Capítulo 3

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~Alicia P.O.V.
"Abby? Desculpe se ficou magoada. Desculpe mesmo. Não quero que fique triste comigo, você é a única pessoa que ainda não desistiu de mim. Pode dormir aqui hoje?
-Liss"

Alguns minutos depois, a resposta aquece meu coração e manda embora toda a preocupação de perder minha melhor amiga.

"Tudo bem, eu te perdôo. E não se preocupe, eu jamais desistirei de você. Prometo
-Abby"

"Me lembrarei disso ♡ Você vem?"
Dessa vez a resposta demora mais a chegar. Enquanto preparo um chá, volto a pensar sobre o que aconteceu mais cedo. Aquilo fora mesmo Dunamis? O poder do Espírito Santo?
Nada nunca falou tão fundo em meu coração. A sensação que tinha ao pensar naquelas palavras era como se elas fossem um clarão que ilumina a imensidão por um segundo. E isso me deixa profundamente aflita, pois sou muito mais profunda do que pensava. Existia uma imensidão enorme demais vazia aqui dentro. Não importa o quanto tente lembrar de coisas boas, nunca é suficiente para preencher todo o vazio.
Só paro de pensar nisso quando me assusto com o celular vibrando na bancada da cozinha.
"Dá pra abrir a porta?!
-Abby."
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-Que bom que chegou. Entra. - digo enquanto abraço minha amiga.
-Perdi meu casaco em casa, então tive que ficar procurando até achar. Mas enfim, está tudo bem?
-Não sei. Acho que sim. - declaro enquanto fecho a porta.
-Considerando que há meses não vejo você tão calma, doce e educada, tem algo diferente.
-Acho que sim. -murmuro.
-Posso tocar?- Abby diz apontando pro violão antigo de Liss.
-Claro.
-Tô com uma canção na cabeça o dia todo, porque não consigo acertar um acorde...
-Que música?
-Vai ver. -Ela responde enquanto afina o violão. -Até pensei em falar com o Daniel pra ver se essa nota saía, mas até agora nada.
-Que Daniel?
-O Daniel, Liss. Ele faz jornalismo, mas manda muito bem na música... Eu estou apaixonada nessa música há dias, tenho que aprender logo.
-Canta logo, Abigail.- a encaro e ela sorri. Às vezes ela poderia falar por horas e não chegar a lugar nenhum.
-Tudo bem! O nome é Mar de Vidro, do Rodolfo Abrantes.
E ela começa a tocar e a cantar os primeiros versos.
Eu já havia visto Abby cantar diversas vezes, músicas difíceis até, mas ela sempre deixava todos de queixo caído pelo seu talento com a música. Mas dessa vez, era diferente. A canção, os acordes, as notas, eram simples. Mas me fizeram sentir a mesma sensação de mais cedo. Seria novamente o... Dunamis?


"Quando Deus enviar alguém, quem irá
Ou ouvirá sua voz quando Ele chamar?
Será que essas são as mãos que Ele vai usar?

Meus olhos viram quando por aqui Ele passou
Será que o meu coração ardeu quando Ele falou?
Reconhecendo que o Mestre se aproximou

Mesmo que eu não Te ouça
Pois o mundo faz de tudo pra Te calar
Tu renovas minhas forças
Me põe de pé e diz pra mim que Tu me aceitas
E o sacrifício sou eu no Teu Altar

Sou Teu
Vou preparar o Teu lugar, vem e reina!"

Por algum motivo, aquilo queimou em mim. Principalmente, "Quando Deus enviar alguém, quem irá?". Mas por quê? O que eu tenho a ver com isso, com esse chamado?

Aquilo queimava cada vez mais, e a vontade que eu tinha era de levantar e dançar, algo que eu não fazia há tempos. Sempre que eu não conseguia colocar em palavras o que sentia, a dança o fazia. Mas depois que entrei na faculdade não tive mais tempo para treinar.

Com todas essas lembranças nem percebo que estava cantando junto com Abby. "E o sacrifício sou eu no Teu Altar. Sou Teu...". Ela, porém, percebe e me observa sorrindo. E logo a canção termina.

-Conheci um cara hoje. -Murmuro- O nome dele é Tomás, e...
-Garotos? Sério? -Abigail interrompe.
-Posso terminar?
-Claro. Desculpe.
-Estavamos indo embora, mas ouvimos música no quarto andar. O que é muito incomum. E o som era tão bom que acabamos indo atrás. Mas... Não sei. Foi tão... Estranho.
-Vocês foram pro Dunamis?-Abigail diz num sorriso surpreso.
-Isso. Esse negócio aí.
O sorriso de Abby era tão largo quanto o horizonte.
-E como foi?
-Bom... Foi estranho. Quando chegamos o cara começou a falar com uma voz mais firme mas tão dócil. E... Ele falou algumas coisas pra mim e pro Tomás. Disse que éramos seus filhos e um monte de coisa. Me mandou crer.
-E... -Abby pede que eu continue, a súplica clara em seus olhos e sorriso.
-Tomás disse que aquilo foi Dunamis. Uma demonstração do Espírito Santo. E eu fiquei boiando na maionese, Abigail!
Então ela não se contém e grita de alegria, rindo.
-Eu disse! -Diz entre risos.- Aleluia!
Ela continua comemorando até que vê minha cara e se acalma.
-Terminou?
-Acho que sim- ela diz ainda sorrindo. -Eu te disse, amiga, o Reino de Deus chegou pra você!
Um arrepio percorre meu corpo.
-Abigail... foi a mesma coisa que Ele me disse.

~Tomás P.O.V.S
-Bom, estou aqui. Faz tempo, mas estou aqui. Pode me ouvir novamente, Pai?

Da sacada do apartamento, eu ouvia mais barulho do que paz. Mas, então, sinto a brisa da noite soprar.
Observo as poucas estrelas no céu, e a calmaria no peito.
Estremeço quando ouço a doce voz de muitas águas falar pra mim: "Estou aqui, Filho".

Quebrantado Por Seu AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora