Quebrantado Por Seu Amor

Capítulo 2

Quando a última palestra finalmente termina, Tomás ainda estava anotando certos pontos do tema da aula. Estava tão concentrado em lembrar o raciocínio, que não percebeu que só restou ele, o professor e uma moça no auditório.

—Se metade dos universitários atuais possuíssem o comprometimento de vocês, o país não estaria essa bagunça. -O professor murmura e esboça um sorriso para ambos, enquanto sai.

Talvez por aquele professor ser o mais importante e exigente da instituição, os dois se encaram a distância, pasmos.

—Isso aconteceu mesmo? -A moça pergunta, sorrindo.

—Realmente, é difícil de acreditar!- Tomás responde enquanto pega sua mochila.

A garota o observa.

—Podemos nos considerar os melhores, então?- murmura, cheia de orgulho e satisfação.

—Humildade não é seu ponto forte.

—Sagacidade é o seu, pelo que vejo.

—Tem razão. Mas não sou tão sagaz a ponto de adivinhar seu nome, Senhorita Humildade.

—Alicia, mas me chame de Liss. -ela sorri.

O sorriso da moça foi tão largo e simpático que Tomás pensou consigo mesmo se não teria sido falso. Mas não, a garota só queria ser gentil e ganhar uns tijolos para sua casa no Céu. Quem nunca?

—Prazer, Tomás. -Ele a cumprimenta.

—Você chegou a pouco tempo, não é? Só percebi você hoje.

—Bem, sim. Me mudei tem algumas semanas.

-E morava onde?

—Campinas. -Ele diz enquanto caminham para a saída.

—Que interessante! E está gostando da cidade da garoa?

—Até agora ela tem me surpreendido com algumas moças e coisas lindas.   -Ele sorri olhando-a nos olhos.

Antes que ela pudesse responder, seu celular toca e a voz melodiosa de Renato Russo começa a questionar:

"Será só imaginação?

Será que nada vai acontecer?

Será que é tudo isso em vão?

Será que vamos conseguir vencer?"

Alicia encara a foto sorridente na tela do celular enquanto ele toca, ponderando sobre aceitar a chamada ou não, mas resolve não atender. O clima ainda estava muito estranho entre ela e Abby. Mesmo após anos de amizade, Alicia ainda não havia se acostumado com o fato da amiga virar cristã assim, da noite para o dia.

—Está tudo bem? -Tomás quebra o gelo dos pensamentos de Liss.

—Acho que sim. -murmura- Mas, obrigada. É só uma amiga.

—E essa música? Gosta do Legião? -Tomás pergunta enquanto descem as escadas do último andar.

—Não sou "fã", mas uma viciada nessa música.

—Por causa das perguntas, também? -Ele deixa escapar um sorriso de canto.

—Bom, sim.

— E já encontrou as respostas delas? Porque olha, elas me atormentam noite e dia.

—Ainda não. Mas, isso não dá uma certa sensação de segurança?

—De certa forma sim. Não quero descobrir que tudo isso é em vão. -ele murmura.

Não é irritante e estranho o fato do homem sempre preferir se agarrar a mentiras e ilusões invés da Verdade? Ambos sabiam que existiam verdades maiores que eles mesmos no mundo, e ainda assim, viviam como se aquelas verdades fossem menos que nada. 

-Isso é... Música ao vivo? No quarto antar?- ela pergunta.

Tomás começa a aguçar os ouvidos. Realmente, o som da guitarra e do baixo começou a ficar mais claros a medida que eles se aproximavam do fim do andar. A bateria e o baixo foram diminuindo, enquanto a guitarra assumia o solo. O som do dedilhado embalava a alma, e os dois foram ficando cada vez mais ansiosos pelo som.

Não parecia ser só uma música boa. Tinha algo a mais, algo por trás. Algo que atraía.

Logo, pode-se ouvir a voz de alguém entrar na melodia da guitarra. Assim que os dois finalmente chegam diante da porta da sala, o cantor começa a falar. A atmosfera do lugar logo muda, pra velha conhecida de Tomás. "Adoração''. Seu corpo estremece e o coração dispara. Como se a alma ansiosa chegasse perto novamente de alimento.

-"Há tanto tempo você não me chama de 'Pai'."- O levita canta exatamente com a mesma voz que chamou Tomás anos atrás. E na hora Tomás sabe: era com ele.-"Eu continuo sendo o mesmo. Eu não mudei, meu amor e minhas promessas não mudaram. A porta está aberta pra você, meu filho. Meu filho amado, por quem me entreguei. Eu sou seu Pai, eu tenho saudade. És pescador de homens''

As forças em Tomás parecem que vão todas embora. E ele se apoia em Liss pra não cair, que o olha sem entender nada. O rosto de Tomás parecia perplexo mas ainda assim, maravilhado. E ela também percebe. O ''recado'' foi para ele.

-Vamos embo...-Antes que termine, a voz recomeça.

-"És a minha filha preciosa, menina dos meus olhos, escolhida e separada antes da fundação do mundo. Nada sai do meu controle, menina, creia! Tenho o mundo e sua vida em minhas mãos. -Dessa vez, quem estremece é Alicia.- Meu Reino chegou pra você. Apenas creia!".

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-O que foi isso? -Liss murmura perplexa enquanto caminham devagar se afastando daquela sala. Olha para trás e vê uma plaquinha que não tinha observado antes. -O que significa... "Dunamis''?

-Vem do grego antigo, significa ''poder'' ou ''força'' constante, como uma dinamite.-Tomás murmura.

-E como sabe tudo isso? -Ela pergunta desconfiada. Aquelas palavras ainda ecoavam em sua mente.

-Já estudei a respeito. E respondendo sua pergunta, aquilo foi uma demonstração do Dunamis.

-Que é...

-O poder do Espírito Santo. -Ele conclui.