Capítulo 10

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~Abigail POVS

Naquela manhã de sábado, eu realmente não queria ir pra lugar algum. A semana foi péssima, demorava a passar, eu estava preocupada e sem ânimo pra nada. Até para o Senhor, infelizmente. Mas o jeito como Ele me envolveu em amor toda vez que chorava foi tão doce e profundo, que eu só podia correr para Ele mesmo. 

O problema não foi comigo, até preferia que fosse, mas tocaram na "menina dos meus olhos": Rebeca. Eu não soube exatamente o quê aconteceu, mas foi grave o suficiente pra ela querer desistir de tudo e me pedir pra se afastar. Mas o que mais doeu, foi não poder insistir, porque Ele não deixou. Invés disso, me disse pra me afastar por um tempo. Doeu mais que uma vida? Doeu. E ainda não entendo bem tudo isso. Talvez eu estivesse atrapalhando seu agir... 

Mas como Ele não é um Deus tirano e sabe meu limite, veio com seu amor e me consolou. Com uma simples brisa, me lembrou que Ele tem o controle de tudo e que cumpriria a sua boa, perfeita e agradável vontade. E foi isso que me sustentou durante a semana, simplesmente a sua graça, porque se fosse por mim eu teria feito tudo do meu jeito, e com certeza daria muito errado. Então decidi confiar. 

Durante toda a semana, eu estava bem pra todos. Mas como Alicia me conhece desde que temos 10 anos, logo viu que eu não estava nos meus melhores dias. Esperei da parte dela algum conforto, mas o que recebi foi repreensões. "Por que se envolver com gente tão complicada? Meu Deus! Chega de agir como babá dessa menina!" . Essa é a única parte do longo discurso que consigo lembrar. Eu sei que Liss estava zangada porque me afastei dela e me aproximei de Rebeca, mas um discurso de quase meia-hora insistindo pra que eu desista é meio demais. 

Ouço "Pai de multidões" do Fernandinho ecoar de algum lugar do meu quarto. O toque estava quase acabando quando finalmente encontro meu celular no meio dos travesseiros e vejo a foto de Pedro e Esther na tela, então atendo. 

-Oi. -murmuro. 

-Oi Abby!- Esther diz com uma voz estridente, provavelmente sorrindo. 

-Oi, querida. Tudo bem?-respondo um pouco mais feliz. Talvez sua animação estivesse me contagiando. 

-Tudo! Olha, o Pépe legal queria perguntar se você vai com a gente pro parque hoje. Ele queria conversar uma coisa séria de adultos com você e não me disse o quê. -Não sei se rio do apelido ou se choro por mais assuntos sérios. 

-O Pépe-Legal está aí, Esther? -digo sorrindo. 

-Tá sim. Eu vou passar pra ele, mas promete que vai? Quero te mostrar uma coisa que ganhei. 

-Tudo bem... Só porque você pediu. -declaro. 

-Ótimo! Então até mais tarde. -ela diz comemorando, e depois, grita por Pedro, que atende o telefone. 

-Abby? Algum problema?

-Não, Pépe-Legal. Até que está tudo bem. Foi a Esther quem me ligou, você queria falar comigo?

Quando digo seu apelido, ele ri alto ao fundo. Uma risada engraçada, mas até bonitinha. 

-Bom, sim. Mas precisa ser pessoalmente. 

-É assim tão sério? 

-Bom, depende de como está seu passaporte. -ele murmura. 

-Pedro! Fala logo! -Protesto. 

-Não, te falo mais tarde, pessoalmente. Espera, você vai, né

-Vou ter que ir. A Esther me convenceu. -respondo. 

-Então tudo bem. Até mais tarde, irmã. -ele diz antes de desligar. 

Me pergunto porque deixei escapar um sorriso com aquele "irmã". A intenção de Pépe-Legal não foi aquela... Ou foi

Enquanto os meninos jogam futebol com Leon e o resto das meninas jogam vôlei, ajudo Miriã a arrumar a mesa com o lanche que trouxemos. Graças a Deus, o dia não estava muito quente, então era um bom dia pra se passar no parque. 

Depois que todos comem e descansam, Leon pede que eu abra a bíblia em algum lugar e leia o capítulo que cair. O sorteado, então, foi o capítulo 1 do livro de Rute. Eu leio, e quando termino, todos comentam o que acharam do capítulo. Observo Liss falar sobre Orfa, a nora que foi embora, e penso no que ela diz. Talvez era isso mesmo que eu devia fazer. Talvez ela estivesse com a razão. Mas... Pensar em Rute também deixou uma pergunta martelando em meu coração. E quando July me diz pra dizer o que achei, então digo o que penso. 

-Será que Rute não pensou em desistir de Noemi?- pergunto.

-Por que ela faria isso?- July pergunta.

-Não sei, só estava pensando. -murmuro desviando o olhar.

-Bom... Acho que entendi seu pensamento, Abby. -Tomás diz olhando pra mim.-Olhem, as três estavam sofrendo. Imagine o clima que devia ser na casa delas: dor, tristeza... Luto. A Moabe que antes era fonte de provisão, agora era um lugar de dor. E a Belém onde havia fome, voltou a ser a "Casa de Pão". Acho que Noemi se arrependeu de ter saído de Belém, pois talvez seu marido e filhos não tivessem morrido. Então além da tristeza da perda, podia ter um sentimento de culpa amargurando Noemi.

-Rute desistiria por causa disso? Ela mesmo estava sofrendo e precisava de bondade! -Liss dispara, incrivelmente interessada na história. 

-O argumento que Noemi usou pra tentar fazer as noras voltarem a Moabe, foi que ela não tinha mais nada a oferecer para elas, porque não poderia mais ter filhos pra serem marido delas. -Tomás continua. -Rute poderia ter desistido porque Noemi não tinha mais nada a oferecer à ela, somente amargura e tristeza. E foi o que Orfa fez, escolheu voltar pra Moabe, pra casa do pai dela, onde ela podia encontrar um outro marido e seguir com sua própria vida, curtindo em Moabe. Rute também tinha esse direito. Poderia simplesmente só seguir com sua vida, voltar pra casa dos pais, reencontrar os amigos e arranjar outro marido. Ela tinha o direito de seguir com a própria vida e Noemi lembrou isso a elas. Orfa escolheu voltar. Rute, porém, ficou. E Noemi tenta novamente poupar a nora de possíveis sofrimentos e insiste de novo, pra que ela a deixe e siga sua vida, mas esta diz:

"16. Porém Rute respondeu: Não me proíba de ir com a senhora, nem me peça para abandoná-la! Onde a senhora for, eu irei; e onde morar, eu também morarei. O seu povo será o meu povo, e o seu Deus será o meu Deus. 17. Onde a senhora morrer, eu morrerei também e ali serei sepultada. Que o Senhor me castigue se qualquer coisa, a não ser a morte, me separar da senhora!"

-Realmente, Noemi não tinha nada a oferecer a Rute. -Miriã diz. -Mas a fidelidade de Rute ao Deus de Israel e a sua sogra geraram recompensas grandiosas que ela nunca podia imaginar. Como um bom marido que ela jamais encontraria em Moabe: Boaz. Além disso, ser bisavó do Rei Davi e consequentemente, do Rei do Universo, Jesus Cristo.   

-A fidelidade gera recompensas na vida eterna e na daqui também. -Leon conclui. 

Enquanto os outros comentam sobre a fidelidade de outros personagens bíblicos, eu chamo o Abba pra perto e agradeço, por não me deixar desistir da minha menina. Eu já dei tanto trabalho pra Ele, porque eu desistiria da filha preciosa Dele? 

Pedro, Miriã e Leon haviam me chamado pra conversar . Eles pareciam tensos. 

-Lembra da visão que Tomás teve conosco? E da confirmação que o anjo disse que nos daria? Você... já recebeu a sua confirmação?-Pedro pergunta.

-Bom... sim. Aquele dia com a Rebeca recebi palavras de conhecimento. E aconteceu mais algumas vezes nos evangelismos que fizemos. É legal, mas estranho. É um conhecimento claro sobre situações específicas difíceis. Sempre acho que estou louca quando acontece. -sorrio e ele ri. 

-Exatamente assim que me senti quando vi algumas coisas e depois tive que orar. -ele responde sorrindo de canto. -Enfim... Desde que Leon e Miriã chegaram estivemos orando juntos. Ele teve quase a mesma visão de Tomás. 

-Sim. -Leon confirma.- Estivemos buscando a direção de Deus desde então, e Ele nos deu. 

-E qual é? -digo apreensiva. 

-Você e o Pedro vão voltar pro campo missionário comigo. -Leon declara. 

Quebrantado Por Seu AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora