefas administrativas. Eu sou bom em outras coisas, como bem sabe, mas não sirvo para isso.

– Achas mesmo, filho? – questionou o chefe. – Não confio muito nele!

– Sim, chefe. Esse gabinete ia acabar comigo. Obrigado por pensar em mim mas não me faça tal coisa. Paulo é um bom amigo e sei que ele daria conta disso facilmente.

– Porém terias uma vida mais tranquila e estável, Omar.

– Neste momento, chefe, é tudo o que menos desejo.

O superior olhou nos olhos do seu melhor agente, notando a profunda tristeza que o assolava. Após uns segundos, rompeu o silêncio:

– Filho, por causa do teu pai, eu sei do teu passado e vejo que ainda estás demasiado magoado. Não queres ajuda profissional?

– Obrigado, senhor, mas já tomei a minha decisão – respondeu com firmeza. – E não será um psicanalista que irá mudar isso, infelizmente.

No fim de semana seguinte Omar foi a Santo Agostinho, mas não se encontrou com a ex, passando o tempo todo com Angélica, que estava cada vez mais apaixonada.

Um mês depois ela assumiu a chefia da inteligência em Porto Alegre e ambos passaram a viver juntos. Omar acalmou-se muito e realmente gostava dela, mas jamais sentiu o que sentia antes com Júlia, nem mesmo na intimidade mais profunda.

― ☼ ―

Um ano depois, ambos passaram uma semana de férias em Santo Agostinho e ele conheceu a filha, Adriana. Os pais convidaram-nos para serem padrinhos e Omar sentiu-se feliz em tomar a filha nos baços enquanto o padre a benzia. Ele, doido para a apertar contra si e chorar de felicidade por uma filha que lhe pertencia, segurou tudo o que podia, mas sempre deu um jeito de acompanhar a evolução da menina, que o adorava. Sabendo de tudo, Angélica apoiava essa proximidade da filha porque achava que um dia ela precisaria de saber a verdade e seria muito mais fácil se a garotinha gostasse muito do verdadeiro pai.

Ganância Sem Limites - O Beijo da MorteOnde histórias criam vida. Descubra agora