A Car

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Era segunda, o primeiro dia de quimioterapia de Josh. Tyler apareceu cedinho, ele havia escalado a lateral da casa e estava na frente da janela. Josh que estava se vestindo de costas para a janela pulou de susto ao ver o amigo ali agachado, todo de preto e toca vermelha, olheiras profundas e um sorrisinho cínico na cara.
Tyler fez sinal para que Josh abrisse a janela e assim ele o fez.

- valeu cara! - falou tyler com a voz tremula, rolando para dentro e fechando a janela atrás de si - tá um frio lá la fora! O winter não está coming, o winter já chegou, bro!

Tyler começou a rir mas Josh estava compenetrado e não deu atenção ao trocadilho do magricela, que mais parecia um esqueleto, havia feito.

- Qualé, Jishwa? - Ty puxou o braço do menino azul para que ele o encarasse - eu...

Ele suspirou e fez seu migo sentar na cama e puxou uma cadeira que estava junto de uma mesinha de computador para ele.

- eu não faço mínima ideia do que você está passando, e muito menos sei o que se passa nessa sua mente, sempre fui eu quem compartilhei e falei e falei e falei... eu só falo e não digo nada. Você nunca fala, mas diz muito mais do que eu nunca pude dizer...

Josh não entendia onde Ty queria chegar, mas continuou em silêncio escutando, porque sabia que Tyler não era do tipo de conversas sérias então quando elas chegavam ele as valorizava pois tinha certeza que dali sairia ouro.

- só... fala comigo, por favor, como a gente fazia quando pequeno, inventa alguma história, como aquelas sobre o espaço e como você seria o Capitão Dun do planeta Ômega/Alpha do quadrante 13 e eu o General Joseph da terra...

Tyler afundou o rosto nas palmas de sua mão. Josh não sabia o que fazer ele estava tão confuso e perdido quanto Ty. Ambos estavam perdidos e confusos, porém, estavam juntos dessa vez.

- eu... eu só quero que... eu não quero que acabe. Nossa amizade, nossa música, nossas.... nossas vidas. Quero estar com você pra sempre mas sei que você não vai poder porque a ceifadora te chama pra te libertar. Eu sei que eu não sou o único a enfrentar uma guerra atrás dessa minha máscara e acima da minha garganta, que me sufoca, você também está lutando e eu sei! Mas eu sinto isso na minha cabeça, como uma enxaqueca dia e noite e as vozes... elas querem me devorar, elas são como se eu estivesse uma ilha e nela só tivesse leões famintos que querem me estraçalhar... eu sei que meu fim com ou sem você é de mãos dadas com a ceifadora ou amarrado em um manicômio pois estou fadado a desgraça. Porém, isso não me incomoda porque as vezes a morte me parece mais plausível do que essa enxaqueca na minha cabeça. Mas você não... você é genial... e eu... eu falei tudo isso pra dizer que... eu sinto muito.

E era mais um dos momentos em que Tyler estava apenas cantando sua alma sem saber e Josh só podia apreciar e sentir. Era algo verdadeiro que estava fluindo em meio a angústia e lágrimas de ambos.

- General Joseph - Josh proclamou firmemente - você está fadado ao fracasso tanto quanto eu. Se nossa nave for abatida, que seja, mas nós estaremos juntos até o final. Entendido?

Joseph fitou Dun com um olhar travesso e debochado.

- Sim, Sr. Capitão Dun.

O esqueleto sorriu para o alien que retribuiu. Josh puxou a cadeira de Ty para perto e o abraçou. Joseph estava em lágrimas e Dun também, mas ele sabia que o único porto seguro de ambos era um ao outro. O meu problema é ouvir vozes de menos e o dele ouvir até de mais...
O pensamento fez Josh sorrir.

- Joseph - se levantando, trocando a blusa de space cats por uma preta, assim ficando igual seu Ty e pegando a touca azul em sua cabeceira. Eles estavam iguais só variando a cores das toucas

- hey, essa touca não é...

- Sim, é. Agora me sinto pronto. Eu pediria pra você me dar uma carona mas minha mãe faz questão de me levar então você vem com a gente, sem reclamar! - falou Josh cortando a fala do migo antes mesmo dele começar - vamos ficar juntos até o fim né?!

- Sim, Capitão Dun.

- okay, General Joseph.

Enquanto a sra. Dun ia seguindo em direção ao hospital, Josh via a o carro tomar distância e a vontade de arrebentar a porta do carro e pular só aumentava. Ele estava no banco do passageiro e Ty estava no de trás, ele olhou pelo retrovisor e podia dizer que Ty pensava no mesmo. Por um breve momento Tyler e Josh trocaram um olhar determinado pelo retrovisor e então Tyler começou a tagarelar como de costume o que fez Josh se sentir bem, como qualquer outro dia e não como o começo da sua morte.

Mal sabiam eles, mas no banco de trás, junto do menino Tyler e ali com Joshua, eles me levavam junto e eu estava presente e pronta para tudo que havia de vir.

A Car, A Torch, A DeathOnde histórias criam vida. Descubra agora