Quebrantado Por Seu Amor

Capítulo 11

~Pedro POVS

O sorriso de July, apesar de tudo, era confiante e sereno. E me impressiono como Esther parecia com ela quando sorria: as mesmas covinhas e os olhos quase fechados.

-Eu que vou consultar e você quem fica nervoso!-ela sorri de lado. - Pedro, calma, cara. Eu estou bem, de verdade.

-Eu sei. Só estou preocupado porque não temos um histórico familiar muito bom. -murmuro olhando em volta. Só havia mais algumas mulheres esperando o atendimento na clínica.

-Sei disso, Dr. Preocupação, mas eu tenho uma boa saúde.

-Então por que estamos aqui?

-Porque meus exames deram algumas alterações e a doutora pediu outros. E vou ter que tomar um remédio pra fazê-los, e não ia conseguir ir embora sozinha. Pra isso você está aqui. Agora fique calmo, ok?

-Tudo bem. -murmuro.

Era estranho estar em uma clínica ginecológica com minha irmã. Não por ser minha irmã, mas pela tranquilidade dela diante de sintomas tão estranhos.

-Juliana Barreto?- chamam da área de triagem.

-Aqui. -ela responde enquanto se levanta e quase cai ao tropeçar. -Não ria!-me repreende e se afasta com seu largo sorriso envergonhado no rosto.

Meu coração está apertado, a semana fora extremamente tensa. Dali a três dias, eu partiria para o campo missionário com Leon e Abigail, que deveria estar tão nervosa quanto eu. Mas eu preciso confiar que Ele está no controle e cuidará de tudo por mim.

Descubro que meu coração é mais ancioso do que eu pensava. Mas, a paz que Jesus me dá, excede todo o meu pensar e entender.

No banco ao lado, a bolsa que July deixou comigo está meio aberta, e vejo sua bíblia florida com uma cruz estampada na frente. E algo queima dentro de mim, Ele queria falar comigo.

A bíblia de July era cheia de anotações e papéis, mas um em especial, me chamou a atenção. No salmo 46, versículo 10 e 11, diz: "Fiquem quietos e saibam, de uma vez por todas, que eu sou Deus! Todas as nações da terra hão de honrar o meu nome!". O SENHOR dos Exércitos está entre nós; o Deus de Israel é a nossa proteção!".

Escrito com uma caligrafia e métrica quase perfeitas, as palavras de July estavam datadas em exatamente aquela manhã:

"Não vou mentir, está doendo. Mas Você é tão bom que confortou meu coração. Eu achei que não fosse aguentar passar por isso, mas olha Você aqui, cuidando de mim. Então vou me aquietar em Seu colo e saber que és o meu Abba e o meu Deus.
Você toca no fundo da minha alma, na raiz da ferida, e a arranca. Tira a raiz do medo e planta fé. Dói, mas você a cura pra sempre. Porque Você está fazendo tudo novo, está me levando ao lugar que pedi. Ao ponto zero, a linha de largada, onde começamos nossa corrida. Onde provavelmente deixei meu primeiro amor. Adianta chegar ao final da corrida sem o bastão? Não adianta chegar diante de Você com minhas mãos cheias de obras, mas sem o primeiro amor.
E é necessário pra que isso aconteça, que eu abra mão, te entregue e confie tudo aquilo que eu tenho retido pelos tempos, confiando em mim mesma pra resolver. A minha vida é Tua, seja feita a Sua vontade.
Ah, Abba... A obra aqui é tão grande, há tanto trabalho pra ser feito. Nem sei por onde começo. Eu só peço, que Você venha. E que fique, e que me deixe me apaixonar por Ti de novo. Não importa se eu vou ter que ser purificada através dos sofrimentos, eu só quero Você. Eu só quero Você. Tenho tanta fome e tanta sede de Ti, nada vai me tirar da rota. Nenhuma dificuldade, nenhum problema, nada."

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Na volta pra casa, July estava tão quieta que nem parecia ela. Eu poderia concluir que era o efeito dos remédios, mas como ela continuou naquele estado nos dias seguintes, eu sabia que tinha algo a chateando. E por mais que eu perguntasse com todo o cuidado, ela não se abria.

Por fim, pouco antes de embarcarmos no avião, insisto com ela novamente, e ela sorri fraco segurando minhas mãos.

-Pedro, não se preocupe! Eu estou bem, de verdade. Meus exames deram algumas pequenas alterações, mas nada que medicação não resolva. Agora você vá em paz, se cuide e resgate aquelas almas! E não se preocupe com nada! Ficaremos bem, orando por você todo dia.

-Tem certeza que você não é a mais velha de nós? Sempre é mais confiante e madura que eu. -digo abraçando-a forte.

-Absoluta. Lembro muito bem de um menininho corajoso dos olhos brilhantes que defendia a mim e depois a Esther de todo o perigo e maldade. E agora crescido, ele precisa se lembrar que não é super-herói, que é sujeito a falhas e fraquezas, e carente da graça de Deus.

-Esse menino promete parar de se preocupar e confiar vocês aos cuidados de Deus.

—Ótimo. Tomara que ele se lembre todos os dias que o amo muito, morro de orgulho e me inspiro nele. -ela diz me apertando num abraço.

—Pessoal, vamos orar. -Leon nos chama, tentando reunir todos num círculo.

Abigail olhava em volta, preocupada.

—Abby, acho que ela não vem. -digo.

—Acho que minha ficha só está caindo agora. Bom, queria que ela estivesse aqui. -declara enxugando uma lágrima.

—Eu sei. Mas olhe, tem uma outra ali que te ama demais. Por que não fala com ela?-aponto pra Liss, que chega perto de nós pra nos abraçar de novo.

—Tem razão, Pedro. -ela diz abraçando Alicia. - Eu não tenho sido uma boa amiga, nem muito presente. Mas mesmo assim você continua cuidando e me aguentando. Não sei nem como agradecer, minha menina.

—Olha, não vou dizer que não fiquei com ciúmes daquela Rebecca, mas tudo bem. Também amo você. E você pode agradecer fazendo brigadeiro pra mim todo dia, o que acha?

—Que você vai ter diabetes e eu vou estar lá cuidando de você.

—Que você vai cuidar de mim é fato, você não tem escolha. A diabetes é opcional.

—Eu não vou deixar você morrer de comer besteira, Alicia. Nem adianta.

—Mas mommy...

—"Mas" nada. Sem chance.

—Vocês são estranhas. -eu digo sorrindo.

—Fato. -Alicia responde.

—Obrigada. -Abby sorri.

—Acho que estão esperando por nós. -digo apontando para o nosso grupo, que já estavam ajoelhados e de mão dadas no meio do aeroporto.

Um grupo muito normal, claramente. Nos juntamos a eles e Leon toma a palavra.

—Nós estamos indo levar o Evangelho aos ribeirinhos, e vocês que ficam aqui, continuem com a missão de ser sal e luz por onde andarem. No trabalho, na faculdade, nas ruas. O Espírito do Senhor estará com vocês, e nesse um mês, o Senhor mostrará que é com cada um de vocês. Vidas serão salvas, pessoas serão curadas, e a mensagem do Reino de Deus vai ser pregada. Como Deus disse pra Josué, Ele diz pra cada um de nós hoje. Sejam fortes e corajosos, toda a terra em que pisarmos Ele nos dará por herança. Fiquem firmes e sejam corajosos, fortalecidos e guardados na força do poder de Deus.

Então todos começam a orar. A presença de Deus é real e quase que podia ser tocada. De muitas palavras que vinham na mente pra orar naquele momento, nenhuma saía. Até que me lembro da oração de David Livingstone, e em meu coração, sei que o Abba me ouve.

"Deus, envia-me para qualquer lugar, desde que vás comigo. Coloca qualquer carga sobre mim, desde que me carregues, e desata todos os laços de meu coração, menos o laço que prende o meu coração ao Teu."