-Alicia Povs
O studio estava quieto, o único som que se ouvia era o dos meus passos e da minha frustração.
A dança sempre foi meu melhor escape, minha melhor linguagem, meu refúgio. Mas depois dos intensos estudos pra vestibulares e a faculdade, a frequência meus ensaios caíram muito. Alguns bebem, outros comem e eu danço. É o que me faz bem, o que me faz sentir viva.
Por mais que tentasse, o sonho que tive na noite anterior não saía da minha cabeça. Em primeiro lugar, porque Ele estava lá. Em segundo, porque dançávamos.
Fecho meus olhos e me transporto novamente para aquela atmosfera onde vi um pouco de quem Ele é.
Me lembro que já estava escuro no Jardim. Me sentia tentada a ter medo, mas meu coração sentia Sua presença por perto me atraindo. Eu corria, em parte por medo da escuridão, em parte por saciar a sede que sentia daquela Presença. Em qual lugar do Jardim ela seria mais forte? Onde eu poderia encontrá-Lo?
Meu coração estremece quando percebo que não era somente eu quem estava em uma busca. Eu O estava procurando, mas Ele me buscava com mais força, eu podia sentir. E em um segundo, tudo muda, porque finalmente O encontro.Quando Ele caminha pra mim, todo o meu ser é tomado por Ele: meu coração queima, meus olhos choram, meu corpo estremece. Até que Ele segura minha mão, e todas as trevas em volta dão lugar ao brilho da glória quando Ele me toma pra dançar.
Ele me conduz pelo jardim, entre saltos, rodopios e giros. A alegria toma meu coração por completo. Percebo que haviam crianças que dançavam conosco também, e elas irradiavam alegria. A música era majestosa, embalava a alma. A vontade era de ficar ali pra sempre dizendo que Ele é Santo, Santo, Santo. Mas o ritmo foi diminuindo, o barulho foi se silenciando e nossos passos ficando mais lentos. O Jardim que antes era cheio de árvores e arbustos, foi ficando mais aberto. Ele me guiava pelas mãos, e eu prestava atenção em seus passos. Até perceber que já não estávamos mais sobre a relva, mas sobre a água. O Jardim das Oliveiras foi ficando para trás, enquanto deslizavamos sobre o Mar da Galileia, como patinadores do gelo, andamos sobre às águas.
"Eu tenho poder, eu faço a minha glória brilhar e dissipar as trevas. Eu a faço caminhar e dançar na escuridão sem tropeçar, e nas águas sem afundar. Pois eu estou com você".
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—Sabia que estaria aqui. –Abby diz enquanto entra no salão. Limpo rapidamente algumas lágrimas que haviam caído, mas ela percebe. — Ei, o que foi? Aconteceu alguma coisa, filhote?
—Não é nada, Abby. Obrigada. Só estava sonhando acordada mesmo. Mas... Eu que pergunto, aconteceu alguma coisa pra vir atrás de mim assim do nada?
—Ainda não aconteceu, na verdade. O Pedro pediu pra te convidar para o Dunamis que é daqui a pouco, porque ele precisa falar com você, Dona. -ela sorri.
—Por quê comigo? Ele não se tocou da sua paixão por ele, não? -provoco.
—Nem começa, Alicia. Você vai comigo. E logo, porque o Tomás está esperando a gente no carro!
—Tudo bem, mãe! Pode parar de encher já. -provoco enquanto pego minhas coisas. -Aquela tal de Rebeca vai?
—Não sei... Ando preocupada com ela. -Abby diz meio distante. - Ela parece melhor, mas de qualquer jeito, ela pode ter uma recaída, afinal, se cortar vira um vício.
—Calma, Abby. Vai dar tudo certo! -digo enquanto a abraço. - Você tem um coração tão disposto a sofrer pelos outros... Mas calma! Vai dar tudo certo.
Ela sorri fraco e me abraça de volta.
—O que eu seria sem você pra me animar, leãozinho?
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Dessa vez, a tal reunião do Dunamis seria na casa do Pedro, já que a sala em que se reúnem não pode ser usada aos fins de semana.
No carro, Abby e Tomás conversam animadamente sobre alguma coisa que não presto atenção. Meus pensamentos continuam voltando naquele sonho. Por que Ele me tomou daquela forma se eu nem decidi por Ele ainda? Por que Ele insistiria em mim se não tenho nada a oferecer?
Quando finalmente chegamos na casa do Pedro, uma moça morena de óculos nos recebe na porta. Eu não sei bem o porque, mas havia algo nela que atraiu minha atenção. Havia tanta paz no modo como falava, agia e andava. Mesmo quando o café que nos serviu acabou caindo no tapete, ela não disse uma palavra pra reclamar.
—O Pedro só foi buscar alguns irmãos e já vem. -ela disse enquanto pegava sua bíblia.
—Deu certo? -Abby questiona.
—Graças a Deus, sim! Eles já estão vindo. -July sorri pra Abby e depois me encara durante algum tempo. -Desculpem, podem me dar licença só um minuto? Preciso pegar algo.
—Claro. -respondemos em uníssono. E é lógico que Abby e Tomás numa sincronia muito maior. Quando July volta, tem um pacote nas mãos.
-Ok, eu tenho um presente pra você. Na verdade, Ele tem. -ela diz pra mim, me estendendo o pacote. - Nem ouse recusar, porque Ele quem mandou.
A surpresa me deixa com a cara vermelha, e quando abro, encontro uma Bíblia e um Diário, ambos com a mesma estampa florida.
—São tão lindas! Obrigada... -digo quase num sussurro encantada.
—Na bíblia, Ele falará com você. E no diário, você falará com Ele. -ela me diz. -Sei que é estranho, mas Ele me mandou cuidar de você agora.
—Se a Abigail não ficar com ciúmes, por mim tudo bem... -murmuro sorrindo.
—Tudo bem, eu sou insubstituível. Você vai me amar pra sempre! -Abby responde.
—Ainda bem que sabe! -digo a abraçando.
Houve poucos momentos na vida em que pude olhar tudo e declarar sem medo "Eu sou feliz!". Mas esse, com certeza era um deles. Não importa quantos problemas eu tivesse que enfrentar dali pra frente, sei que teria uma família comigo pra lutar o bom combate da fé.
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Quebrantado Por Seu Amor
SpiritualComo está seu coração? Eu realmente espero que não esteja conforme a maioria: Duro, orgulhoso, ferido, medroso... Talvez pelas circunstâncias da vida, o coração fique assim, moído pelo sofrimento. Ou melhor, corrompido pelo pecado. Mas essa é uma h...