Eu assisti enquanto Josh dormia. Tão calmo, tão solene... e tão largado! Era engraçado, bonito de ver a despreocupação e sua última noite de sono, sua última vez tendo que acordar. Eu olhei para o colchão no chão, e lá estava Tyler que incrivelmente conseguia estar mais largado que Josh. Nesse momento eu lembrei da noite anterior. Muito intrigante como Tyler me viu, eu senti uma ligação forte com ele. Toquei meu rosto e lembrei do calor que ele me passou, um calor que queimava forte e ao mesmo tempo era tão perigoso, inseguro. Olhei para a minha mão que ele puxou, a luz do dia começava a atravessar a janela e ela passava direto por mim. Minha pele era esmaecida e quase transparente.
Josh começou a acordar lentamente enquanto Tyler dormia como uma pedra. Calmamente ele foi abrindo os olhos e se sentando na cama, cara amassada e cabelo vermelho mais ainda. Eu preferia o azul, me trazia paz. A luz do dia nublado abria caminho fracamente quarto a dentro. Quando Josh ia se levantando ele olhou para a janela e então diretamente para mim. Normalmente ele piscaria, esfregaria os olhos e iria para o banheiro como sempre fazia, mas não desta vez, ele ficou ali me encarando. Ele se aproximou lentamente, eu continuei parada ali na esperança de que fosse apenas impressão minha, mas não, ele veio levantou o braço direito e com a palma de sua mão ele tocou meu rosto. Dessa vez foi diferente. Quando Tyler me tocara eu senti um calor, um fogo descontrolado e inseguro, com Josh não. O garoto vermelho tinha um fogo que tomava tudo e trazia conforto.
- Eu te vejo - ele finalmente falou - a garota de preto... - sua voz era baixa e fraca, logo não incomodaria a Tyler. Se bem que acho que nem uma terceira guerra mundial o faria - Tyler não estava delirando... - ele sorriu e seus olhos encheram-se de lágrimas - não estava...
Eu não tinha o que dizer. Sentia que finalmente entendia a ambos, o porque se apoiavam um no outro, o que eles tinham ia muito além do simples acaso do destino e da amizade, o fogo que queimava instável e descontrolado em um era compensado pelo afago e segurança do outro.
Entendi ali minha missão. Era estar com eles naquele último dia, deixar claro de que deviam se despedir. É duro ter que se despedir das coisas, mas acredito que é muito pior quando não o podemos fazer.Josh estava ali olhando pra mim enquanto eu o admirava. Os humanos são seres tão curiosos, de sentimentos fortes e oscilações tão sutis...
Ele tirou a mão de meu rosto e passou os dedos pelo entorno dos cachos que meu cabelo formava, o calor de sua mão ainda estava em minha pele.- existência tão delicada - ele olhou para sua própria mão que passava pelas curvas do meu cabelo. Ele não parecia assutado, muito pelo contrário - você é quase como um holograma, mas eu posso te tocar
Ele sorriu com o pensamento, mas logo o sorriso se desmanchou, ele puxou a própria mão para junto de si e seus olhos decaíram. Ele começou a pensar nas possibilidades, se eu era real, quem ou o que eu era? Ele começou a juntar as peças e logo seus olhos profundamente castanhos me encararam novamente. Ele estava encarando seu inevitável encontro, ele sabia disso. Ele ia me perguntar mas eu já o respondi com a mesma voz calma que falei com Tyler.
- ainda não é chegada a hora, falta pouco. Apenas se despeça, viva suas horas eu os esperarei ao pé do vale como o combinado, okay?
Ele sorriu e fez que sim com a cabeça. Eu levantei minha mão em direção a um tufo vermelho rebelde amassado e o juntei com o resto do cabelo dele. Me senti tentada a tocar em seu rosto, até estiquei os meus dedos para sentir seu calor, mas me detive. Empatia tinha limites para um ser como eu.
Josh sorriu para mim e então fechou os olhos fortemente e eu me senti quase como desaparecer, me senti não mais visível. Ele abriu seus olhos e foi notório que ele não mais me via. Ele passou os dedos no cabelo e seguiu sua rotina.
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A Car, A Torch, A Death
FanficQuando o que é certo ou errado deixa de existir e a única escolha é a que traga menos sofrimento. Uma amizade, que resiste anos e realidades de uma mente doente, pode ser levada ou quebrada por aquilo que vivemos em função e sabemos que é a nossa ún...